Responsável da Oikos defende que é preciso resolver problema relacionado com a dívida externa dos países mais pobres, que impede nações de investirem «em educação, combates às alterações climáticas, saúde»
Lisboa, 14 nov 2024 (Ecclesia) – José Luís Monteiro, da Oikos – Cooperação e Desenvolvimento, afirmou que, perante as alterações climáticas, todos deveriam estar a correr e, no enanto, neste momento, estão a ser dados “pequenos passos”.
“A nossa meta de sustentabilidade para o planeta não se coaduna, os timings não se coadunam com estarmos ainda a dar pequenos passos, mas esses passos têm de ser dados. Para podermos começar a correr temos de dar esses passos”, afirmou, em entrevista ao programa Ecclesia, transmitido hoje na RTP2.
José Luís Monteiro espera que na 29º Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas [COP29], que decorre em Baku, no Azerbaijão, entre os dias 11 e 22 de novembro, “se dê mais um passo grande” e que no próximo ano se entre “em sprint”.
“Paris foi um momento de esperança e desde então têm sido sucessivos pequenos passos. Há coisas que é preciso perceber que demoram a ser montadas e demoram a ser estabelecidas. No entanto, se estivéssemos todos orientados para o mesmo lado, julgo que já se poderia ter avançado bastante”, destaca.
Num discurso lido pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, o Papa pediu que cimeira das Nações Unidas sobre as alterações climáticas promova uma “nova arquitetura financeira internacional”, com perdão da dívida aos países pobres.
“Os apelos têm chegado de vários lados. O Papa Francisco fez um apelo importantíssimo. O Secretário-Geral das Nações Unidas também fez um apelo importante e com discurso bastante incisivo sobre a situação atual”, salientou o entrevistado.
Segundo José Luís Monteiro, “é preciso resolver” o problema relacionado com a dívida externa dos países mais pobres, realçando que “muitas vezes boa parte dessa dívida não é uma dívida legítima, não é uma dívida que foi contraída em prol das suas populações”, impedindo que estas nações invistam “em educação, combates às alterações climáticas, saúde”.
“Portugal tem feito no quadro da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] algumas coisas interessantes com as trocas de dívida, a conversão de dívida em investimento climático e ambiental. Outros países estão também a seguir o exemplo e, portanto, há aqui uma abertura para se fazer mais e melhor”, indica.
Sobre a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América e o impacto que poderá ter para as metas do clima, José Luís Monteiro refere que este é “mais um ponto de risco” para o que se pretende atingir.
“Eu lembro que [Donald] Trump quando ganhou as outras eleições também foi durante uma COP de Marraquexe e eu lembro-me de chegar à COP e a delegação norte-americana estar desolada”, recorda.
Fundada em Portugal em 1988, a Oikos, Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD), tem projetos no terreno em diferentes partes do planeta, destacando-se a América Latina, onde as “catástrofes são cada vez mais regulares”, explica José Luís Monteiro.
“Nós temos que não só preparar aquilo que estamos a fazer em termos de desenvolvimento para resistir a essas catástrofes, mas muitas vezes também interromper aquilo que estamos a fazer para responder às situações de emergência e sobretudo Moçambique, que é um país enorme e que muitas vezes enfrenta coisas como secas no sul, cheias no norte”, dá conta.
Segundo José Luís Monteiro, a Oikos procura criar “uma cultura” de sustentabilidade e de “resiliência”, junto das populações.
“Esta visão a mais longo prazo, se calhar pensar na próxima geração, é algo que temos estado a fazer e que temos estado a incluir no nosso trabalho cada vez mais e com os nossos parceiros e com outras ONGs e cada vez mais as populações também são cientes e são abertas a propostas um bocadinho mais à frente”, adianta.
LJ/OC
COP29: Papa defende «nova arquitetura financeira internacional» no combate às alterações climáticas