O alerta do Papa sobre a existência de “tráficos ignóbeis” envolvendo crianças afectadas pelo maremoto na Ásia veio juntar-se, hoje, às várias chamadas de atenção que vêm chegando da região. A geração “tsunami” está no centro de todas as preocupações. João Paulo II falou das crianças “vítimas da fome e da doença, da guerra e do terrorismo, bem como as crianças raptadas, desaparecidas ou abusadas por causa de tráficos ignóbeis” um dia depois de o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) ter alertado para o perigo cada vez maior de redes de traficantes de menores aproveitarem a tragédia humanitária causada pelo sismo no sudeste asiático para sequestrar órfãos. Os relatos que chegam desde o local, pela voz dos missionários, mostram o ambiente de confusão e as dificuldades geradas pela catástrofe natural de 26 de Dezembro. D. Devadass Ambrose Mariadoss, Bispo de Tanjore, teme que se esteja a promover o “comércio” de crianças, com finalidade de proveito pessoal. O governo da Índia decidiu doar 200 mil rúpias (o equivalente a mais de 4.500 dólares) a cada criança que perdeu os pais no maremoto. Para Paul Baskar, presidente da ONG “Peace Trust” em Tamil Nadu, “as crianças são duplamente vítimas desta tragédia: cerca de metade dos mortos são menores e os que não perderam a vida ficaram órfãos de um ou dois dos pais”. Os missionários presentes no local consideram que as crianças “são os elementos mais fracos e vulneráveis” de entre as vítimas do maremoto. Muitas crianças que ficaram órfãs foram acolhidos pela “família alargada”. Teme-se, contudo, o surgimento dos raptos, especialmente no Sri Lanka, por acção dos guerrilheiros do Liberation Tiger of Tamil Eelam (LTTE), para utilizar as crianças como soldados. “Não há, até o momento, evidências directas ou confirmações sobre o fenómeno do sequestro de crianças órfãs, para ser sexualmente exploradas, para o tráfico de órgãos vitais ou para ser vendidas como escravas”, referiram à agência Fides, do Vaticano, fontes da Nunciatura Apostólica em Colombo, capital do Sri Lanka. Da Indonésia, contudo, chegam denúncias veiculadas pela agência de notícias AsiaNews, dirigida pelo Pe. Bernardo Cervellera, dando conta de que desde o dia 26 de Dezembro, pelo menos 20 crianças foram “contrabandeadas” da região norte da ilha de Sumatra. A agência católica assegura que as crianças teriam sido levadas para a Malásia e para Bandung, oeste da ilha de Java, por intermédio de uma fundação que tem a sua base em Medan, no norte de Sumatra. O sequestradores chegariam aos campos onde estão alojados os menores para se fazer passar por parentes dos órfãos, ou então demonstrar a própria disponibilidade em adoptar uma das crianças. Os alvos dos sequestradores são as crianças com menos de 15 anos de idade, sobretudo os bebés. O Pe. Yoseph Due, missionária verbita na ilha de Sumatra, lembra que o maremoto “separou muitas famílias” e que há muitos pais em busca dos filhos. De momento, o religioso afirmar que não há nenhuma confirmação sobre as notícias de raptos no norte da ilha, mas apela à vigilância. Do Sri Lanka chega o conselho de D. Anthony Pinto, salesiano: “com os fundos recolhidos para a emergência há muitas organizações que improvisam ajuda às crianças, incluindo a adopção à distância, mas é preciso estar muito atentos, porque este é um sector muito delicado, onde é necessária muita experiência e capacidade”.
