Crise: Portugal e Igreja precisam de mudança

Comissão Diocesana Justiça e Paz de Setúbal aponta efeitos do «capitalismo» no país e «sinais de corrupção» na Cúria do Vaticano

Setúbal, 29 abr 2013 (Ecclesia) – A Comissão Justiça e Paz da Diocese de Setúbal considera que a eleição do Papa Francisco e os 50 anos da encíclica ‘Pacem in Terris’ impõem uma transformação em Portugal e na Igreja Católica.

“Este mundo, este País, necessita imperiosamente de mudança, de sinais nítidos e numerosos de solidariedade, de interesse pelo cuidar dos outros, de apoio aos pobres, aos excluídos, aos desempregados”, salienta um comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

Portugal precisa de “mudar as orientações que levam à corrupção e ao sectarismo, e isso só é possível com ‘homens novos’, reconhecidos pelo ‘ser’ e não pelo ‘ter’, que amem e sirvam desinteressadamente o seu próximo”, e “não se divorciem da vida das instituições que traduzem a organização da sociedade”, refere a nota.

Os membros da Comissão, nomeados pelo bispo de Setúbal, vincam que “a luta pelo Reino de Deus” exige “a aplicação duma teoria política baseada no amor e na solidariedade que, como aconteceu com Jesus, leva a uma verdadeira revolução social que nasce dum desejo de justiça, de dignidade e de liberdade”.

O documento defende que os cristãos “marquem a sua diferença na maneira de viver e na denúncia de tantas diretrizes políticas erradas e que têm conduzido os povos ao sofrimento, à perda da esperança e a deixarem-se impregnar por orientações meramente economicistas, hedonistas e individualistas”.

O “capitalismo” é um “sistema económico” que “mercantiliza o trabalho, sacrifica a própria natureza e gera imensos pobres e excluídos”, causando em Portugal “taxas de desemprego nunca atingidas, falências, dívidas e incumprimentos em número assustador e com difícil solução”.

Também a Igreja, “com graves problemas atingindo o prestígio e a honorabilidade de muitos sacerdotes, e com o domínio duma Cúria onde se começam a conhecer lutas de poder e até sinais de corrupção”, precisa de “mudanças e de orientações mais condizentes com a vivência de Jesus Cristo”, sustenta o texto.

“Será que a base social da Igreja passará dos detentores de poder para os pobres que passarão a ter uma palavra a dizer?”, questiona a Comissão, acrescentando que “muitas” das recomendações do Concílio Vaticano II (1962-1965) “têm sido verdadeiramente esquecidas, quando não, mesmo contrariadas”.

A encíclica ‘Pacem in Terris’ foi assinada pelo Papa João XXIII a 11 de abril de 1963.

RJM

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Agência ECCLESIA

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