Padre Rui Mota diz que a maior obra é «salvar vidas» e que «os santos deste tempo» são os que trabalham nos hospitais e mantêm o país ativo
Trofa, 02 abr 2020 (Ecclesia) – Duas paróquias da Trofa quiseram estar “na linha da frente” do combate à pandemia e ofereceram ao Hospital de São João os 80 mil euros destinados a obras paroquiais, parte delas entretanto assumidas por um empreiteiro “gratuitamente”.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o pároco de São Mamede e São Romão de Coronado diz que comunicou a decisão de enviar o dinheiro disponível para o combate à covid-19 na celebração do último domingo e depois falou dessa iniciativa na Trofa TV, onde chegou a oferta de um empreiteiro.
O padre Rui Mota contou que um construtor civil contactou a Trofa TV para comunicar a sua disponibilidade para fazer obras da Igreja, “pequenas obras, é claro”, gratuitamente.
O pároco no Concelho de Trofa diz que o gesto está a ser bem aceite pela comunidade, afirmando que a maior obra é “salvar vidas”.
“A estrutura da residência paroquial é uma necessidade, mas esta hora não é para fazer obras. A maior obra que podemos fazer nesta hora é salvarmos vidas. E isto não tem preço”, afirmou o padre Rui Mota.
O sacerdote diz que o dinheiro em causa “faz falta”, foi “suado” e recolhido com o cantar das janeiras, em cortejos e donativos pessoais de quem tira “um pouco de si, do que lhes faz falta, para contribuir para as obras paroquias”.
“Esta era uma hora da comunidade cristã, no caso São Mamede e São Romão, mostrar que também estamos atentos ao mundo, à vida. É um gesto muito pequenino, é uma gota no oceano, mas neste momento faz muito mais sentido”, afirmou.
O padre Rui Mota disse que as “as obras terão tempo de ser feitas” e que “sem pessoas, “não fazem sentido”.
O pároco de São Mamede e São Romão de Coronado tomou a decisão de oferecer 80 mil euros ao Hospital de São João depois de ouvir o Conselho Económico das paróquias, assim como o presidente da Câmara Municipal da Trofa, para afirmar que a Igreja está “na linha da frente”.
“A Igreja sempre esteve e está na linha da frente. O que seria do nosso país, no silêncio de tanta gente voluntária, tantos padres, tantas conferências vicentinas, tanta gente de bem-fazer, que faz todos os dias nos centros sociais?”, questionou
O padre Rui Mota lamenta acusações “à Igreja, ao Vaticano, a Fátima” de gente que fala “sem saber o que diz” e quer, com este gesto, “abanar estruturas da sociedade” e mostrar a quem “fala muito e sobre muita coisa” que todas os cidadãos podem “fazer alguma coisa”.
O sacerdote da Diocese do Porto acredita na “onda de solidariedade” que se está a criar e convoca todos, nomeadamente a Igreja Católica, para os momentos que se avizinham e que “vão ser muito difíceis e duros”.
“Nós, Igreja, temos de ter um papel determinante. Temos de estar no meio do mundo Não vamos salvar o mundo! Mas podemos fazer a diferença. E essa diferença vê-se nos nossos gestos”, afirmou.
Para o padre Rui Mota, esta pandemia pode ser também uma “oportunidade para a Igreja renascer e se refazer”, para estar mais próxima “com menos palavras e mais gestos”, com um “papel determinante no mundo”, não para o “moralizar”, mas para estar e acompanhar “o mundo real”.
“Acredito que este gesto, que não é meu, mas das minhas comunidades paroquiais, do bom povo, que é o melhor que temos na Igreja, é um gesto que pode levar muitas pessoas a dizer ‘porque não’?”, questiona.
O sacerdote valorizou o empenho de quem “está nos hospitais e quem mantém o país ativo”, considerando-os “os santos deste tempo” e quer, com o gesto das comunidades de São Mamede e São Romão de Coronado, “dar força” a quem está “na luta da frente”.
HM/PR