COP30: «Eu adorava o som da chuva. Agora, cada gota traz medo», afirma sobrevivente de supertufão, em evento da Caritas Internacional

Iniciativa incluiu testemunhos da Ásia e da América Latina que exigiram justiça climática  

Foto: Cáritas/Marcus Túlio Oliveira Neto

Lisboa, 12 nov 2025 (Ecclesia) – Joy Reyes, sobrevivente do supertufão Ulysses que atingiu as Filipinas em 2020, lembrou esta terça-feira as consequências que este fenómeno teve na sua vida, num evento organizado pela confederação internacional da Cáritas, no Brasil, no âmbito da COP30.

“Eu adorava o som da chuva. Agora cada gota traz medo”, afirmou a ativista climática, em Belém, citada por um comunicado da organização enviado à Agência ECCLESIA.

“O Imperativo Moral do Financiamento Climático: Abordando a Dívida Ecológica em Ano Jubilar” foi o tema da iniciativa, organizada em parceria com a CAFOD, agência oficial católica de Ajuda de Inglaterra e País de Gales, Catholic Relief Services (CRS), agência humanitária internacional dos bispos dos EUA, o Grupo de Trabalho sobre Dívida e Clima e Living Laudato Si’ Philippines.

“Resiliência não é justiça. Não queremos ser resilientes. Não estamos implorando por misericórdia. Estamos exigindo responsabilidade”, referiu Joy Reyes.

A ativista climática lembrou que teve que transportar os avós para o andar superior enquanto as águas da enchente invadiam a sua casa.

O evento contou também com a participação do bispo D. Pablo Virgilio David, presidente da Conferência Episcopal Católica das Filipinas, que abordou os efeitos devastadores dos ciclones e tufões recorrentes que assolam o país.

“Para aqueles que ainda negam os efeitos das alterações climáticas, convido-os gentilmente a viver connosco por um ano no país mais propenso a desastres do mundo”, referiu.

O cardeal pediu uma mudança dos empréstimos para a restituição, observando o grave desequilíbrio em 2022, quando os países em desenvolvimento pagaram mais em dívidas do que aquilo que receberam em financiamento climático privado, a maior parte na forma de empréstimos.

Da América latina, Carola Micaela Mejía, economista boliviana e coordenadora de Justiça Climática da LATINDADD, referiu que “a dívida é um instrumento neocolonial”.

“Ela mantém as nações dependentes, mesmo quando elas enfrentam a linha de frente da destruição climática”, assinalou, tendo citado dados que mostram que a América latina gasta três vezes mais com o serviço da dívida do que com saúde e educação.

Lucas D’Ávila, coordenador nacional de Meio Ambiente, Risco e Gestão de Emergências da Caritas Brasil, partilhou as evidências de um estudo realizado em 14 territórios, afirmando que “a pobreza e a vulnerabilidade climática são dois lados da mesma moeda”.

“No Brasil, 80% das famílias estão endividadas e os gastos sociais são reduzidos pelos pagamentos de juros. No entanto, as comunidades não são passivas”, indicou.

O responsável deu o exemplo de grupos financeiros solidários, casas de sementes e bancos comunitários que apoiam milhares de pessoas em toda a região.

Gillian Martin, secretária de Gabinete para Ação Climática e Energia da Escócia, destacou a liderança do país na promoção da justiça climática real, para além das promessas.

A governante deu conta que o primeiro-ministro John Swinney instou os ministros a envolverem-se diretamente com as comunidades da África Oriental que beneficiam dos programas de justiça climática e perdas e danos da Escócia, após uma visita à Zâmbia e ao Maláui.

Gillian Martin salientou que a Escócia trata o financiamento climático como um investimento em vidas, não como um gesto de caridade, e apelou às economias maiores para que passem da promessa à prática.

No final do debate, os oradores alertaram contra «soluções falsas», como as trocas de dívida, que permitem que tudo continue como habitualmente, oferecendo a ilusão de progresso.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) decorre entre os dias 10 e 21 de novembro, na cidade brasileira de Belém, no Pará.

LJ

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