Dificuldades «em nada vão baixar o nível dos serviços prestados» assinalaram participantes em encontro de Centros Sociais Paroquiais da diocese
Setúbal, 17 Jan (Ecclesia) – O director do secretariado da acção social e caritativa da diocese de Setúbal, Eugénio Fonseca, reconhece a existência de “situações de fome” na diocese, embora “não em escala tão grande como nos anos 80” do século XX.
O responsável assinalou à Agência ECCLESIA a existência de famílias “que apenas conseguem fazer uma refeição equilibrada por dia”, e por vezes “só com a ajuda de instituições de solidariedade”, o que “no contexto do nosso estádio civilizacional significa passar fome”.
Por isso, acrescenta o também presidente da Cáritas Portuguesa, “há pessoas que têm a saúde muito deteriorada porque não fazem uma alimentação equilibrada, sendo mais fácil que a morte lhes chegue prematuramente”.
Ainda que as carências alimentares sejam menos graves do que as existentes em alguns países do Terceiro Mundo – o que, segundo Eugénio Fonseca, tem servido de argumento para negar a existência de fome em Portugal – “é preciso educar o olhar e ver as realidades no contexto em que elas estão”.
“Na diocese de Setúbal a sociedade constituiu-se exclusivamente em torno da procura de trabalho. Faltando o emprego, as pessoas ficam em situação de carência com maior facilidade”, explica o director do departamento de acção social, acrescentando que os índices de desemprego na região são “semelhantes aos de outras dioceses, e em alguns casos inferiores”, como acontece em comparação com o Porto.
O responsável saúda a entreajuda proporcionada pela sociedade civil mas constata que ela está aquém das carências: “Verificamos que existem mecanismos de solidariedade na população, mas apesar disso os meios de que dispomos são insuficientes para responder a tantas necessidades que nos aparecem”.
Os dirigentes dos Centros Sociais Paroquiais da diocese setubalense reuniram-se no último Domingo e salientaram que os apertos financeiros das instituições que representam “em nada vão baixar o nível dos serviços prestados”, como indica Eugénio Fonseca.
O programa da reunião incluiu uma reflexão sobre os modos de concretizar as orientações que o Papa Bento XVI deixou em Fátima, em Maio de 2010, durante o encontro com agentes da Pastoral Social da Igreja Católica.
“As instituições devem ter muito bem presente a sua missão, assente no amor fraterno, não abdicando um milímetro dos valores que estão subjacentes a essa identidade”, frisa o responsável.
No entender de Eugénio Fonseca, as entidades pertencentes à Igreja Católica devem preservar a “autonomia” e “não estar condicionadas por interesses partidários nem por outros tipos de ideologia”.
Na linha das indicações vincadas por Bento XVI, os participantes no encontro centraram também a atenção no surgimento de “novos líderes servidores”, que contribuam para o “rejuvenescimento da acção social da Igreja” e privilegiem a excelência.
“As lideranças das nossas instituições têm de ser muito cuidadosas na administração dos recursos porque eles foram-nos confiados para o serviço dos outros, pelo que devem ser geridos com maior rigor e transparência”, assinala Eugénio Fonseca.
Na sequência destas orientações foi apresentado um sistema de certificação da qualidade e sustentabilidade financeira dos Centros Sociais e Paroquiais, tendo sido dados a conhecer as exigências deste processo.
RM