Crise não justifica cortes sociais

Manuel Carvalho da Silva lamenta que o debate não esteja centrado em como «aumentar a produção da riqueza»

O secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), Carvalho da Silva, considera que não se podem justificar com a crise os cortes nas prestações sociais e o aumento dos impostos.

O sindicalista lembra que estas medidas entram em vigor “de imediato”, mas “os lucros – para serem taxados no final do ano – permitem aos accionistas que os captem para eles e não façam o mínimo de sacrifício que o povo mais pobre está a fazer”.

Produzir para distribuir é uma das máximas da economia. O debate nacional devia estar centrado na forma de “produzir mais e aumentar a produção da riqueza – na agricultura, nas pescas e em cada subsector da indústria – e não colocar o enfoque “na resposta às chantagens do processo de agiotagem” – esclareceu, em declarações à ECCLESIA.

Para Carvalho da Silva, as mãos que se apropriam do dinheiro “têm uma cola especial que o fixa”.

O primeiro-ministro anunciou hoje que o Governo aprova na próxima Quinta-feira uma lei de enquadramento orçamental e que na próxima semana iniciará reuniões com os parceiros sociais.

José Sócrates falava aos jornalistas logo após o Orçamento do Estado para 2011 ter sido aprovado em votação final global, com os votos favoráveis do PS, a abstenção do PSD e a oposição das restantes bancadas e dos deputados sociais-democratas da Madeira.

Para Carvalho da Silva, os detentores do capital – os accionistas dos grupos financeiros e económicos – em nome “daquilo que perderam – olhando para as fortunas virtuais elas reduziram – estão a apoderar-se dos lucros”.

“Nas últimas semanas temos visto a pressão para a distribuição dos lucros das empresas antes que entrem em vigor uma nova lei”, alerta este responsável, para quem a falta de reinvestimento e “a ganância” é evidente.

Com bastantes anos no sindicalismo e habituado a negociar medidas em prol dos trabalhadores, Carvalho da Silva já viu passar vários primeiros-ministros pela cadeira do poder mas recusa-se a dizer qual deles foi o mais difícil em termos negociais. “Os mais difíceis são aqueles que têm os ouvidos duros” – disse. E acrescenta: “e os que têm menor conhecimento da sociedade”.

Fica chocado com interlocutores com responsabilidade política que “percebem muito pouco do comportamento humano e do relacionamento da sociedade”. O patamar dos governantes – em Portugal e no mundo – “não está muito elevado”, mas isso “é uma responsabilidade de todos nós”.

Com uma tese de doutoramento sobre «Centralidade do Trabalho e Acção Colectiva: Sindicalismo em tempo de Globalização» – defendida há 4 anos -, o Secretário-Geral da CGTP-IN sublinha que o sindicalismo actual é diferente, mas “tem as mesmas géneses”. Nascido em Portugal na primeira metade do século XIX, o sindicalismo mantêm “alguns dos elementos estruturantes” desde o seu nascimento: “A centralidade é o trabalho”.

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