Padre Lino Maia aponta a cenário de crise, depois da pandemia, e espera apoios do Estado e da banca para evitar «colapsos» no setor social
Porto, 03 abr 2020 (Ecclesia) – O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) disse em entrevista conjunta à ECCLESIA e Renascença que a prioridade nos lares de idosos e residenciais têm de ser os “testes”, perante a pandemia de Covid-19.
“São necessários testes, testes, testes”, aponta o padre Lino Maia, convidado da iniciativa semanal, com emissão e publicação à sexta-feira.
O responsável sublinha ainda que é preciso “encontrar respostas de emergência, na pandemia”, sem esquecer as “pessoas com deficiência, normalmente sem retaguarda familiar”.
Entre as necessidades identificadas estão “residências alternativas, voluntários para substituir trabalhadores, equipamentos de proteção individual”.
“A CNIS e a União das Misericórdias estão muito preocupadas, porque não há equipamentos de proteção individual, ou estão no mercado a preços exorbitantes”, assinala o padre Lino Maia.
É importante que não nos esqueçamos que nestes lares temos uma população frágil, a mais carecida de apoio, muitas vezes com um histórico de saúde já complicado. Estamos a falar de uma multidão de cerca de 200 mil pessoas”.
O presidente da CNIS mostra-se “muito apreensivo” face ao futuro de várias instituições sociais e a uma crise económica, “que vai durar muito tempo”.
“O desemprego vai aumentar sistematicamente, não tenho a menor dúvida. Vamos precisar de um programa de emergência, aliás já há pessoas que estão a estudá-lo, partidos que já estão irmanados nesta elaboração”, alerta.
Para o padre Lino Maia, o ‘day-after’ vai mostrar “um país mais pobre, mais deprimido, com mais pessoas a precisarem de ajuda”, do Estado e das instituições financeiras.
Nós resolvemos o problema financeiro dos bancos, agora têm de ser os bancos a olhar para esta situação. É importante que a Banca esteja ao serviço da solução deste problema”.
O entrevistado indica que muitas instituições “estão em risco já há bastante tempo”, anunciando a negociação, com o Governo, de um “reforço extraordinário” para o financiamento do setor social.
“Penso que este reforço extraordinário, embora seja muito pequeno, é um sinal positivo. Depois, veremos então a atualização dos acordos”, aponta.
O prolongamento do estado de emergência, com alterações ao calendário escolar, é outro desafio para as instituições, com “dificuldades acrescidas”.
Questionado sobre a possibilidade de desempregados e trabalhadores em lay-off poderem integrar lares e hospitais, para poder responder à Covid-19, o padre Lino Maia acredita que os próprios “verão com bons olhos essa identificação, essa requisição, para trabalhar onde é preciso”, junto das pessoas mais frágeis.
O presidente da CNIS lamenta ainda a aparente “recessão” do projeto de “Europa solidária, a Europa social que emergiu no final da II Guerra Mundial”.
OC
O Governo aprovou esta quinta-feira o Despacho 4097-B/2020, que determina os circuitos e procedimentos a adotar estabelecimentos de cariz residencial para idosos e equipamentos da Rede Nacional de Cuidados Integrados (RNCCI) onde sejam detetados casos de infeção por Covid-19, visando proteger os utentes e os respetivos trabalhadores.
Este despacho prevê a intervenção articulada das Câmaras Municipais, da Proteção Civil, da Autoridades de Saúde locais e da Segurança Social de forma a encontrar “equipamentos alternativos para alojar pessoas em isolamento profilático e/ou em situação de infeção confirmada de Covid-19 que, face à avaliação clínica, não tenham necessidade de internamento hospitalar”. Estabelece-se ainda que, quando não existam equipamentos alternativos nos próprios municípios, sejam procuradas soluções noutras autarquias do distrito ou de distritos adjacentes, “sempre em articulação entre as várias autoridades”. |