Responsáveis católicos pedem respeito pelas normas, com críticas a teses apocalípticas
Lisboa, 22 mar 2020 (Ecclesia) – Os bispos católicos de Portugal recorreram a transmissões televisivas e online, durante a suspensão comunitárias das Missas, para deixar mensagens de esperança e solidariedade à população.
Desde o Seminário dos Olivais, D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca, convidou a viver este momento de crise “com esperança”.
“Jesus Cristo está connosco, sobretudo quando mais precisamos dessa companhia, como acontece neste momento”, referiu, na Eucaristia emitida este domingo pela TVI, deixando uma saudação a todos os que o acompanhavam, “porque o coração não tem distância”.
Já o cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, celebrou na capela da casa episcopal, evocando “todos os que sofrem”, em particular os que já faleceram e seus familiares.
“É uma situação dolorosa, dramática, mesmo, que nos convida a refletir sobre a nossa vida. Em primeiro lugar, a ir ao essencial” da condição humana, marcada pela “vulnerabilidade” e a “fragilidade”, apelou.
“Somos interdependestes e solidários, uns dos outros. Ou nos salvamos todos juntos ou nos afundamos todos juntos”, advertiu D. António Marto, para quem o isolamento deve ser assumido como “um ato de amor” pelos outros.
D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, deixou uma saudação às pessoas retidas em sua casa, apelando a atitudes de “confiança” e “solidariedade”.
O responsável católico desejou que da atual situação resulte uma vida “assente em critérios, em valores diferentes”.
No Funchal, D. Nuno Brás dirigiu-se à diocese através da RTP-Madeira, salientando a importância de manter a “comunhão”, nas condições singulares em que as comunidades católicas e a sociedade se encontram.
“Quero pedir-vos que continuemos a observar rigorosamente as normas e as indicações que nos são dadas pelas autoridades”, declarou.
Na Sé de Vila Real, D. António Augusto Azevedo falou num “tempo especial”, com isolamento social, mas de “comunhão” espiritual.
“A caminho da Páscoa que se aproxima, que será uma Páscoa diferente, cada um de nós se reencontre com a luz da fé, redescubra Jesus Cristo que nos guia e ampara”, desejou.
D. João Lavrador presidiu à Eucaristia na Sé de Angra, difundida pela VITEC Azores, um canal de televisão por cabo, e desafiou os diocesanos a aproveitarem este tempo da Quaresma, vivido “de forma tão anómala e com tantas privações, até da Eucaristia” para se renovarem.
“É o tempo da família, da interioridade em que nos devemos pensar a nós e ao mundo; é o tempo de renovarmos as relações entre nós, para que quando nos for devolvida a possibilidade da convivência humana, sensível e social, já estejamos renovados por uma experiência interior nova. Por isso, acho que algo de novo e de útil poderemos tirar desta experiência dramática”, disse o bispo da Diocese de Angra.
Na RTP, D. Joaquim Mendes, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, comentou a passagem do Evangelho segundo São João sobre a cura de um cego de nascença e a reação das pessoas que assistiram ao episódio.
“Jesus nega que haja qualquer relação entre o pecado e a enfermidade. Para Jesus, a cegueira não é um castigo, mas ocasião para se manifestar o poder, a bondade e a misericórdia de Deus”, precisou.
Este sábado, desde a Capela da Casa Arquiepiscopal de Évora, D. Francisco Senra Coelho homenageou “todos os que, nas paróquias, se esforçam por manter viva a comunidade”, em particular com as novas tecnologias.
“Não deixemos ninguém só”, pediu.
Em Braga, D. Jorge Ortiga rezou no sábado “pelos trabalhadores e empresários”, sublinhando que o mundo do trabalho vive um momento cheio de “interrogações” e “dúvidas em relação ao futuro”; já este domingo, o arcebispo primaz rezou pela proteção divina diante da atual pandemia.
“Somos um povo orante, um povo confiante, Deus ouvirá as nossas preces”, declarou.
D. José Ornelas, bispo de Setúbal, falou hoje em “tempos especiais”, evocando as pessoas mais fragilizadas, em particular as pessoas que estão nos lares de idosos.
“Participemos responsavelmente no esforço comum para vencer esta enorme crise”, apelou.
Do Paço Episcopal de Faro, D. Manuel Quintas convidou à oração por “todos os infetados” e os que cuidam deles, elogiando a “exemplar dedicação” dos profissionais de saúde.
O bispo do Algarve defendeu um compromisso comum para minorar os “efeitos nefastos” da propagação do novo coronavírus: “Não devemos desistir, não devemos desanimar”.
Em Aveiro, D. António Moiteiro presidiu à Missa na Catedral local, convidando a uma “consagração das famílias”, na próxima quarta-feira, pelas 21h00, com a sugestão de que se coloque nas janelas das casas uma vela ou uma lâmpada, “sinal da presença salvadora de Deus”.
O responsável católico criticou ainda mensagens que levam a “falsos alarmismos”, com base em passagens bíblicas, particularmente do livro do Apocalipse.
Também o reitor do Santuário de Fátima criticou esta manhã as teses que circulam nalgumas redes sociais afirmando que esta pandemia provocada pelo COVID-19 é “um castigo de Deus”.
“É preciso que digamos perante essas interpretações que não são cristãs nem evangélicas. Do ponto de vista da fé, por muito devotas que elas sejam, nada têm que ver com Jesus Cristo” afirmou o padre Carlos Cabecinhas, citado pelos serviços de informação do Santuário.
D. António Luciano, bispo de Viseu, defendeu a importância da “solidariedade”, num momento de dor e sofrimento em que muitos procuram “um sentido novo” para a vida.
A Conferência Episcopal Portuguesa convocou um momento de oração nacional, a 25 de março, solenidade da Anunciação do Senhor, perante a pandemia do Covid-19, com a “renovação da consagração de Portugal ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria”.
A oração do Rosário vai ser transmitida por várias plataformas digitais de rádio e televisão, com início às 18h30, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário do Santuário de Fátima; será presidida pelo cardeal António Marto, vice-presidente da CEP.
OC