Cristãos em risco de desaparecer no Iraque

Assassinatos, raptos, perseguição e violência marcam quotidiano da comunidade católica nos últimos tempos O presidente internacional da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), Hans-Peter Röthlin, olançou um alerta sobre a situação dos cristãos no Iraque, assegurando que “a perseguição dos cristãos chegou a tal ponto que o futuro da Igreja está em perigo”. Num apelo divulgado pela AIS, o seu presidente assegura que “estamos a caminhar adormecidos para o falecimento de uma população cristã, cujos antepassados aceitaram, antes de todos, o Evangelho no século I”. “Imaginem se nos expulsassem dos nossos lares, imaginem se recebêssemos ameaças de morte, imaginem também como nos sentiríamos se as nossas irmãs e filhas fossem forçadas a casar-se com supostos combatentes da Jihad”, prossegue. O apelo relata casos em que aos cristãos é pedido um pagamento de pelo menos cem mil dólares simplesmente por não serem muçulmanos num país islâmico. Os últimos facto têm vindo a confirmar as preocupações de Hans-Peter Röthlin: depois do assassinato do sacerdote caldeu Ragheed Aziz Ganni e de três diáconos em Mossul, é agora a vez do Pe. Hani Abdel Ahad ser raptado. O sacerdote, de 33 anos, continua nas mãos dos seus sequestradores, que já libertaram quatro dos cinco jovens cristãos que tinham levado com ele. A agência AsiaNews afirma que o grupo de sequestradores já teria pedido um resgate ao patriarca Emmanuel III Delly e aos Bispos caldeus, reunidos num sínodo em Al-Qosh, a norte do país. A comunidade caldeia reza na mesma língua que Jesus falava, o aramaico, e sobrevive há 2 mil anos sem nunca ter tido um rei ou um império cristão no território. Vivem no país antes de Maomé e falam a língua local, mas a recente hostilidade de grupos muçulmanos armados desencadeada com a invasão norte-americana já reduziu o número de cristãos para cerca de metade. Os cristãos são alvo dos sunitas e dos xiitas, vítimas de atentados, de sequestros, de pressão para que abandonem os seus lares e da cobrança ilegal do tradicional imposto que os governantes muçulmanos arrecadavam aos seus súbditos não-muçulmanos. A última solução avançada – juntar os cristãos sírios e caldeus num enclave étnico-religioso em Nínive, local onde teriam mais segurança – não encontra apoio nas comunidades. A Igreja nunca foi nacionalista ou étnica, fechada num gueto como o que agora se quer criar. Estes cristãos representam umas das mais antigas comunidades do Oriente, remontando ao século II. Acredita-se que o Apóstolo Tomé, antes de seguir o seu caminho até à Índia, terá deixado na região dois discípulos, Mar Addai e Mar Mari. Da sua pregação nasceu uma Igreja que, nos primeiros séculos do cristianismo, demonstrou uma enorme vitalidade e se espalhou nas regiões que hoje são a Síria, o Irão e o Iraque. As raízes cristãs são testemunhadas por mosteiros e conventos nos séculos V e VI. A chamada Igreja Assíria do Oriente, obteve a autonomia no concílio de Markbata, em 492, com a possibilidade de eleger um Patriarca com o título de “Católico”. Em 1830 o Papa Pio VIII nomeou o “Patriarca da Babilónia dos Caldeus” como chefe de todos os católicos caldeus. A sede deste Patriarcado era Mossul, no norte do Iraque, e seria transferida para Bagdade em 1950, após a II Guerra Mundial. O rito Caldeu é um dos 5 principais ritos do cristianismo oriental e desenvolveu-se entre os séculos IV e VII, antes da conquista árabe. A denominação de “caldeu” prevalece no Ocidente desde o séc. XVII, embora os habitantes da região prefiram a designação “siro-oriental”. As celebrações conservam o uso do aramaico e possuem gestos, espaços e ritmos muito especiais, que remontam ao tempo dos primeiros apóstolos, em alguns casos. A Palavra é proclamada desde o “bema”, uma tribuna situada no meio da Igreja, como sinal de Jerusalém, centro do mundo, onde Jesus ensinou. Este simbolismo indica que o leitor ou o pregador mais não fazem do que transmitir a Palavra recebida do Senhor. A consagração eucarística, chamada “santificação” tem lugar no “santo dos santos”, símbolo do céu, e a comunhão desenrola-se no “gestroma”, um local entre a assembleia e o santuário, como sinal do paraíso. (Com Departamento de Informação da Ajuda à Igreja que Sofre)

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top