Manifestações nas ruas gritam «Temos fome», «Liberdade» e «Abaixo a Ditadura», acusam escassez de alimentos e medicamentos
Havana, 14 jul 2021 (Ecclesia) – Os bispos católicos de Cuba reagiram às manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas, contra a escassez de alimentos e medicamentos, pedindo o fim dos confrontos e criticando a “imobilidade” que prolonga os problemas.
“Neste momento, como pastores, preocupamo-nos que a resposta a essas reivindicações seja a imobilidade que contribui para dar continuidade aos problemas, sem resolvê-los. Não só vemos que as situações pioram, mas também que caminhamos para uma rigidez e endurecimento de posições que podem gerar respostas negativas, com consequências imprevisíveis que nos prejudicariam a todos”, afirma o episcopado cubano, num comunicado publicado na sua página na Internet.
“Não se chegará a uma solução favorável por imposições, nem por apelos ao confronto, mas quando se exerce a escuta mútua, se procuram acordos comuns e se dão passos concretos e tangíveis que contribuem, com a colaboração de todos os cubanos sem exclusão, para a construção da Pátria ‘com todos e para o bem de todos’”, acrescentam os responsáveis.
Os cubanos estão, desde domingo, a sair à rua em manifestações com reivindicações que gritam «Temos fome», «Liberdade» e «Abaixo a Ditadura», por causa da crise económica, que agravou a escassez de alimentos e medicamentos, e obrigou o governo a cortar a eletricidade durante várias horas por dia.
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, em resposta, pediu no domingo aos seus apoiantes, para saírem às ruas, prontos para o “combate”, em resposta às manifestações que aconteceram contra o Governo em vários pontos do país.
Os bispos cubanos reconhecem que a realidade não pode ser ignorada e relatam que “apesar dos riscos de contágio da Covid-19”, milhares de pessoas saíram às ruas de cidades e vilas de Cuba, “protestando publicamente, expressando seu desconforto pela deterioração da situação económica e social que atravessa nosso país”.
“Entendemos que o Governo tem responsabilidades e tem procurado tomar medidas para amenizar as referidas dificuldades, mas também entendemos que o povo tem o direito de expressar suas necessidades, desejos e esperanças e, por sua vez, de expressar publicamente como algumas medidas que têm foram levados a sério e afetam a população”, pode ler-se.
Numa mensagem dirigida a “todos os cubanos de boa vontade”, assinada no último dia 12, o episcopado sublinha que “violência gera violência” e que a agressividade “abre feridas e alimenta ressentimentos para o amanhã que custarão muito trabalho superar”.
“Convidamos a todos a não contribuir para a situação de crise, mas com serenidade de espírito e boa vontade, exercitar a escuta, a compreensão e a atitude de tolerância, que leva em conta e respeita o outro para procurarmos juntos caminhos de uma solução justa e adequada”, apelam os bispos.
As manifestações de apoio têm acontecido pelo mundo, com protestos em frente à embaixada cubana no México, nas ruas da Florida, nos Estados Unidos da América, onde reside uma grande comunidade cubana, e também em Roma.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, em declarações à Lusa, pediu respeito pelo direito à manifestação em Cuba e o fim das sanções norte-americanas ao país, para tentar diminuir a crise económica.
“A posição de Portugal é muito simples: nós esperamos que a situação em Cuba evolua de forma positiva e que sejam respeitados os direitos das pessoas, entre os quais, do nosso ponto de vista, se inclui o direito a manifestações e reuniões pacíficas”, afirmou o chefe da diplomacia portuguesa.
Segundo a Lusa, as autoridades não divulgaram ainda um número oficial de detenções, mas existe uma lista provisória elaborada por ativistas locais que conta já com 65 nomes só em Havana.
LS