COP30: Organizações portuguesas defendem que é preciso «correr mais» para atingir metas sobre alterações climáticas, contestando descrédito do multilateralismo e «desinformação»

Fundação Fé e Cooperação e Oikos vão estar representadas na cimeira do clima, que este ano acontece em Belém, no Brasil

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 10 nov 2025 (Ecclesia) – As organizações portuguesas Fundação Fé e Cooperação (FEC) e Oikos consideram que é necessário avançar mais rápido rumo às metas estabelecidas para mitigar efeitos das alterações climáticas, contestando o descrédito do multilateralismo e a desinformação.

“Há progressos, há muito caminho ainda a ser feito, como diria António Guterres no ano passado, nós estamos a começar a andar quando já devíamos estar a correr, e, portanto, vamos ter que correr mais, vamos ter que sprintar mais, que é para conseguir atingir essas metas”, afirmou José Luís Monteiro, da Oikos, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje (15h, RTP2).

O responsável vai representar, a partir de 14 de novembro, a Oikos – Cooperação e Desenvolvimento na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que arranca hoje em Belém do Pará (Brasil), que vai contar também com a participação da FEC, a partir de 17 de novembro.

José Luís Monteiro considera que o mundo vive um momento em que tem um “pedregulho muito grande” à sua frente, em que a ideias “do multilateralismo” e de pensar “em conjunto” para resolver os problemas que “são de todos” estão em causa.

O entrevistado assinala que existem nações com atores principais que contribuem para este resultado, no entanto “há mais países no mundo a tentar avançar do que aqueles que estão a tentar manter o status quo”.

Sobre a realização de mais uma edição da COP, Catarina António, gestora de projetos na Fundação Fé e Cooperação, convida a ver estas cimeiras como um “caminho que está a ser feito”, a cada ano “a tentar ter acordos mais ambiciosos” e “compromissos mais eficientes e que se cumpram efetivamente”.

“É um processo contínuo, isto é uma coisa que não se vai resolver numa COP, não se vai chegar a um acordo que seja bom para todos, são muitos países, são muitos condicionalismos de cada país e, portanto, a cada ano é mais um compromisso, é mais um passo”, indicou.

Belém, no Brasil, é este ano a anfitriã da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, uma geografia que, para José Luís Monteiro, infelizmente não vai ser tida em conta, uma vez que o “governo brasileiro já anunciou que vai abrir a foz do Amazonas à exploração petrolífera”.

“Neste momento é um sinal muito mau dizermos, olha, estamos aqui perto de um dos pulmões da terra e estamos aqui a começar um processo que pode piorar esse pulmão, mas também, ao mesmo tempo, pode piorar o oceano, que é o outro pulmão grande que temos”, referiu.

Segundo o responsável, “é um desrespeito com o Amazonas, é um desrespeito com os povos indígenas e é um desrespeito com o mundo inteiro” avançar por este lado.

Sobre a ausência de representantes de alto nível dos EUA na COP30, Catarina António considera que esta decisão é algo que não augura “nada de bom”, realçando que “é preocupante perceber que um dos países que tem tanto peso e que mais contribui para que haja também crises climáticas”, “não vai estar presente” e “não se compromete”.

José Luís Monteiro fala que existe uma campanha de desinformação em relação ao tema das alteração climáticas que já vem de há muito tempo e que tem vindo a piorar.

“Vamos tendo já as pessoas abertas a ideias que são cada vez mais estranhas. Dizer que não existem alterações climáticas é de um nível de estupidez que eu acho que é particularmente incrível”, disse.

O responsável assume que era muito importante a representação dos EUA “enquanto país inteiro”, “mas há forças que continuam a trabalhar”, mesmo dentro do país, “para que as coisas continuem a acontecer”.

Relativamente ao envolvimento de Portugal na questão da consciencialização e ação sobre as alterações climáticas, José Luís Monteiro entende que “há um trabalho que está a ser feito”, destacando o setor das energias renováveis.

“Portugal pode liderar em alguns aspetos e os portugueses estão muito abertos a uma série de coisas, também estão muito abertos a desinformação e, portanto, neste momento, por exemplo, entre as gerações mais jovens temos, entre os que estão muito preocupados e mesmo preocupados, alguns estão quase em desespero, e temos uns que dizem: ‘não, isso não há problema, isso não acontece’”, salienta.

A poucos dias de estar presente na COP30, a FEC lançou hoje um comunicado, com seis linhas de ação que considera que a COP30 deve garantir.

Entre elas estão “assegurar a coerência nos financiamentos climáticos no âmbito da Ajuda Pública ao Desenvolvimento”, garantir “uma contribuição ativa e empenhada na proteção, preservação, gestão e governação sustentável dos bens públicos globais” e “priorizar a inclusão, diversidade e equidade no nexo alterações climáticas-desenvolvimento”.

A FEC deseja também que a cimeira do clima assegure “que a neutralidade carbónica seja uma meta vinculativa”, cancele “as dívidas dos países pobres” e fortaleça “o Fundo de Perdas e Danos”.

A organização assinala o arranque da 30º Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, assinalando que “o tom é de urgência, no meio do ruído das câmaras e da sub-representação de partes importantes, como os EUA”.

Os esforços para conter o aquecimento global não têm sido suficientes, e o debate sobre o tema é permeado por desinformação, interesses económicos imediatos e descrédito do multilateralismo. Apesar de tudo, as expetativas para a COP30 são enormes”, pode ler-se.

A ONG destaca que “passados dez anos do Acordo de Paris, o mundo está longe do objetivo então estabelecido de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C” e ressalta que “as consequências das alterações climáticas são evidentes, com o agravamento da severidade dos fenómenos atmosféricos e todos os efeitos daí decorrentes, como as migrações relacionadas com questões ambientais”.

A FEC aborda ainda os resultados do Relatório sobre a Trajetória das Emissões 2025, das Nações Unidas, que avança “com uma projeção de aquecimento global para este século (entre 2,3°C e 2,5°C) ainda longe da meta desejada”.

“Acresce o facto de, à data de publicação deste relatório, somente 60 países terem apresentado as suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC – Nationally Determined Contribution), que definem os planos de ação para reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa”, lembra.

Segundo Catarina António, gestora de projetos na FEC, “Belém é uma oportunidade” para todos escolherem “coletivamente o futuro” em que querem viver.

É uma escolha entre a desconfiança e o medo, por um lado, e a abertura ao outro, o entendimento e a vontade de caminhar de forma partilhada e fraterna nesta ‘Casa Comum’, por outro”, afirmou no comunicado.

LS/LJ/OC

Partilhar:
Scroll to Top