Henrique Pinto, diretor executivo da CAIS, diz que é preciso traçar um «caminho» onde a pessoa esteja acima do «lucro» e de «determinados propósitos ideológicos»
Lisboa, 13 nov 2012 (Ecclesia) – O diretor executivo da CAIS, instituição particular de apoio aos sem-abrigo, reconhece que a crise está a provocar alterações nos hábitos económicos dos portugueses, mas considera que a verdadeira mudança ainda está por cumprir.
Em entrevista integrada na edição de hoje do Seminário ECCLESIA, Henrique Pinto diz duvidar que a contenção e o controlo que, segundo os últimos estudos socioeconómicos tem vindo a marcar a vida das famílias, se mantenha “amanhã, com uma conjuntura diferente”, mais favorável.
“O que falta, e que não é de esperar do público adulto de hoje, é enraizar esta consciência, e isso aprende-se em casa e nas escolas”, aponta o docente universitário, que não vê “matérias criadas para preencher essa necessidade”.
Para o líder da CAIS, que só no último ano ajudou centenas de pessoas desfavorecidas na procura de casa e emprego, mais do que “discursos sobre a necessidade de rever a relação das pessoas com a economia”, é preciso traçar definitivamente um “caminho” onde a pessoa esteja acima do “lucro” e de “determinados propósitos ideológicos”.
Henrique Pinto dá o exemplo da discussão que está a decorrer à volta do Estado Social, quando o “imperativo” deveria ser “servir as pessoas”.
Uma análise promovida em outubro de 2012 pelo Consumer Inteligence Lab (Grupo C) sustenta que a crise está a ter um grande impacto em “todas as decisões quotidianas” das pessoas e já provocou “um conjunto de mudanças de estilo de vida”.
O organismo especializado na investigação das últimas tendências de mercado e comportamentos de consumo, criado há três anos com o apoio de Augusto Mateus, antigo ministro da Economia, Industria, Comércio e Turismo, aponta como exemplos a “hipersensibilidade ao preço e a rejeição de compromissos de mais largo prazo, sejam eles compras a crédito ou cláusulas de fidelização”.
As pessoas procuram cada vez mais alternativas económicas de compra dos produtos, “como o mercado em segunda mão ou a pequena economia de subsistência caseira”.
Ao nível da poupança, a utilização da “bicicleta” em vez do “carro ou dos transportes públicos” e o florescimento das “hortas urbanas” são outros fenómenos identificados.
O pensamento financeiro de grande parte das famílias aponta muito mais para o futuro e há uma maior atenção ao “desperdício” e à importância da “reciclagem”, refere o Grupo C.
Para o diretor geral da CAIS, a crise deve levar também a uma reconfiguração de processos nas instituições particulares de solidariedade social, sobretudo no que diz respeito a uma “gestão melhorada”.
“As IPSS não podem continuar sempre de mãos estendidas na direção do Estado ou do público, sem fazerem nada para se tornarem mais autossustentáveis e independentes”, conclui.
JCP