Pavilhão português na COP28 e investimento no trabalho governamental são boas notícias, no meio de uma cimeira do clima que «está suspensa, parada e no limbo»
Sharm El Sheikh, Egito, 17 nov 2022 (Ecclesia) – José Luís Monteiro, da Oikos, em representação da Plataforma Portuguesa das Organizações não-governamentais na COP27, afirmou a vontade de Portugal avançar mais nas negociações apesar de “ser limitado e pequeno” e antecipou “o desejo” de um pavilhão lusófono na COP28.
“O Ministério do Ambiente irá dar maior destaque e trabalhar mais nestas questões e manifestou o desejo de ter uma presença mais forte na próxima COP28 com um pavilhão com espaço para a lusofonia e para a sociedade portuguesa participarem”, adiantou à Agência ECCLESIA o participante na cimeira do Clima que decorre em Sharm El Sheikh, no Egito.
Após um encontro, esta quarta-feira, entre o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e os participantes portugueses na conferência do clima, José Luís Monteiro destaca a “força que Portugal está a fazer junto da União Europeia para posições mais fortes e progressivas”.
“A noção que tenho é que as negociações (na conferência do clima) seriam mais fáceis com Portugal do que com outros países. Portugal é limitado no tamanho e influência, mas temos visto com bons olhos o caminho. Cada vez mais o governo percebe que a sociedade civil é parceira. Fazemos barulho e apresentamos reivindicações justas, facilitamos a tomadas de posições governamentais. Há um trabalho que cada vez mais tem uma componente de parceria, mesmo que seja crítica. Há caminhos a apontar quando o rumo tem de ser reorientado”, sublinha.
O representante da Plataforma das ONG enaltece ainda o aumento português em um milhão para o fundo de adaptação (atingindo os cinco milhões), que se destina a ajudar os países mais afetados pelas alterações climáticas mas afirma ser ainda necessário encontrar mecanismos de garantia do destino das verbas e a sua aplicação na cooperação.
A COP27 tem data de encerramento para esta sexta-feira mas José Luís Monteiro afirma que o “draft de 20 páginas para o documento final não agradou nem a países desenvolvidos nem a países em vias de desenvolvimento”.
“É muito difícil reparar o texto e esta COP27 vai ficar suspensa no limbo, meio parada. Há boas notícias, mas muita coisa que ficou parada”, regista.
“A principal boa notícia é que se temia que a União Europeia, face aos problemas energéticos, recuasse nas metas de redução de emissões dos 55% para 2023, mas isso não aconteceu. Manteve as metas e diz que será possível ir mais longe com as medidas que tem em curso, atingindo os 57%”, adianta.
Sobre as perdas e danos, o mecanismo que visa compensar os países que mais sofrem com as alterações climáticas e menos impacto têm no seu aumento, “continua ma mesma”.
“Um passo à frente, um passo ao lado, um passo atrás. Não há avanços. A primeira vez em que se falou nas perdas e danos foi em 1991, e desde então não se concretizou. Alguns países dizem que podem colocar algum dinheiro direcionado para perdas e danos, mas a União Europeia não quer um mecanismo novo, mas antes ver isso acrescentado a mecanismos já existentes e direcionado a países vulneráveis. Estamos ainda a muita distância do que se deve fazer. Eu sinto que há boa vontade das várias partes em chegar a algum lado, mas há muitas forças de bloqueio”, lamenta.
José Luís Monteiro afirma que o funcionamento das Conferências do clima “têm de mudar”, tornando-se “mais eficazes, com maior motor de decisão”.
Sobre a possível realização da COP30 na Amazónia, segundo intenção do presidente eleito do Brasil, Lula da Silva, o representante da Plataforma das ONG’s saúda enquanto “espaço para a lusofonia se afirmar” mas é perentório: “Espero para ver”.
A COP27, que decorre até 18 de novembro, reúne decisores políticos, académicos e organizações não-governamentais, com o objetivo de travar o aquecimento global do planeta, entre outras metas.
LS