Covid-19/Liturgia: «O sagrado valor da vida é o primeiro dos valores que a Igreja tem de preservar sempre» – D. José Tolentino Mendonça (c/vídeo)

Cardeal português encerrou encontro promovido pela Diocese de Viana do Castelo, em conferência online

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Viana do Castelo, 29 jan 2021 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Tolentino Mendonça disse hoje que as comunidades católicas devem assumir a necessidade de mudanças, na sua identidade reitual, perante o “empobrecimento brutal da vida” e a “desestabilização social” provocados pela Covid-19.

“O sagrado valor da vida é o primeiro dos valores que a Igreja tem de preservar sempre, sempre”, referiu o arquivista e bibliotecário da Santa Sé, na conferência online que encerrou o encontro de Pastoral Litúrgica da Diocese de Viana do Castelo, sobre o tema ‘Liturgia e comunidade perante novos desafios’.

“Uma certa redução das expressões comuns da Liturgia, que hoje somos obrigados, constrangidos a praticar, não deixam de ter também um sentido cristológico. É verdade que nos sentimos expropriados (…), mas este sentimento une-se a uma radical expropriação da humanidade, que hoje todos sentimos”, disse D. José Tolentino Mendonça.

O colaborador do Papa pediu que as comunidades católicas sejam “lugar de encontro”, assumindo ser natural que “a vivência comunitária e litúrgica se ressinta deste momento de grande crise, pelo qual a humanidade está a passar”.

A intervenção partiu da “grande mudança” que aconteceu desde 2020, por causa da pandemia, sublinhando que é necessário “não demonizar simplesmente este tempo” e ser paciente na leitura dos acontecimentos.

“Esta experiência é, sem dúvida, uma etapa de transição, que dá muito que muito que pensar”, indicou o cardeal e poeta madeirense.

Para D. José Tolentino Mendonça, além das alterações e constrangimentos, a pandemia trouxe novas oportunidades para “ser comunidade” e “celebrar a fé”, novas dinâmicas da “ritualidade, da Liturgia, da comunidade”.

A cruz de Cristo expressa de um modo novo o espaço de Deus no mundo. O que parece ser apenas uma redução é um desafio, no sentido em que há um espaço de Deus no mundo que somos chamados a descobrir nesta longa, interminável Sexta-feira Santa que estamos a viver”.

O arquivista e bibliotecário da Santa Sé evocou o discurso do Papa à Cúria Romana, antes do Natal de 2020, quando Francisco abordou o duplo significado de crise, como “obstáculo” e ocasião para “refletir”.

D. José Tolentino Mendonça falou numa crise da “centralidade do corpo”, sobre o qual “recai uma espécie de interdito”, com distanciamento social, higiene das mãos, isolamentos e confinamentos.

A conferência alertou para uma “excarnação da fé”, evocando o pensamento de Charles Taylor, filósofo canadiano, para destacar que a vida “virtual” não vai substituir, na Igreja Católica, a dimensão do “encontro comunitário”.

O cardeal português falou de uma segunda crise, que atinge a “centralidade da comunidade”.

“Hoje, a humanidade é empurrada para viver só”, apontou.

O membro da Cúria Romana entende que, nesta “experiência incómoda” e dolorosa de “rarefação da comunidade”, os católicos são chamados a entender que essa mesma comunidade é feita de “muitas comunidades familiares”.

A intervenção desafiou os responsáveis da Igreja a assumir o desafio de dotar as famílias “de uma identidade cristã e de uma identidade litúrgica”.

D. José Tolentino Mendonça refletiu ainda sobre uma terceira crise, a “crise da linguagem”, convidando a encontrar “imagens, mediações para anunciar Deus ao coração humano”.

“É possível celebrar a Eucaristia na Web? Não, não é. Podemos transmitir, mas a celebração é incompleta, é insuficiente, porque é feita para um outro tipo de linguagem”, precisou.

O 43.º Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica, em Viana do Castelo, teve como tema ‘Pandemia: crise litúrgica?’ e decorreu em formato digital, desde segunda-feira.

No final da iniciativa foi feita uma evocação de D. Anacleto Oliveira, bispo da diocese do Alto Minho que faleceu a 18 de setembro de 2020, na sequência de um acidente rodoviário.

OC

Igreja: Celebração da Liturgia foi «posta à prova» com a pandemia – D. José Cordeiro

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