Crise: Conferência de São Vicente de Paulo quer «ajudar Portugal para que não haja nenhuma convulsão social»

Bispo do Porto inaugurou lar residencial em São João de Ver

São João de Ver, Aveiro, 16 jul 2012 (Ecclesia) – O presidente da Assembleia-geral das Conferências de São Vicente de Paulo, organismo de apoio social pertencente à Igreja Católica, afirmou no domingo que a ação da instituição tem procurado conter eventuais revoltas populares causadas pela pobreza.

“Queremos ajudar Portugal para que não haja nenhuma convulsão social. Mas temos algum receio. Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para evitar que isso aconteça”, disse Manuel Guedes à ECCLESIA, à margem da inauguração de um lar residencial em São João de Ver, Distrito de Aveiro e Diocese do Porto.

As pessoas “com uma vida digna e organizada” que “perderam os empregos e não têm outra possibilidade de receber dinheiro estão fechadas em casa. Estes são os novos pobres, que ainda não desceram à rua”, sublinhou o responsável, que não sabe até quando será possível “aguentar” o “sufoco financeiro” dessas famílias.

As equipas das Conferências de São Vicente de Paulo implementadas nas paróquias estão “sobrecarregados com solicitações” mas encontram-se “claramente descapitalizados”, pelo que “têm menos possibilidade de ajudar”, apontou o responsável, que preside ao Conselho Central do organismo na Diocese do Porto.

Manuel Guedes referiu que o financiamento conta com os donativos recolhidos pelo Fundo Social Solidário, criado em 2010 no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, e pela estrutura similar existente na Diocese do Porto desde 2008.

Os recursos têm sido aplicados no pagamento de dívidas, medicamentos e propinas no ensino superior, bem como no apoio a investimentos necessários para o arranque de pequenas empresas, sustentando o autoemprego.

Os cerca de 900 grupos das Conferências de São Vicente de Paulo espalhados em Portugal, onde colaboram cerca de 15 mil voluntários, atuam em função da sua proximidade às populações, com a “preocupação de não enxovalhar as pessoas, porque aos pobres basta-lhes a pobreza”, observou.

O Lar Frederico Ozanam, inaugurado pelo bispo do Porto, D. Manuel Clemente, “destina-se a pessoas sós com poucos recursos”, explicou o presidente, que lamentou a ausência de membros do Executivo na cerimónia.

“Muito mais do que o profissionalismo e as técnicas que sejam implementadas, queremos que esteja presente o espírito de família”, vincou Manuel Guedes.

O edifício com capacidade para 40 pessoas, que poderá chegar às 60 se a Segurança Social aprovar um pedido feito pelas Conferências Vicentinas, tem as vagas praticamente ocupadas.

Metade do custo da obra foi comparticipada pelo Ministério da Solidariedade e da Segurança Social através do Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (“Pares”).

A nova estrutura, que vai criar 25 postos de trabalho, junta-se a um centro de dia inaugurado em 2006 com a finalidade de proporcionar atividades ocupacionais e apoio psicológico a 50 crianças, jovens e adultos com deficiência e doença mental.

A Sociedade de São Vicente de Paulo, de que derivam as Conferências Vicentinas, é inspirada no santo francês com o mesmo nome que viveu entre 1581 e 1660, tendo sido fundada em Paris por um grupo de estudantes liderado pelo Beato Fréderic Ozanam.

A sua presença em Portugal remonta a 1859, quando foi estabelecida a primeira Conferência, em Lisboa.

PTE/RJM

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Agência ECCLESIA

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