Em entrevista conjunta Renascença/Ecclesia, D. Manuel Linda olha ainda para os dois anos à frente da diocese
Porto, 17 abr 2020 (Ecclesia) – O bispo do Porto pediu ao Governo que “desça à realidade”, perante o impacto da Covid-19 nas instituições sociais que acompanham a população mais velha, destacando o trabalho dos municípios, neste campo.
“Eu ponho mais confiança nas estruturas locais, concretamente nas Câmaras Municipais, que têm dado exemplo de extrema dedicação”, refere, na entrevista conjunta à Renascença/ECCLESIA, publicada e transmitida semanalmente à sexta-feira.
Segundo o responsável católico, “são as Câmaras Municipais que estão a fazer os testes que o Ministério da Saúde não fez, até ao momento, aos velhinhos”.
“Eu não sei se, de facto, as estruturas nacionais, a nível da saúde, estão a dar-se conta do que é o problema dos nossos lares. Porque dizendo assim: cheguem lá e confinem-nos, no quarto isolado, devem ter um conjunto de trabalhadores para substituir”, aponta.
Mas quem está a dizer? Algum lar tem dois ou três grupos, um para o trabalho efetivo e outro de suplência? Quando uma parte significativa dos nossos trabalhadores uma parte está infetada?”.
O bispo do Porto considera que “fazer esquemas no papel é a mesma coisa que agredir o bom senso”, apelando a uma ação coordenada com as estruturas diretivas das instituições de solidariedade e as Câmaras Municipais, afirmando que as mesmas têm “sido impecáveis, inacreditáveis nessa presença”.
“Este não é o momento de nos dividir, mas de nos juntarmos; não obstante nem tudo está a funcionar bem a nível nacional”, acrescenta.
Na semana em que passam dois anos da sua entrada solene na Diocese do Porto (15 de abril de 2018), D. Manuel Linda admite receios perante a dimensão da crise económica, caso se prolongue no tempo a necessidade de isolamento social.
As consequências já se começam a sentir no centro da própria cidade do Porto, onde um dos centros paroquiais que estava a servir cerca de 100 refeições “está neste momento a servir 350”.
O entrevistado admite que possa “haver paróquias que vão ter dificuldades em pagar aos seus funcionários”, mas considera prematuro falar-se de um possível recurso ao Lay-off.
“Fas mais sentido tentar analisar caso a caso, para depois se pensar o tipo de intervenção”, refere D. Manuel Linda, embora reconheça que “tudo depende do tempo em que esta situação se mantiver”.
A suspensão das celebrações comunitárias, desde a segunda semana de março, tem também implicações ao nível da dimensão solidária da Diocese do Porto, a começar pela tradicional renúncia quaresmal, que em 2020 estava destinada à aquisição de camas de emergência para os sem-abrigo.
“Obviamente que não tendo havido uma celebração normal da Quaresma, não tendo havido depósito dessas ofertas nas caixas de esmolas, estou a imaginar que a rentabilidade desses ofertórios será praticamente nulo”, precisa o responsável católico.
Sobre a situação financeira da diocese, o bispo do Porto afirma que “todas as dividas foram saldadas” e existe mesmo um “saldo positivo”.
Falando numa “diocese absolutamente extraordinária, bem estruturada com imensas possibilidades”, D. Manuel Linda elogia o clero e os leigos que assumem vários serviços diocesanos, admitindo que a comunicação diocesana “tem de ser repensada, porque as estruturas e os tempos de hoje exigem mais”.
“A Igreja em Portugal está também a ver as possibilidades de uniformizar critérios, e de constituir, de alguma maneira uma grande central de comunicação”, acrescenta.
Henrique Cunha (Renascença)/Agência ECCLESIA