Investigadora na área da Psicologia Positiva destaca sinais e histórias de esperança e solidariedade na pandemia
Lisboa, 20 abr 2020 (Ecclesia) – A professora Helena Marujo afirmou que este é “o século do rizoma”, “uma raiz subterrânea que se espalha criando nós de ligação”, pela “proximidade” e “igualdade” que se veem na sociedade em histórias de solidariedade conhecidas e anónimas.
“Estamos no século do rizoma, é esta proximidade, é esta igualdade, é estarmos ao mesmo nível, criarmos condições para voltarmos a olhar uns para os outros olhos nos olhos. E as diferenças poderão ficar mais pequenas, menos gravosas, menos dramáticas e menos traumáticas na maneira como nos excluímos, porque este vírus trouxe-nos o convite da inclusão e da igualdade”, disse a docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Helena Marujo destacou a “história agridoce” do padre italiano Giuseppe Berardelli, de 72 anos, que testou positivo para o coronavírus Covid-19 “com gravidade” e as “dificuldades respiratórias levou-o a ter de ficar ligado a um ventilador” mas o sacerdote tomou “uma decisão brutal do ponto de vista humano” que foi “renunciar ao ventilador para poder ser usado em alguém que fosse mais novo”.
“Alguns consideram um ato de heroísmo, outros um ato de santidade, outros uma reposta humana de alguém com coração tão gigante que troca a sua vida pela de outra pessoa”, salientou sobre o sacerdote da Diocese de Bérgamo, que faleceu a 16 de março.
Para a investigadora na área da Psicologia Positiva “esta ideia não podia ser mais marcante” para a época da Páscoa que se está a viver e destaca que o padre Giuseppe Berardelli deu a vida por “uma pessoa mais jovem, por achar que havia quem tivesse mais oportunidades de vida pela frente”.
Neste contexto, Helena Marujo destacou também o “elemento fundamental” que é a questão do anonimato das pessoas que não se conhecem mas prontificam-se nesta situação e pode “trazer uma luz de esperança relativamente a uma cultura” tão centrada “na imagem pública, na superficialidade da imagem passada mas bem identificada nas selfies: “Trazer a minha cara, o meu corpo, o meu projeto”.
De repente, há uma transformação em que as dádivas e a gratuidade das ações trazem ao de cima uma ausência de precisarmos de estarmos lá a ser agraciados, ou ser reconhecidos por aquilo que estamos a fazer pelos outros. Isto é a verdadeira compaixão, isto é o verdadeiro amor que não está à espera de nenhum tipo de retorno, nem de nenhum tipo de reconhecimento”.
A professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa explica que o outro elemento que também está “cada vez mais presente” nesta experiência que se vive atualmente “é uma busca muito grande de maior igualdade, de proximidade” porque o vírus Covid-19 apanha “potencialmente a todos”, independentemente dos “recursos materiais, educacionais, ou da região do globo”.
Helena Marujo assinala contudo que “os mais frágeis, que não têm o mínimo de recurso de proteção”, estão em maior risco mas percebe-se “esta lição da igualdade na dor e da igualdade no amor”.
“De novo, é um sinal fantástico de esperança porque estávamos à procura de vidas mais justas, de maior equidade, de maior capacidade de distribuirmos aquilo que temos no planeta, sermos mais capazes de uma verdadeira fraternidade e a fraternidade está imbuída da igualdade, no essencial, há muito pouco que nos diferencie”, observou a investigadora na área da Psicologia Positiva que esta semana está a ajudar a encontrar histórias que possam ser sinais de esperança neste tempo pascal e de pandemia Covid-19, no programa Ecclesia na rádio Antena 1, pelas 22h45.
LS/CB