Em tempos de crise, os imigrantes são muitas vezes “os primeiros a serem descartados”, quando o trabalho e as fontes de subsistência são afectados negativamente pela recessão económica. Para D. António Vitalino, “é em tempo de crise que se demonstra aquilo que somos, amigos e irmãos solidários nas alegrias e tristezas, na dificuldade e penúria, ou inimigos e adversários, pensando que o bem de todos impossibilita o nosso”. O Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana falava na missa do Dia Mundial do Migrante e Refugiado, na igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Uma celebração que encerrava o IX Encontro de Animadores Sócio-pastorais das Migrações, que, durante 3 dias, debateu as oportunidades de missão que emergem da condição migrante das sociedades. Que tem na sua origem o facto de existir “muita gente a morrer de fome ou a viver em condições subhumanas e por isso anda pelo mundo à procura de um trabalho justamente remunerado”. A esses é preciso dar atenção, como também os que “são obrigados a fugir das suas terras, para evitar a prisão, os maus tratos e a própria morte, vivendo como refugiados noutros países”. Com todos é necessário trabalhar, pela necessária “restituição da sua dignidade de seres humanos, que o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo confere”. Para D. AntónioVitalino, é sobretudo necessário não ficar “calados e inertes perante a exploração dos estrangeiros na nossa sociedade, a quem muitas vezes é roubada a sua dignidade, separando-os das suas famílias, não retribuindo com justiça o seu trabalho ou explorando os seus corpos como mercadoria de prazer dos nossos vícios”. Por causa da crise Os trabalhos do Encontro, que reuniu mais de meia centena de líderes de estruturas eclesiais que trabalham com os migrantes, ficou marcado pelos momentos de crise que atravessa o mundo, nomeadamente a Europa. Crise não apenas económico-financeira, mas também social e demográfica. Pelas estimativas da União Europeia (UE), se a Europa fechar as entradas ou se as saídas forem iguais às entradas, a UE diminui a população já em 2020. Para crescer a população na Europa, a imigração é inevitável. Até esse período, têm de entrar 2 milhões de pessoas de pessoas por ano. E para o rejuvenescimento da população, é preciso acolher 3 milhões de pessoas por ano. Estatísticas apresentadas Jorge Malheiros, investigador do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, que afirmou a inevitabilidade, apesar de tudo, do envelhecimento da população na Europa. “Os imigrantes são muito importantes para o crescimento demográfico, mas insuficientes para inverter o processo de envelhecimento da população, embora possam atenuá-lo”, referiu Jorge Malheiro, afirmando que “os próximos anos serão com mais imigrantes e também com mais idosos”, desafiando os presentes a se “adaptarem a sociedades envelhecidas”, também em Portugal. É, no entanto, a crise económico-financeira que mais atinge as comunidades migrantes. Mesmo sem dados rigorosos, os Secretariados Diocesanos da Mobilidade Humana e as Caritas Diocesanas têm verifica um crescimento de imigrante que procuram devido à perda do posto de trabalho. Frei Francisco Sales diz mesmo que “há gente a deixar o país” porque o desemprego cresce e os imgrantes “são as primeiras vítimas”. Eugénio Fonseca, Presidente da Caritas Portuguesa, afirma que esta situação obriga a “reforçar o acolhimento”. Na análise da crise que percorre as sociedades Ocidentais e no que ela atinge o mundo da mobilidade, Guilherme de Oliveira Martins defende a urgência de se desenvolverem “políticas de cooperação para o desenvolvimento” para que o fenómeno migratório não aumente o desemprego nos países de acolhimento e se possam encontrar soluções nos países de origem. Para Guilherme de Oliveira Martins, o problema do desemprego das populações imigrantes tem de ser resolvido também nos países de origem, através da cooperação, sobretudo com os países africanos por ser o continente com ausência de índices de desenvolvimento. Por outro lado, afirma a necessidade de estar atento ao “aproveitamento” da crise por parte de empresas para “não assumirem as suas responsabilidades sociais”, gerando o desemprego. “Estes momentos são de maior responsabilização social”, referiu o Presidente do Tribunal de Contas. No seu documento conclusivo, os participantes no IX Encontro de Animadores Sócio-pastorais das Migrações afirmam a necessidade de fazer destes momentos de crise uma oportunidade também para os migrantes. Para além de políticas que fomentem a confiança económica, a coesão social e a justa distribuição da riqueza, interessa também “adequar hábitos, comportamentos e investimentos aos recursos disponíveis, sem comprometer gerações futuras e abandonando a lógica da ilusão”; na pastoral da Igreja, “criar, a partir da experiência dialogante da diversidade e da riqueza da comunicação inter-étnica, novas metodologias de partilha da fé em Jesus Cristo”. Na escola de S. Paulo, os agentes sócio-pastorais das migrações afirmam a necessidade de, por um lado, “fazer das diferenças nas comunidades uma ocasião de evangelização, a exemplo de São Paulo, na atenção e valorização recíprocas” e de “partir ao encontro dos tecidos sociais de cada tempo e aí deixar a proposta do Evangelho, nas estruturas e organizações da sociedade”. Evitar o “culturalismo” “Apoio e formação” são condições para quem deseje acolher sadiamente os imigrantes, nomeadamente numa ocasião em que as migrações são um fenómeno “jamais visto” nas sociedades europeias. Ele é necessário à Europa, embora directivas comunitárias acentuem as limitações à sua entrada na Europa. Uma certeza comunicada aos participantes no IX Encontro de Animadores Sócio-pastorais das migrações por D. Carlos Azevedo, que recordou também os tempos de recessão económica como “ameaça” às populações migrantes, por causa da diminuição dos postos de trabalho e por estarem desprotegidas socialmente. O Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social afirmou, na sessão de abertura do encontro que analisa o tema “Mobilidade global: uma oportunidade de missão”, a necessidade de perceber a realidade. “Perceber que a integração é um processo, não uma condição prévia”. Diante de agentes sociais e pastorais, que trabalham com populações migrantes nos diferentes distritos do país, ligados à Caritas ou aos Secretariados Diocesanos da Mobilidade Humana e também nas comunidades portuguesas na diáspora, D. Carlos Azevedo afirmou a necessidade de integrar integralmente os migrantes: pessoal, social e culturalmente. “Importa evitar o culturalismo, uma vez que as culturas são construções humanas em evolução”, que integram diferentes contributos: de quem chega e de quem acolhe. Para D. Carlos Azevedo, é preciso “perder medo e adoptar o respeito mútuo” Notícias relacionadas • S. Paulo, migrante, Apóstolo das Gentes • Conclusões do IX Encontro de Animadores Sócio-pastorais das Migrações • Políticas de cooperação para combater o desemprego na Europa • Europa a envelhecer precisa dos imigrantes • Rostos de uma missão global • Perder o medo diante do estrangeiro