Cuba: Papa encerra visita centrada na reconciliação e na mudança

Francisco elogiou resistência da Igreja Católica, projetando o seu papel no pós-castrismo

Santiago, Cuba, 22 set 2015 (Ecclesia) – O Papa Francisco encerrou hoje a sua primeira visita a Cuba, iniciada no sábado, após ter passado pelas cidades de Havana, Holguín e Santiago onde deixou mensagens centradas na reconciliação e na mudança.

Sem nunca criticar diretamente o regime comunista, Francisco aludiu por várias ocasiões às “feridas” e dificuldades do povo cubano, recordando também todos os que saíram da ilha.

Na homilia da Missa que reuniu cerca de 200 mil pessoas na Praça da Revolução, em Havana, o Papa falou dos mais frágeis e necessitados, advertindo os cubanos para os perigos de “projetos que podem parecer sedutores” mas acabam por desinteressar-se das “pessoas de carne e osso”.

Francisco sublinhou que o serviço ao próximo “nunca é ideológico”, porque procura o bem de pessoas concretas e não de ideias.

Em várias ocasiões, as intervenções papais ligaram a identidade cubana ao catolicismo, desejando que este possa ter um papel de relevo nas transformações em curso na ilha.

Por isso mesmo, junto de milhares de jovens, em Havana, desafiou as novas gerações a construir a “amizade social” e “procurar o bem comum”, com “corações abertos, mentes abertas”, que não se fechem em “ideologias” nem rejeitem o diálogo por causa de diferenças.

Ao chegar a Cuba, o Papa elogiou a “normalização” das relações diplomáticas com os Estados Unidos da América, apelando ao aprofundamento do diálogo político, “em favor da paz e do bem-estar dos seus povos, de toda a América, e como exemplo de reconciliação para o mundo inteiro”.

Já no Santuário de Nossa Senhora da Caridade, padroeira de Cuba, rezou pela “reconciliação” do país e recordou a diáspora cubana.

“Mãe da Reconciliação, reúne o teu povo disperso pelo mundo. Faz da nação cubana um lar de irmãos e irmãs, para que este povo abra de par em par a sua mente, o seu coração e a sua vida a Cristo, único Salvador e Redentor”, disse.

Em Holguín, o Papa elogiou o “esforço e sacrifício” da Igreja Católica para preservar a sua identidade e ação na sociedade cubana, mesmo perante a falta de templos e sacerdotes.

Francisco sublinhou em particular o trabalho nas chamadas «casas de missão», que permitem a muitas pessoas “ter um espaço para a oração, a escuta da Palavra, a catequese e a vida comunitária”.

Já no último dia da visita, o primeiro pontífice sul-americano da história afirmou que a Igreja Católica propõe uma “revolução” que passa pelo serviço ao próximo e o diálogo, depois de aludir às “dores e privações” da história do país, sublinhando que estas dificuldades não conseguiram “extinguir a fé” nem apagar a “alma do povo cubano”.

Francisco encontrou-se com o presidente Raúl Castro, em privado, bem como com o seu irmão, Fidel Castro, longe das câmaras, privilegiando celebrações litúrgicas e momentos de oração no seu programa de quatro dias, acompanhadas por centenas de milhares de pessoas.

Raúl Castro marcou presença nas três Missas e acompanhou Francisco no aeroporto internacional de Santiago, onde decorreu a cerimónia oficial de despedida, e vai voltar a encontrar-se com o pontífice argentino esta sexta-feira, na sede da ONU.

A viagem ficou marcada pela detenção de alguns dissidentes que, alegadamente, terão sido impedidos de ver o Papa.

OC

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Agência ECCLESIA

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