Crise/Migrações: António Vitorino admite potencial de «tensão»

Antigo comissário europeu diz que possibilidade concorrência direta aos postos de trabalho entre portugueses e imigrantes deve ser vista com cuidado

Lisboa, 19 jul 2011 (Ecclesia) – O antigo comissário europeu António Vitorino alertou para o potencial de “tensão” e “conflitos” gerado pela atual crise económica, que abre a possibilidade de “concorrência aos mesmos postos de trabalho” entre portugueses e imigrantes.

“Há maior tensão, pode haver concorrência direta aos postos de trabalho entre imigrantes e portugueses e isso tem de ser visto com muito cuidado e muita ponderação”, alerta este especialista, em entrevista hoje publicada pelo semanário Agência ECCLESIA.

O responsável pela Plataforma sobre Políticas de Acolhimento e Integração de Imigrantes (Fundação Gulbenkian) sublinha que em Portugal não há “um problema generalizado nessa matéria”, mas não deixa de referir que “nestes tempos de crise, os fatores de atrito são potenciados”.

“Convém recordar aos portugueses que esses imigrantes que estiveram a trabalhar em Portugal na última década contribuíram com os seus impostos e se hoje estão em risco social têm direito à proteção social”, prossegue.

Vitorino admite uma “uma retração nos fluxos migratórios”, afirmando, em seguida que “não houve, contudo, um retorno em massa”.

Quando à saída de portugueses, este responsável fala numa “diferença substancial no padrão da emigração”, que hoje abarca “quadros muito mais qualificados, o que ajuda também a fazer uma ideia diferente e uma imagem diferente do país no estrangeiro”.

“São pessoas que vão e que se valorizam a elas próprias e que valorizam os países onde vão estar a trabalhar e que têm e mantêm uma ligação de retorno a Portugal”, declara.

O antigo comissário europeu destaca, por outro lado, o papel desempenhado pela Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), “não apenas do ponto de vista de proteção social mas também do ponto de vista cultural, do ponto de vista do diálogo pela tolerância, diversidade e diálogo inter-religioso”.

“Este diálogo tem encontrado sempre na OCPM não apenas um defensor mas também um ator ativo de promoção dessa tolerância, desse diálogo e dessa pluralidade”, conclui.

Para o atual diretor da Obra, frei Francisco Sales, “a Igreja tem tido, e continua a ter, um papel fundamental no acolhimento e no acompanhamento de tantas fragilidades e dramas humanos protagonizados pelos imigrantes”.

Também em texto assinado no semanário Agência ECCLESIA, o missionário scalabriniano e antigo diretor da OCPM, padre Rui Pedro, sublinha: “Cada vez que entramos mais neste universo complexo da mobilidade humana – portuguesa, lusófona, europeia e mundial – vemos que a migração, em geral, não obstante os tantos progressos a nível de filosofias e políticas migratórias, continua associada a situações de grande vulnerabilidade de vida e exclusão social e económica”.

OC

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