Criação e Evolução

200 anos depois do nascimento de Charles Darwin, o debate está de regresso 200 anos depois do nascimento de Charles Darwin (12 de Fevereiro de 1809) e 150 anos após a sua mais famosa obra, a “Origem das espécies”, regressa o debate sobre a relação entre evolução e criação. Este é um tema que apaixona cientistas, filósofos e teólogos. A opinião pública despertou para a reflexão que sobre ele se faz em Igreja quando, em Setembro de 2006, Bento XVI reuniu com os seus antigos alunos de doutoramento em Teologia, em Castel Gandolfo, para discutir questões relativas à evolução darwinista e à Criação. Desde então muitas têm sido as referências ao tema, que merecerá mesmo em Março a realização de um congresso sobre o tema “A evolução biológica: factos e teorias”, organizado pela Universidade Gregoriana, com o patrocínio do Conselho Pontifício para a Cultura. Alfredo Dinis, jesuíta e Director da Faculdade de Filosofia da UCP/Braga, admite que “A teoria da evolução levanta ao cristianismo alguns desafios. Ao pôr em causa a interpretação literal do Livro do Génesis, conduz a uma nova compreensão do significado da descendência de toda a humanidade a partir de Adão e Eva, do paraíso terrestre, da criação dos primeiros seres humanos em estado de graça e de imortalidade, do pecado original, da causa do sofrimento e da morte, da aparição dos primeiros seres humanos no processo evolutivo, etc”. “Contudo, o evolucionismo, como qualquer outra teoria científica, não constitui uma ameaça para as crenças religiosas devidamente fundamentadas, antes pelo contrário. Ao questionar fundadamente aspectos tradicionais das religiões, tanto a ciência em geral, como o evolucionismo em particular, contribuem para o esclarecimento do que é fundamental nelas e do que nelas é acessório ou errado”, acrescenta num texto para o Dossier publicado pela Agência ECCLESIA sobre este tema. Em Novembro de 2008, Bento XVI voltou a abordar a relação entre criação e evolução, defendendo que o cosmos não é um sistema caótico, mas sim ordenado, sendo possível “ler” nas suas regras internas a presença de um criador. Num discurso dirigido aos participantes da assembleia plenária da Academia Pontifícia das Ciências, o Papa frisou que afirmar que a criação do cosmos e o seu desenvolvimento sejam fruto da “providencial sabedoria” de um criador não é o mesmo dizer que a criação remonta apenas ao início da história do mundo e da vida. O criador “dá origem” aos seus desenvolvimentos” e “ampara-os continuamente”. Ao contrário do que se chegou a avançar na imprensa, Bento XVI não veio a público “adoptar” a teoria do “desígnio inteligente”, muito popular em várias Igrejas Evangélicas e com uma importância crescente nos EUA. Mesmo não tendo passado de rumores, ouviram-se críticas a insinuar que esta teoria não é mais do que um disfarce para o Criacionismo e um substituto para a leitura literal do Génesis, segundo o qual Deus criou o mundo em 7 dias. A verdade é que a Igreja Católica, com o avanço da exegese bíblica, tem hoje uma leitura da Bíblia muito diferente da que oferecem algumas Igrejas Cristãs, não vendo nos dois relatos da Criação no Génesis (apenas um deles faz referência aos famosos 7 dias) uma explicação científica para a origem do universo. O Pe. Armindo Vaz, professor de Bíblia na UCP, escreve que “os mitos de criação são narrativas reveladoras de sentido e repositório de sentido. Não relatam acontecimentos localizáveis no tempo e no espaço. Nem se entendem à letra, sob pena de obscurecer a transcendência de Deus e pôr a nu contradições entre a primeira e a segunda narrativa da criação”. “Dizer «Deus criou o mundo» não é pensar que o arrancou do nada ou de matéria preexistente, por evolução ou duma assentada; nem é pensar no momento ou no acto da sua feitura. É um convite a contemplar nele uma abertura ao transcendente, pondo ao vivo o mistério da sua relação com Deus”, assegura. Diferenças e convergências Luís Archer, sacerdote e cientista que foi distinguido com o Prémio Nacional de Bioética 2008, refere que “segundo o evolucionismo, todas as espécies (incluindo a humana) provêm umas das outras e, remotamente, de um ou poucos seres vivos iniciais. Evolucionismo opõe-se, assim, ao fixismo, segundo o qual cada espécie foi criada separadamente e mantém sempre as suas características fundamentais”. Além das alterações que Darwin foi fazendo à sua teoria, surgiram posteriormente várias correntes neo-darwinistas, e a partir das primeiras décadas do séc. XX, a simbiogénese. “Segundo esta teoria, a evolução não se processou em forma de árvore que se vai ramificando lentamente ao longo do tempo através de alterações do material genético, mas em forma de rede que se estabelece pela transferência de genes de umas espécies para outras, entre as que vivem no mesmo tempo”, assinala. Quanto ao criacionismo, Luís Archer específica que o “termo pode ter mais que uma leitura”, ainda que se refira, basicamente, “à criação dos seres vivos por Deus”. “Interpretar o surgir da vida em termos de evolução química da matéria não corresponde, de modo nenhum, a enfraquecer ou eliminar a acção criadora de Deus, mas só a purificá-la do ressaibo miraculoso duma intervenção inesperada por parte da matéria, e a tomá-la, em toda a linha da suas consequências, verdadeiramente imanente, enquanto presença existencial criadora”, assinala. Diálogo fé-ciência O Arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, afirma que “o cientista deve começar a olhar mais além, começar a ver o horizonte da filosofia e da teologia, arrancando da sua mente a convicção de que estamos em presença de um resto arqueológico, de um paleolítico intelectual remoto, contrário à força da ciência”. Por outro lado, defende, “o teólogo e o filósofo devem conseguir olhar para o campo do científico sem temer sempre que haja pessoas que querem construir novos monstros, rompendo qualquer vínculo, qualquer perímetro próprio da humanidade”. Na iniciativa da Universidade Gregoriana, a partir de recentes descobertas científicas relevantes, a teoria da evolução biológica merecerá uma atenta e séria reconsideração, tanto do ponto de vista científico como de uma perspectiva filosófica e teológica, evitando as posturas ideológicas que com frequência dominaram o debate. O Congresso do próximo mês de Março pode ser seguido em www.evolution-rome2009.net William D. Phillips, Nobel de Física em 1997 pelo desenvolvimento de método para esfriar e fixar átomos com laser de luz, foi um dos 13 intelectuais que a Fundação John Templeton convidou a pronunciarem-se sobre a possibilidade da crença em Deus na era da ciência. À pergunta sobre a ciência torna obsoleta a crença em Deus, o cientista responde com um firme “não”. Para este um físico dos Estados Unidos da América, de 68 anos, existe “um universo que, a ter sido construído de forma ligeiramente diferente, nunca teria visto nascer estrelas e planetas, muito menos bactérias e pessoas”. “Não há uma boa razão científica para que este universo não fosse diferente. Muitos bons cientistas concluíras, destas observações, que um Deus inteligente deve ter escolhido criar este universo com tantas propriedades lindas, simples e criadoras de vida”, aponta. William Phillips admite, contudo, que “muitos cientistas, igualmente bons, são ateus” e que “ambas as conclusões são posições de fé”. Dossier AE A imagem de Deus criador Evolucionismo/Criacionismo: diferenças e convergências Reavaliar o impacto de Darwin Ciência vs. Deus O regresso (sem fantasmas) de Darwin

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Agência ECCLESIA

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