Animadora do movimento ‘Laudato Si’ olha para o seu percurso desde a veterinária à cooperação para o desenvolvimento humano integral e a forma como a encíclica de 2015, escrita pelo Papa Francisco, confirma o caminho da conversão ecológica

Lisboa, 25 jun 2025 (Ecclesia) – Susana Refega disse que o Papa Francisco trouxe a “dimensão moral” para a discussão sobre as alterações climáticas, contribuindo para que a análise e o compromisso não ficasse dependente de questões “económicas e políticas”.
“O Papa Francisco conseguiu trazer para a discussão das alterações climáticas uma dimensão moral, que não estava presente e que é fundamental para as decisões que venham a ser tomadas. Já não é só uma questão económica, social, ambiental – é uma questão moral. O Vaticano tem tido uma relevância particular nestas discussões”, disse à Agência ECCLESIA a animadora do Movimento Laudato Si.
Depois de 12 anos como diretora executiva da Fundação Fé e Cooperação, organização não-governamental da Conferência Episcopal Portuguesa, e de ter sido diretora executiva do Movimento Laudato Si, a que ainda está ligada como animadora, Susana Refega procura hoje ligar a sua experiência à procura do conhecimento que uma nova geração persegue na área da Cooperação e Desenvolvimento Humano Integral, contrariando um “divórcio” entre quem está “na linha da frente” e o mundo da universidade.
“Eu sou de uma geração em que ninguém da Cooperação tinha um percurso académico na área. Ele tem vindo a ser profissionalizado. Com a experiência acumulada, apesar de não ser uma académica, sinto como missão a partilha desse conhecimento e tem sido muito estimulante encontrar estudantes, ser questionada, desconstruir preconceitos e olhar para o papel que a sociedade civil está a ocupar”, explica.
Susana Refega identifica atores em diferentes escalas impulsionadores de mudança, seja num contexto macro como micro: na partilha diária que as irmãzinhas dos pobres fazem nos bairros da periferia; as organizações que integram o Movimento Laudato Si, com implementação mundial diversa – no Equador, por exemplo, perante a exploração de minério num parque natural, pediram um referendo e acabou por chumbar o projeto; os encontros internacionais onde a advocacia social procura influenciar os decisores políticos e religiosos.
Em 2015, com a publicação da encíclica «Laudato Si», escrita pelo Papa Francisco que incide sobre conversão ecológica e o desenvolvimento humano integral, Susana Refega encontra a “confirmação” para o caminho que tem desenvolvido.
“A ‘Laudato Si’ foi uma epifania e uma confirmação. Já tínhamos a experiência de perceber o impacto das alterações climáticas junto dos mais pobres, e o facto de aqueles que menos contribuíram para as alterações climáticas serem os primeiros a ser impactados – mas a encíclica ajudou a perceber a dimensão espiritual na dimensão social do nosso trabalho”, reconhece.
O Movimento Laudato Si é, explica a animadora, um movimento de base, que acolhe todos – “muitas vezes melhor acolhido fora da Igreja do que dentro” – “fortemente sinodal”, e que vai convocando à conversão em diferentes dimensões.
“A conversão ecológica tem de começar pelo coração de cada um; uma conversão sustentável traduzida nas vidas de cada pessoa e nas suas organizações; uma dimensão profética que toque decisões políticas necessárias para responder à emergência climática”, traduz.
Susana Refega reconhece ter crescido num grupo eclético de amigos, “muitos sem pertença à Igreja” e olha para o seu percurso feito de procuras pessoais em diferentes contextos: Comunidade ecuménica de Taizé, Irmãzinhas dos pobres e Charles de Foucauld e a espiritualidade inaciana que conheceu quando fez formação junto da organização Leigos para o Desenvolvimento, tendo partido em missão para Benguela, inicialmente por um ano, mas tendo ficado dois.
“Em África fui feliz, encontrei em Angola a minha vocação. O que eu experimentava de alegria, de propósito, de sentido, era muito forte e estava precisamente numa conjugação de fé e vida: por um lado uma vida comunitária com uma forte dimensão de oração; por outro lado um compromisso social no trabalho que desenvolvíamos todos os dias. Apesar do contexto ser adverso – em 1997 ainda se vivia a guerra civil e apesar de não ser no local onde eu estava, sentia-se – eu sentia alegria por estar ali”, recorda.
No regresso, experimentando um desajuste e sentindo-se perdida, Susana Refega ruma a Paris, França, onde estava o namorado e inscreve-se num doutoramento em Biologia Celular e Molecular e desenvolve investigação em parasitas, num caminho que a fez perceber que a sua vocação teria de estar ligada ao desenvolvimento humano e integral.
A conversa com Susana Refega pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, emitido esta noite na Antena 1, depois da meia-noite, e disponibilizada no podcast «Alarga a tua tenda».
LS