Crimeia: Conflito mostra fragilidade da União Europeia

Diretor da faculdade de Ciências Humanas da UCP critica «ingerência» da Rússia e antevê divisão do território ucraniano

Lisboa, 10 mar 2014 (Ecclesia) – O diretor da Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da Universidade Católica Portuguesa critica a “inação” da União Europeia perante o conflito na Ucrânia e a “ingerência” da Rússia na região independente da Crimeia alegando proteção dos cidadãos.

“Para além das dificuldades económicas, políticas, religiosas e linguísticas no local, (o conflito na Crimeia) evidencia a fragilidade da política internacional, nomeadamente da União Europeia cujas únicas atitudes que tem tido é mostrar-se chocada, angustiada e com muitos estados de alma, mas com pouca ação”, afirma José Miguel Sardica à Agência ECCLESIA no comentário à atualidade.

Reconhecendo que a intervenção da UE “é difícil”, o professor adianta que “economicamente e diplomaticamente” a Europa “já devia ter feito alguma coisa, inclusive na praça Maiden, em Kiev”.

“Se a UE tivesse uma atitude mais firme para aceitar a Ucrânia, não digo como membro, mas numa aproximação comercial, económica, política, via NATO, se tivesse dado sinais à Ucrânia de que contaria com um apoio europeu mais forte, talvez o poder não tivesse caído neste vazio em que se encontra”.

A crise na Ucrânia intensificou-se em fevereiro, após meses de protestos a favor da Europa e contra assinaturas de contratos do governo com a Rússia, tendo provocado na praça Maiden, em Kiev, uma centena de vítimas mortais e a deposição do presidente pró-Rússia, Viktor Ianukovich.

Na sequência das manifestações o presidente russo Vladimir Putin enviou tropas para a região da Crimeia, uma península que abriga a maioria das bases russas e é histórica e culturalmente ligada à Rússia, manifestando-se contra o governo interino que se formou na Ucrânia.

O presidente russo está “a violar um acordo internacional reconhecido pela Rússia em 1994” que garante independência à Ucrânia, e mesmo havendo uma região autónoma favorável à Rússia “isso pode dar azo a uma intervenção diplomática ou humanitária, mas não a uma intervenção militar pela força como parece estar em embrião”.

O professor da FCH acredita que a memória da guerra na Jugoslávia, no início dos anos 90, “impeça uma guerra civil” mas sublinha que o impasse não é benéfico.

“À medida que o impasse se arrasta, o risco está em que perante um poder que não se reconhece e uma Europa que há 20 anos diz que ajuda a zona, mas com exceção do alargamento a leste em 2004, em relação à Ucrânia não lhes dá nada, uma maioria que até agora era anti-Rússia possa desenvolver alguma simpatia, numa espécie de mal menor”.

Sem querer antever cenários numa situação que muda rapidamente, José Miguel Sardica adianta que o mundo poderá assistir à divisão da Ucrânia.

“Perante um impasse em que a Europa lamenta muito mas não faz nada e perante o risco de uma «balcanização» da zona, talvez a Ucrânia, tal como a conhecemos nos últimos 20 anos, venha a dividir-se, permanecendo uma parte ocidental num poder que sairá das eleições em maio, e a parte leste da Ucrânia ser engolida por uma Rússia, cuja tentação imperialista sempre foi forte”.

O diretor da FCH afirma que neste conflito “todos perdem”: “Ucrânia perde e perde a Europa porque mais uma vez é um conflito no seu continente em que os principais intervenientes serão externos: a Rússia, os EUA e a ONU”.

José Miguel Sardica integra um grupo de colaboradores da ECCLESIA que semanalmente comenta a atualidade informativa cuja análise completa pode encontrar no canal 524995 da plataforma MEO.

LS

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