Bispo de Lamego alerta o Governo para o perigo de desperdiçar o sacrifício do povo em «estruturas intermédias»
Lamego, Viseu, 10 set 2012 (Ecclesia) – O bispo de Lamego espera que o aumento das contribuições para a Segurança Social, anunciado pelo Governo, seja acompanhado também por uma uma maior ajuda e assistência “a quem mais precisa”.
Em declarações concedidas à ECCLESIA, D. António Couto recorda “o povo” a quem está a ser pedido “muito” espírito de sacrifício e alerta para o perigo de todo esse esforço financeiro poder ficar pelo caminho.
“Por vezes temo que as nossas estruturas intermédias, que podem ser o Governo, os próprios ministros e outras estruturas, se entretenham com o dinheiro e não resolvam rapidamente, sem calculismos nem outras desconformidades, os problemas do povo”, realça o prelado.
Para aquele responsável, é fundamental que os “impostos” sejam “bem aproveitados” e não sirvam apenas para “engordar os gordos”.
O atual presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização lançou este desafio ao executivo de Pedro Passos Coelho no último sábado, durante a celebração da festa de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da cidade de Lamego.
D. António Couto destacou o exemplo de Maria, Mãe de Deus, “símbolo de uma cultura nova, de proximidade”, onde não há lugar a “desperdícios”.
“Tudo o que uma mãe arranja é para os seus filhos”, salientou o bispo lamecense, considerando que o Governo tem a responsabilidade de proceder da mesma forma junto das populações mais carenciadas.
No que diz respeito à situação da Diocese de Lamego, a Igreja Católica local tudo tem feito, junto da Cáritas diocesana, para que o dinheiro que chega “seja rapidamente encaminhado para as pessoas que vivem em piores circunstâncias”.
Para além do tempo de resposta, a maior dificuldade passa muitas vezes por “descobrir” onde é que estão localizados os casos mais complicados, “porque as pessoas têm vergonha de vir pedir ajuda”, reconheceu o prelado.
Na última sexta-feira, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho anunciou ao país que os trabalhadores do setor privado vão passar a descontar 18 por cento do seu ordenado para a Segurança Social, mais sete por cento do que acontecia até agora.
A subida será igualmente aplicada aos trabalhadores do sector público, substituindo assim o corte de um dos subsídios aplicado há cerca de um ano.
O chefe do Governo adiantou ainda que, em contrapartida, a contribuição exigida às empresas irá descer para os 18 por cento, contribuindo assim para o aumento dos recursos daquelas entidades, nomeadamente ao nível do investimento e da criação de emprego.
PTE/JCP