COP21: Sapatos do Papa em Paris para «Marcha Global pelo Clima»

Ato simbólico é acompanhado por referência à encíclica ‘Laudato si’

Paris, 29 nov 2015 (Ecclesia) – O Papa associou-se ao gesto simbólico que substitui a Marcha Global pelo Clima, prevista para hoje em Paris e que foi cancelada devido aos recentes atentados terroristas, cedendo um par de sapatos, dispostos na Praça da República.

Os sapatos de Francisco estão identificados com o seu nome e uma referência à encíclica ‘Laudato si’, publicada em junho deste ano, tendo em vista precisamente a Conferência da ONU sobre as Alterações Climáticas (COP21), que vai decorrer entre segunda-feira e 11 de dezembro, na capital francesa.

A Marcha Global pelo Clima vai também realizar-se em várias cidades do mundo, incluindo em oito localidades de Portugal.

O Papa propõe na sua encíclica ‘Laudato si’ uma mudança de fundo na relação da humanidade com o meio ambiente, alertando para as consequências já visíveis do aquecimento global e das alterações climáticas.

“As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade”, escreve Francisco, que assina o primeiro documento do género inteiramente dedicado a questões ecológicas.

O texto fala numa “raiz humana” da crise ecológica, que o Papa diz ser possível superar, entre outras medidas, “substituindo os combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável”.

Nesse sentido, o documento contesta um modelo de desenvolvimento baseado no “uso intensivo de combustíveis fósseis”, que está no centro do sistema energético mundial.

“A tecnologia baseada nos combustíveis fósseis – altamente poluentes, sobretudo o carvão mas também o petróleo e, em menor medida, o gás – deve ser substituída, progressivamente e sem demora”, apela.

O Papa argentino defende ainda a necessidade de uma redução de gases com efeito de estufa, o que “requer honestidade, coragem e responsabilidade, sobretudo dos países mais poderosos e mais poluentes”.

A encíclica admite que há outros fatores que contribuem para as alterações climáticas, mas recorre a conclusões de “numerosos estudos científicos” para sustentar que “a maior parte” do aquecimento global se deve “à alta concentração de gases com efeito de estufa”, emitidos sobretudo “por causa da atividade humana”.

“As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia”, avisa Francisco, para quem o atual ritmo de “consumo, desperdício e alteração do meio ambiente” é insustentável e vai “desembocar em catástrofes”.

Face ao atual debate na comunidade científica e política, o Papa propõe que se siga o “princípio de precaução”, que permite a proteção dos mais fracos, com “poucos meios para se defender e fornecer provas irrefutáveis”.

A encíclica com 246 números, divididos em seis capítulos, fala da “relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta” e lança várias críticas a um “novo paradigma e formas de poder que derivam da tecnologia”, desafiando a comunidade internacional a “procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso”.

Francisco convida a reconhecer “o valor próprio de cada criatura”, o “sentido humano da ecologia”, e considera que face a temas tão complexos existe a necessidade de “debates sinceros e honestos”.

“Se a tendência atual se mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e duma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para todos nós”, alerta.

OC

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Agência ECCLESIA

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