Cristãos na Terra Santa: uma história atribulada

O progressivo desaparecimento das comunidades cristãs no Médio Oriente, em especial na Terra Santa, ofusca, muitas vezes, a sua importância histórica na região, que é precisamente o berço do Cristianismo. De facto, já pelo século V a Palestina era praticamente toda cristã. Ainda hoje, a maior parte dos cristãos da Terra Santa são arábes e consideram-se descendentes dos primeiros cristãos – embora tenham deixado de falar o aramaico e, como resultado das invasões muçulmanas, acabando por ser arabizados, passando a falar o árabe, inclusive nos ofícios litúrgicos. No século VII tiveram início as devastações dos cristãos levadas a cabo pelos sucessivos invasores da Palestina, persas e muçulmanos. Inicialmente houve tolerância para com os cristãos até que chegou ao poder a dinastia egípcia dos Fatimidas, tendo Al-Hakim ordenado, em 1009, a destruição do Santo Sepulcro e a perseguição dos cristãos. A situação ainda se agravou mais com a chegada dos turcos Seljúcidas em 1040, que impedem os cristãos de entrar em Jerusalém. As sucessivas Cruzadas, para a libertação dos Lugares Santos, redundaram num agravamento das condições de vida dos cristãos autóctones da Palestina. A partir de 1831 até 1917, a administração foi saneada e favoreceu-se a liberdade religiosa e as relações com o Ocidente, tendo aumentado a comunidade judaica com a imigração. Após a duas Guerras Mundiais aumentou a presença judaica, ficando constituído o Estado de Israel em 18 de Julho de 1948. A maior parte dos Lugares Santos ficaram em território árabe da Cisjordânia; também aqui estava a grande maioria da população cristã. Nos últimos 40 anos, a percentagem de cristãos baixou de 20% para pouco mais de 2 por cento. Actualmente, existem pouco mais de 150 mil cristãos que têm de enfrentar quotidianamente discriminações no emprego, na escola ou no próprio bairro onde vivem. Belém, que em 1948 tinha 75% de cristãos, agora só tem cerca de 30%. Quem são? Cerca de metade dos cristãos hoje existentes em Israel, são católicos. Dos não-católicos, a maioria são ortodoxos, distribuídos pelos seguintes ritos e tradições: os Greco-Ortodoxos Melquitas, os Arménio-Ortodoxos, os Copto-Ortodoxos, os Etiope-Ortodoxos e os Siro-jacobitas; por outro lado, estão representadas algumas comunidades da Reforma, como a anglicana, a luterana e várias seitas protestantes. Os católicos estão distribuídos por diversos Patriarcados: os mais numerosos são os fiéis do Patriarcado Greco-católico melquita, cerca de 50.000. Há depois fiéis dos restantes Patriarcados orientais, os Siro-católicos e os Maronitas. Para todos estes, o seu Patriarca tem a sede em Antioquia. Existem ainda os fiéis do Patriarcado Babilónico do Caldeus, os fiéis do Patriarcado Arménio-católico e alguns do Patriarcado de Alexandria, de rito copta. Cerca de 27 mil cristãos não pertencem à minoria árabe em Israel e deveriam ser chamados cristãos “de expressão hebraica”. Estas são pessoas de origem judaica, mas que hoje são cristãos – a maioria deles chegou com a maciça imigração de judeus da Rússia e Ucrânia, que entre 1989 e 1993 atraiu a Israel mais de um milhão de pessoas. Em Jerusalém está sediado um Patriarcado Latino, criado por ocasião das Cruzadas, a que pertencem fiéis de rito latino, o utilizado no Ocidente. A este Patriarcado pertence a chamada Custódia da Terra Santa, confiada aos frades Franciscanos, que desde o século XIV atende os peregrinos e conserva para os católicos cerca de 40 santuários. O conflito dos últimos dias chamou a atenção, em particular, para a Igreja Maronita, de rito oriental, que se instalou nas montanhas do Líbano a partir do século VII e está em comunhão com Roma desde o século XII. Tem o seu próprio Patriarca, que utiliza no nome o do Apóstolo Pedro – actualmente o Cardeal Nasrallah Pedro Sfeir. Ao longo dos séculos tem resistido a vários ataques, estando ainda bem presente na memória a guerra de 17 anos que começou em Abril de 1975.

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