Comunidades mais antigas chamadas a participar ativamente na integração da nova vaga
Lisboa, 03 jul 2012 (Ecclesia) – Integrar a nova vaga de emigração motivada pela crise, encontrar soluções para as gerações mais velhas e contrariar a falta de recursos humanos são desafios que se apresentam atualmente à Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM).
Estes temas estiveram hoje em debate, durante uma reflexão sobre “a realidade emigratória atual na Europa”, inserida no Encontro Internacional da Pastoral das Migrações, que está a ser acolhido pelo Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide, perto de Lisboa
O segundo dia do evento, que tem como objetivo assinalar os 50 anos da OCPM, foi preenchido com testemunhos de responsáveis pastorais que atuam junto das comunidades portuguesas radicadas na Suíça, Holanda, França, Alemanha e no Luxemburgo.
Para o coordenador da Pastoral de Língua Portuguesa em França, padre Geraldo Finatto, a “nova vaga de emigração” motivada pelas dificuldades económicas e sociais que estão a afetar Portugal é um apelo a “estar mais atento no acolhimento e na solidariedade”.
Por outro lado, trata-se de uma “ocasião única para convidar os emigrantes de primeira geração a assumirem a sua responsabilidade na integração, acompanhamento e evangelização dos que chegam”.
A ação da OCPM, num país que conta com cerca de “um milhão de portugueses”, caracteriza-se também por uma grande ligação com a Igreja Católica local.
Exemplo disso mesmo foram os 150 padres franceses que “vieram a Portugal conhecer a cultura e a língua portuguesa”, para melhor poderem acompanhar as comunidades lusófonas.
“Só todos juntos é que poderemos formar uma Igreja credível, que propõe o Evangelho”, sublinhou o padre Geraldo Finatto.
Na Suíça, hoje com cerca de 250 mil emigrantes portugueses, na sua maioria espalhados pela parte francesa e alemã, um dos principais desafios tem a ver com a busca de soluções para as gerações mais velhas, que se estão a aproximar da reforma.
Segundo o padre Aloisio Araújo, coordenador nacional da Pastoral das Migrações em território helvético, será preciso montar nos próximos 10, 20 anos, uma estrutura de apoio que garanta a “assistência aos idosos”, sobretudo ao nível de “serviços hospitalares” e da “integração familiar”.
Quanto aos que chegam de novo, podem contar essencialmente com o apoio de “centros de acolhimento, de evangelização e de partilha de fé”, valências que procuram manter viva a matriz católica que caracteriza o emigrante português.
A falta de recursos humanos, mais concretamente de sacerdotes e assistentes espirituais, é uma realidade transversal a praticamente todas as capelanias portuguesas espalhadas pela Europa.
O padre Bernardo den Boher, da capelania portuguesa da Holanda, referiu que numa comunidade com cerca de 30 mil emigrantes de origem lusófona (portugueses, cabo-verdianos, brasileiros, entre outros) existem apenas “dois padres que falam a língua portuguesa”.
“Como vai ser o futuro sem recursos humanos?”, questionou o sacerdote.
Uma das soluções, apresentada pelo padre Aloísio Araújo, será “abrir as comunidades migrantes para a presença de leigos e agentes pastorais”.
Outra das opções, comum a todos os intervenientes, passará por uma maior aposta na formação dos sacerdotes, a quem deve ser pedida uma “capacidade de trabalho multicultural”.
Destaque ainda para a intervenção do delegado da OCPM na Alemanha, padre Manuel Janeiro, que deu conta do dilema que atinge hoje a missão dos responsáveis portugueses pelas migrações naquele país.
“Quanto mais os emigrantes portugueses se integram na sociedade alemã, mais se afastam da Igreja”, realçou.
O Encontro Internacional da Pastoral das Migrações vai prosseguir até sexta-feira, com a participação do presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga.
JCP