«Projeto Marega» vai contar relação entre Japão e Santa Sé e fazer «memória respeitosa» sobre acontecimentos
Cidade do Vaticano, 1 mar 2022 (Ecclesia) – O cardeal José Tolentino Mendonça disse hoje que os documentos Marega, que contam a história da evangelização do Japão e pertencem à Biblioteca Apostólica Vaticana (BAV), são “fundamentais” para “reconstruir” esse período e mostram “retrato da sociedade japonesa”.
“Os documentos preservados no Fundo Marega são fundamentais para reconstruir a história do cristianismo japonês. Mas o seu significado histórico vai muito além desse quadro. A documentação produzida constitui um retrato variado da sociedade japonesa na era pré-moderna. Ao abrir as coleções arquivísticas, modernas e contemporâneas, à investigação de pesquisadores, os arquivos apostólicos estão a dar uma contribuição não desprezível ao estudo das relações entre o Japão e a Santa Sé”, afirmou o responsável pela biblioteca e arquivo da santa sé, durante uma conferência de imprensa esta manhã, no Vaticano.
Cerca de 14 mil documentos, que datam do período entre 1603 -1868, foram objeto de estudo, restauração e catalogação em parceria com o Instituto Nacional Japonês de Humanidades e estão agora digitalizados e disponíveis para consulta online.
Os arquivos foram recolhidos pelo padre salesiano Mario Marega na década de 30 do século XX e em 2013, iniciou-se o «Projeto Marega», maior projeto de cooperação cultural realizado pela Biblioteca nos últimos anos.
“O projeto envolveu a reorganização do material, sua conservação e a restauração de parte dele devido às condições precárias em que foi coletado por Marega, a digitalização integral em alta definição como parte do projeto de digitalização dos oitenta mil manuscritos do Vaticano, o estudo e catalogação de documentos e a elaboração de uma base de dados que permitisse o acesso a documentos individuais e sua descrição”, explicou o prefeito da BAV, D. Cesare Pasini.
O responsável deu conta que a colaboração “não vai ficar por aqui” uma vez que vão continuar os contactos com os Institutos japoneses.
“Trabalhar juntos nos documentos que testemunham uma perseguição que durou dois séculos e meio, foi possível construir uma experiência comum, que resultou numa troca de habilidades, que se ampliou e se aprofundou no conhecimento e estima mútuos”, destacou o prefeito da Biblioteca Vaticana sobre a colaboração.
A BAV detém o “maior arquivo feudal preservado fora do Japão” permitindo estudar as relações entre o Japão e a Santa Sé.
“A cultura permite-nos tecer relacionamentos e tratar até as questões mais delicadas ou espinhosas com subtileza e precisão. Mesmo onde a história causou feridas ou contrastes conhecidos ou opostos entre si, podemos construir compreensão e aceitação, harmonia e respeito, pesquisando e investigando, explicando e contextualizando, fazendo uma memória respeitosa de tudo e de todos. E conhecemos ainda melhor a vida dos povos”, sustentou D. Cesare Pasini.
LS