Habituados, como estamos, a uma predominância esmagadora de cinema americano (ou europeu de sua influência directa), vê-se sempre com curiosidade qualquer filme de diferente origem ou de estilo mais variado que, apesar de tudo nas nossas salas vão apresentando com limitada frequência. Com Uma total ausência de Portugal, salvo em muitas raras co-produções, chegou a vez de estrear um filme romeno, “A Morte do Sr. Lazarescu “ de Cristi Puiuque.. Como se sabe, embora um tanto para Leste da Europa a Roménia é um país latino o que tratará algumas afinidades com os restantes povos latinos. E a que neste filme se encontra, pelas piores razões, é a sátira ao Serviço Nacional de Saúde, que permite que um doente passe de hospital para hospital, numa peregrinação sem fim, com diagnósticos contraditórios ou recusa de internamento por falta de meios adequados. É o mesmo tema que, há anos, preencheu um sketch de um filme italiano, em ambos os casos com um certo tom satírico mas mais pessimista no caso presente. Cristi Puiu é um realizador quase em início de carreira, sendo este o seu terceiro filme. Trabalhou antes como argumentista, revelando-se agora como um cineasta capaz de dirigir um filme de início a fim, tirando dele as consequências, sobretudo sociais, em função do tema abordado. E sabe fazê-lo com uma correcta conjugação do tom humorístico com o drama que, de facto, envolve o protagonista, conduzido à morte pela ineficiência de um sistema rendido à burocracia e à indiferença pelas pessoas, dando total prioridade ao cumprimento de regulamentos e procedimentos correntes há muito estabelecidos. Lamentavelmente, desconhecemos em Portugal os dois primeiros filmes deste realizador, mas tendo em conta esta primeira entrada em Portugal esperamos que as suas obras futuras nos sejam apresentadas, uma vez que é um autor promissor e com preocupações sociais muito marcadas. Francisco Perestrello