Crescimento pessoal e social do jovem no Voluntariado Missionário

Sofia Lopes

O Voluntariado Missionário (VM) é o trabalho social feito com a consciência de que se está a aplicar na prática o que Jesus ensinou, e com o sentido de que Deus é o centro da vida.

Qualquer um de nós, no nosso dia a dia pode ser voluntário missionário. No entanto, em Portugal, existem cerca de 60 grupos organizados, que promovem projetos de voluntariado com o cariz missionário. Estes grupos, que pertencem à Rede de Voluntariado Missionário coordenada pela Fundação Evangelização e Culturas (FEC), têm projetos em Portugal e em países em desenvolvimento, como Guiné-Bissau, Moçambique ou Timor-Leste.

Em 2010 foram enviadas 360 jovens para países em desenvolvimento, sendo que a grande maioria tinha entre 18 e 25 anos, e deslocou-se em projetos de curta duração (1 a 6 meses).

O voluntariado em si é uma oportunidade de contribuir para um mundo mais justo, colmatando necessidades da sociedade, quando as instituições e as comunidades não têm capacidade de resposta devido à falta de recursos financeiros, falta de vontade política, etc.

O voluntário, ao dar o seu tempo, amor e conhecimento, sente-se útil e por isso feliz, e aprende muito. Ao contactar com outra realidade (o estar num lar de idosos, o contactar com uma pessoa portadora de deficiência profunda, o estar em contexto africano, etc.) tem oportunidade de vivenciar situações que doutra forma não o faria. Põe-se à prova a si próprio, desafia os seus limites, estende os seus horizontes e percebe que o mundo não gira apenas à volta da sua realidade, é muito mais do que isso.

Devido à aprendizagem de novas competências sociais e pessoais, o voluntariado é algo muito valorizado pelas empresas, e que enriquece o currículo. Mas o voluntariado também é, simplesmente, uma forma de fazer amigos, e de conhecer novos locais.

E quanto aos grupos de voluntariado missionário? Perguntam-me: todos esses jovens que participam nos grupos sentem mesmo esse chamamento de Deus, vão todos os domingos à missa e rezam muito? Não. A maioria dos jovens entra nos grupos pelo simples desejo de fazer voluntariado e também pela aventura/desejo de conhecer África. Ou até porque o amigo participa, e é giro estar entre amigos. A parte cristã – o rezar antes das refeições, o ir à missa -, ao início, é vista como a parte mais “chata”.

Os grupos com projetos em países em desenvolvimento têm em comum uma formação de no mínimo 8 meses que passa tanto pela vivência espiritual (a importância de rezar, de escutar o interior, de falar com Deus, de valorizar a mensagem da Bíblia, etc.), como pela formação sobre Missão, Cooperação para o Desenvolvimento, Interculturalidade, etc.

As entidades que promovem projetos em Portugal podem não ter uma formação tão extensa, mas o carisma missionário está presente quando, por exemplo, ao final do dia de voluntariado, se faz uma oração onde se partilha tudo o que de bom e menos bom se vivenciou. É nessa caminhada e vivência de grupo que o jovem faz um trabalho interior muito forte.

A partilha entre amigos, o escutar o testemunho dos outros, o despertar da formação, o parar para olhar para dentro e rezar vão, aos poucos, na continuidade do tempo, trabalhando o jovem, e transformando-o num cidadão mais pleno, mais consciente, mais integrado em si próprio. De tal forma que a parte “chata” de rezar, deixa de ser “chata” e passa a fazer mais sentido na sua vida, passa inclusive a ser uma prioridade.

Esta redescoberta da importância de estar com Deus acontece porque, nestes grupos, a fé é vivenciada de uma forma menos formal, mais descontraída, envolvendo todos e fazendo a ponte com a realidade do dia a dia. Por exemplo, as missas e orações têm cânticos muito alegres, são os participantes que constroem as orações dos fiéis e constroem dinâmicas que podem envolver a representação. Com frequência, numa Eucaristia, o jovem pode partilhar a sua opinião sobre a leitura. Há também uma parte de introspecção, através da música de fundo e das simbologias.

Não é só dizer ao jovem que é bom ser-se cristão, é preciso saber chegar a ele, utilizando metodologias da educação não-formal e envolvendo-o.

Muitos destes grupos são formados no seio de paróquias, de dioceses e de congregações religiosas.

Quando há uma ligação do grupo de voluntariado missionário à comunidade católica local, a própria comunidade fica mais sensibilizada para o voluntariado. Há ainda jovens que fazem o crisma e depois, ao integrar um grupo de VM, começam a fazer voluntariado de forma mais frequente. Muitos dos grupos VM participam nas atividades da igreja local e contam com os membros dessas comunidades para apoiar os seus projetos.

O VM é relevante, tanto para o desenvolvimento pessoal e social dos jovens de hoje, quanto para o fomento do voluntariado no seio da igreja.

Sofia Lopes, Fundação Evangelização e Culturas

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