Covid-19: «Cerca de três mil pessoas vivem sozinhas num território já de si despovoado» – Bispo de Bragança-Miranda (c/fotos e vídeo)

D. José Cordeiro acompanha semanalmente equipas da Cáritas na distribuição de ajuda e na escuta dos sós

Bragança, 07 mai 2020 (Ecclesia) – O bispo de Bragança-Miranda afirma que cerca de três mil pessoas “vivem sozinhas” no território, uma solidão “acentuada” por este tempo de isolamento, que a “baixa natalidade, o envelhecimento demográfico e o despovoamento” já mostravam.

“Há muitas pessoas que têm dificuldade de acesso a bens e desde o dia 4 de maio, o fim do estado de emergência, aumentaram os casos (de pedidos) de ajuda porque as pessoas tiveram a possibilidade de sair de casas ou recorrer, e no caso da Caritas diocesana como das outras instituições, é mais do dobro do que era o pedido habitual, sobretudo de pessoas que sentem alguma vergonha no pedir, no sair de casa e pedir”, explica D. José Cordeiro à Agência ECCLESIA.

O bispo de Bragança-Miranda enaltece uma “onda de solidariedade e de proximidade” gerada a que se junta, duas vezes por semanas, com as equipas da Cáritas diocesana para ajudar os mais fragilizados com a distribuição de alimentos e escuta muitos desabafos, “procurando dar palavras de conforto e esperança”.

À instituição chegam pedidos para ajuda na aquisição de medicamentos, também de ajuda alimentar, de contas de água e luz e, agora, mais recentemente de máscaras.

“Tenho experimentado, de uma maneira mais concreta o que significa o lava-pés no dia-a-dia: ir descalço porque o que servimos é Cristo, não é um necessitado, idoso, mas é Cristo nele e isso muda completamente a relação”, explica.

D. José Cordeiro vive um dia-a-dia de “confinamento, no respeito pelas indicações”, mas quis estar próximo quer dos seus diocesanos como acompanhar o trabalho que a instituição de ação social da Igreja católica presta, indica, lembrando a ação das restantes 83 IPSS católicas cujo trabalho acompanha.

Também os reclusos dos dois estabelecimentos prisionais da diocese, em Izeda com 300 pessoas e na cidade de Bragança, com cerca de 100, o bispo procura manter-se próximo: “Todas as semanas, e através da equipa da pastoral penitenciária, envio uma mensagem de reflexão para o domingo seguinte e os ecos têm sido do mais encantador possíveis”.

“A ação pastoral da Igreja não ficou suspensa, apenas as agendas e outras. Mas viver e entender a eucaristia no serviço do lava-pés, é uma outra compreensão do grande horizonte da missão da Igreja”, valoriza.

O responsável reconhece, até na sua experiência pessoal, que este tempo de confinamento pode conduzir a dúvidas de fé, a “sentir o coração encolhido” mas valoriza a relação de “intimidade com Cristo e a companhia da Senhora das Graças”, santuário que diariamente vê da sua janela e a quem se dirige nas suas orações.

“Isto e tantas outras circunstâncias faz-nos tomar consciência mais clara na nossa fragilidade, na nossa limitação mas confiar que Ele está connosco e que a Senhora das Graças nos tem ao colo”.

D. José Cordeiro afirma que o distanciamento físico “nunca pode conduzir a um distanciamento social, e muito menos espiritual”.

O temor que escuta, “sobretudo, nos mais velhos, é poderem ficar doentes, ficar infetados, e de terem de viver sozinhos e abandonados, no hospital ou no lar de idosos ou na sua própria casa e muitas pessoas estão a passar por essas grandes dores”, afirma.

O bispo diocesano fala numa “articulação feliz” entre “párocos, as paróquias e as unidades pastorais, os presidentes de Câmara e das Juntas, as autoridades civis, as forças de segurança e as autoridades de saúde” que tem “ajudado a ultrapassar muitas situações e muitas delas com gravidade acentuada”.

“O mais importante é de facto estar e acompanhar e eu procuro todos os dias acompanhar, no que me é possível, toda a ação da Igreja no território do nordeste transmontano. No fundo é transmitir as carícias de Deus a cada pessoa, sobretudo aos mais idosos, os mais carenciados e também a alguns jovens, no caso dos estudantes internacionais”, indica.

D. José Cordeiro afirma ainda que as obras no Mosteiro Trapista de Palaçoulo não sofreram atrasos, devido ao “plano de contingência que teve” e que todas as “dificuldades iniciais” estão ultrapassadas, estando prevista uma visita do bispo nos próximos dias ao local.

PR/LS

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Agência ECCLESIA

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