Cristãos do Líbano querem partir

Apesar da paz que agora se vive no sul do Líbano, muitos são os cristãos da região que pensam sair do país. A insegurança permanente que se tem vivido nos últimos anos na região, a influência do Hezbollah e o facto de serem já uma minoria entre os muçulmanos xiitas, são os motivos evocados. Entrevistados pelo jornal católico francês La Croix, os habitantes das aldeias cristãs no sul do Líbano manifestaram a sua tristeza pela situação em que agora se encontram. Apesar da chegada das tropas internacionais, que vão monitorizar o cessar-fogo entre Israel e o movimento islâmico Hezbollah, os cristãos libaneses ainda não se sentem em segurança. Um habitante de Rmeich, uma aldeia cristã próxima da fronteira com Israel, afirma: “Nasrallah [o líder do Hezbollah] decidiu-se por uma guerra que nós não queríamos. Vivemos aqui como numa prisão”. “Estamos tristes, porque não queremos pagar o preço de uma guerra pela qual não fomos responsáveis. Não temos inimigos em particular. O nosso inimigo são todos os que querem destruir a nossa existência no sul”, desabafa uma jovem cristã da aldeia de Aïn Ebel. Mas é também o Hezbollah, alegadamente com ajudas vindas do Irão e da Síria, que está a financiar a reconstrução das casas nas aldeias destruídas pelos bombardeamentos israelitas. O dinheiro é distribuído às famílias pelo partido do cristão Michel Aoun que assinou recentemente um acordo com o Hezbollah. Os cristãos queixam-se de estar a receber menos dinheiro que os xiitas para reparar as suas casas. Um cristão explica que “isso é normal, porque somos uma minoria” e lembra que as relações com os xiitas costumavam ser boas. Mas “as coisas mudaram” com a crescente influência do Hezbollah. “Nascemos aqui e queremos viver aqui. Mas cada vez mais gente quer partir e eu não os posso impedir. De cinco em cinco anos há uma nova guerra e a vida é cada vez mais difícil”, lamenta o Padre Hanna Seiman, da paróquia de Aïn Ebel. O arcebispo maronita de Tiro, Mons. Choukrallah Hajj, explica que na região fronteiriça “somos alguns milhares de cristãos no meio de um mar xiita” e refuta as críticas pelo facto de os cristãos estarem a receber dinheiro do Hezbollah. “Nós fomos abandonados e colocados entre a espada e a parede, entre Israel e o Hezbollah. Não recebemos nenhuma ajuda e agora querem que as pessoas recusem esse dinheiro?”, pergunta o prelado. Sentindo-se ameaçados e isolados, muitos cristãos libaneses pensam partir. No país existirão actualmente cerca de 1,4 milhões de cristãos, na sua maioria maronitas, que representam 40% da população. No Líbano, na década de trinta, os cristãos chegaram a ser maioritários (55%). Na diáspora estarão já cerca de 6 milhões de pessoas.

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