Maria de Fátima Magalhães
Pelas ruas de Jerusalém e pelas nossas há “Sinais” de morte e Ressurreição…
Na Páscoa cantamos Aleluia, o louvor ao Amor Maior, que “rola a pedra” do sepulcro do nosso medo, das nossas tristezas, e nos faz sair do “túmulo” da passividade e partir, “em Missão”, a anunciar com as palavras, e, sobretudo, com a própria vida a Ressurreição, mesmo que isto implique sair em socorro dos “gritos” dos mais débeis, dos pobres e excluídos das nossas ruas e nos deixarmos interpelar pela realidade à Luz da Palavra de Deus. A Galileia onde Jesus Ressuscitado se manifestou aos Discípulos é agora a nossa realidade, o meio onde nós estamos.
Não basta que acreditemos que Jesus ressuscitou, que anunciemos a “Sua Ressurreição” em cada Eucaristia. É lugar comum dizermos que Cristo é presença ressuscitada na Igreja, na Palavra, na Eucaristia, nos sacramentos em geral, mas nem sempre testemunhamos essa presença ressuscitada em nós, nos nossos gestos, no ajudar a “rolar das pedras” dos sepulcros dos medos, do egoísmo, dos individualismo e provar com a vida que o Cristo em quem acreditamos é um Cristo encarnado, que assume o pequeno e se deixa comover perante o sofrimento, que revela a misericórdia de Deus e faz nascer a Esperança e a alegria a quem se enganou nas “noites do mundo” e, como os discípulos de Imaús, precisam que alguém se sente à mesa com eles, partilhe o pão, com eles e dê luz nova às suas vidas.
Cristo morreu e ressuscitou em Jerusalém e morre e ressuscita hoje em Tóquio, Roma, Madrid, … Lisboa e Elvas… aqui, onde vivo. Uma cidade pequena, fronteiriça, com sinais de morte mas também com sinais de ressurreição na vida de muitos voluntários cristãos que entenderam que a Fé se torna credível quando saímos ao encontro dos outros. Nós somos o Cristo de hoje, as nossas dores são as suas flagelações a nossa Esperança é a Sua Ressurreição. As nossas ruas são as ruas por onde Ele passa. Todas as ruas, todos os becos, são terra santa, terra sagrada, caminhos onde se vivem os Mistérios insondáveis de Deus.
O MTA, Movimento Teresiano de Apostolado, movimento de leigos cristãos, que engloba crianças, jovens e adultos e com uma presença muito significativa, em Elvas, assenta sua espiritualidade na Espiritualidade Teresiana, que considera a pessoa humana como “feita à imagem de Deus, habitada por Ele é de grande dignidade, formosura e capacidade, e capaz de Deus” (Teresa de Jesus)
O nosso campo de apostolado é, segundo os nossos estatutos, o próprio ambiente e, atendo ao nosso meio com tantas carências, exclusão social e “tráficos” de toda a ordem fomos desenvolvendo lentamente
O Projeto “Prevenir & Remediar”, com vários âmbitos de empenhamento social, precisamente para ajudar as pessoas a redescobrir a sua dignidade de pessoa humana habitada por Deus. Com ele o MTA testemunha, todos os dias, que a morte e ressurreição de Cristo é o primeiro capítulo de uma longa história que nós perseguimos agora nas nossas ruas, nas nos nossos bairros, e em todos os lugares onde se joga a vida humana.
Nos “Passos da noite” – presença, noite dentro junto de marginalizados, reconhecemos Cristo em agonia em tantas fragilidades humanas: tráficos de desilusões, humilhações, a dignidade humana violada, a vida desrespeitada no corpo humano, o medo, a exploração laboral, a violência doméstica e as crianças em risco. Ao mesmo tempo descobrimos nesses sofredores desejos de mudança a mesma sede de felicidade, que todos procuramos, mas que a buscam no lugar errado. Experimentamos sinais de ressurreição quando à nossa chegada, na escuta e nos nossos gestos, a nossa presença lhes desperta a Esperança de mudança, de libertação e recuperação. Percebem a presença de Jesus vivo na nossa presença sem julgar, no sorriso que se oferece, na refeição quente que levamos, nas roupas, nos medicamentos nas soluções de apoio médico, no nosso “tráfico de influências” para ajudar na procura de um trabalho digno e na procura de apoios a que têm direito. Não os substituímos no seu trabalho pessoal, mas dizemos “estamos aqui se quiseres mudar”. Que Alegria Pascal sentimos quando os vemos passar para a “outra margem” e os vemos integrados na sociedade sem precisarem de se esconder e se tornam eles próprios também voluntários para ajudar a “ressuscitar outros”
Não é um trabalho fácil. Temos de ter a coragem da denúncia quando há crianças em risco quando a violência doméstica é visível, mas sentimos que estamos a deixar acontecer Páscoa nas lágrimas que enxugamos, nos sorrisos que fazemos surgir, quando despertamos a vontade de viver e de caminhar a quem há muito estava parado nas garras do medo.
No “Mateus 25”, no Estabelecimento Prisional de Elvas, todos os sábados de manhã experimentamos que Jesus “caiu”, mais uma vez, naqueles rapazes, todos muitos jovens, que entraram nessa semana que vieram de Espanha, de Lisboa, da margem Sul, de Marrocos… que exploraram e foram explorados mas descobrimos sinais de ressurreição quando não nos pedem a esmola da piedade, mas sim querem que se acredite neles, na sua regeneração e reinserção social. Ressuscitam quando assumem que perderam a liberdade física mas não a sua dignidade que cometeram erros mas não são um erro, que Jesus não arruma ninguém em prateleiras.Com eles aprendemos a rezar sem fingimento, a assumir os nossos erros, fragilidades e tentações. Ainda na sexta-feira santa passada um me dizia: “Estamos marcados para sempre. Somos delinquentes para toda a vida…Como quer que eu acredite e tenha esperança de ressurreição, se a sociedade se nega a acreditar em nós? Só a irmã me convence que Deus me ama e gosta de mim“
A nossa mensagem tem de ser pois de muita Esperança de ajudar a acreditar que a mudança é possível…Para muitos é na cadeia que escutam, pela primeira vez, que são filhos de Deus. ”Estava preso e visitaste-Me”, diz-nos Jesus. Visitá-Lo numa cadeia é ser cireneu, é amparar nas quedas e é acreditar e fazer acreditar que a mudança é possível.
No “Ajudar famílias porta@porta”, apoio a mais de 400 famílias nas suas próprias casas descobrimos Jesus “carregando a cruz” nas famílias disfuncionais, e monoparentais onde as crianças sofrem, onde a mulher é violentada, maltratada, onde o desemprego é real os idosos experimento a solidão diária, mas Ele vai ressuscitando quando nos envolvemos nos seus problemas, nos preocupamos para que não passem fome, para que as crianças vão à escola e tantos voluntários limpam o Seu rosto ajudando na procura de emprego, ajudando a gerir a economia doméstica, a utilizarem estratégias de poupança ajudando a pagar hoje uma luz, amanhã uma renda, depois um medicamento, oferecendo o carro para deslocações, procurando ser presença educativa envolvendo-as na procura de soluções para que sejam mais pessoas para que ressuscitarem para mais família e mais dignidade.
No Ajudar@Crescer, a funcionar numa dependência cedida pelo Hospital de Elvas, e vocacionado para apoio a mães jovens, solteiras e carenciadas. Jesus ressuscita sempre que essas mães (e são muitas) não cedem à tentação do aborto e deixam que as crianças nasçam pois sabem que com o apoio do MTA não lhes vai faltar o essencial para que cresçam saudáveis como os leites, papas, berços, roupas, medicamentos, afetos e presença e tudo o que as podem tornar felizes. È alegria pascal nas nossas vidas quando na rua uma mãe mostra a sua criança e diz: “Se está aqui é por vossa causa”.
No “coraçãod’ouro”, valência criada neste ano internacional do voluntariado e que tem por objetivo construir pontes entre gerações, levando os jovens do MTA a colmatar a solidão dos idosos visitando-os nas suas residências e inserindo-os nos seus grupos pela amizade. Quando com os jovens visitam as suas casas os escutam as suas histórias, cantam as suas canções, fazem recados ou os levam ao jardim é Cristo que ressuscita.
Toca-me a mim com um bom punhado de leigos coordenar todos estes. Vou passando por todos mas toca-me sobretudo estar à frente dos “Passos da noite”. Nele descubro, todas as noites, a fragilidade e a grandeza do ser humano! A semana Santa de Jesus é a nossa semana santa. A sua ressurreição é a nossa ressurreição Não consigo separar uma da outra há medida que me envolvo, cada vez mais no apostolado das “margens” Descubro em cada pessoa que se levanta do chão que Páscoa é mesmo «passagem» da crise à Esperança, da opressão à Liberdade do egoísmo à Partilha, do comodismo ao Compromisso da morte à Vida nova do pesadelo aos Sonhos de Mundo Novo.
Já não podemos dizer: “Caminhantes não há caminho” Temos e podemos dizer: Caminhante, sim há caminho… e o caminho é Cristo Ressuscitado na tua vida.
Sempre que nos comprometemos com os que mais precisam, os mais pobres e marginalizados, Cristo ressuscita Vivo e Glorioso, dentro de nós, dizendo: “Tudo o que fizestes a um destes mais pequenino foi a Mim”
Maria de Fátima Magalhães stj