Reflexões de D. Teodoro de Faria no Ano da Eucaristia Um dos meios que a Igreja, por mandato de Jesus, nos concede para sermos reconciliados com Deus, com nós próprios e com os outros, é a confissão ou o sacramento da Reconciliação. Neste sacramento encontramos Jesus Cristo que perdoa os pecados, liberta dos sentimentos de culpa e infunde a sua graça para nos tornar fortes perante as tentações. 1. «O tempo cumpriu-se, o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc. 1, 15). Desde quarta-feira de cinzas, início da Quaresma, os cristãos são chamados à conversão do coração, o que não significa somente receber o sacramento da Reconciliação, mas que a conversão faz parte integrante da vida cristã. Porque Deus nos enviou Jesus Cristo, que veio ao nosso encontro, temos de nos voltar para Ele, e não colocar a nossa vida a girar continuamente à volta de nós próprios. Quando Jesus Cristo nos convida à conversão, Ele interroga-nos: A tua maneira de existir conduz à vida ou à morte, ao vazio de ti mesmo ou a um serviço agradável a Deus e ao teu próximo? Converter-se, palavra tão frequente já no Antigo Testamento como nos recordam as leituras das missas da Quaresma, significa voltar-se para Deus e, na medida em que me volto e avanço com Jesus Cristo, conheço-me a mim mesmo e fico mais livre do medo de tantas vozes e insinuações que nos prometem a vida e não nos libertam interiormente. Quando Jesus nos chama à conversão, convida-nos à vida. Se alguém, mesmo que seja um pregador ao falar de conversão, mais do que uma boa nova de alegria e felicidade transmitir medo e ameaçar com o fogo do inferno, esse afasta-se da mensagem de Jesus que nos fala dum Deus de misericórdia e perdão que vem ao nosso encontro. Converter-se significa descobrir Deus e a sua bondade que se revela em todas as coisas dentro de nós, e nos faz conhecer a nós mesmos, nos outros e em toda a obra da criação. Só com o olhar semelhante ao de Jesus Cristo conseguiremos descobrir aquele Deus que vem ao nosso encontro através das outras pessoas, principalmente nos pobres e marginados, dos nossos pensamentos, das nossas palavras e acções, dos nossos pecados e desejo de arrependimento e mudança de vida. O Deus que nos ama, sabendo que nós somos pecadores, não nos quer destruir, nem condenar-nos, mas estender a sua mão para nos levantar. Converter-se é recomeçar tudo de novo, na alegria de um Deus que ama e nos livra dos medos interiores que nos humilham e envergonham. Temos de interrogar-nos sempre: qual é a vontade de Deus, neste momento concreto da minha vida? Sozinhos, será difícil, árduo e muito raro, encontrar o nosso próprio caminho para a felicidade. A medicina da Palavra divina 2 – Um dos meios que a Igreja, por mandato de Jesus, nos concede para sermos reconciliados com Deus, com nós próprios e com os outros, é a confissão ou o sacramento da Reconciliação. Neste sacramento encontramos Jesus Cristo que perdoa os pecados, liberta dos sentimentos de culpa e infunde a sua graça para nos tornar fortes perante as tentações. Após a confissão, é certo, o cristão continua a viver com os seus problemas quotidianos e até com as suas faltas, mas no sacramento recebeu uma força espiritual para recomeçar de novo e estar mais atento aos seus defeitos dominantes. Precisamos de renascer cada dia, como o sol que, após a noite, ilumina a natureza e alegra os nossos olhos com a beleza da sua luz. Algumas pessoas não gostam de confessar-se, é normal que isso aconteça, depende da sua formação, carácter, reserva interior, sentimento de culpa etc., o que deve pensar, porém, é que o sacramento é bem para si, pois é uma proposta de cura e de salvação oferecida por Deus. Sob o aspecto teológico, só os pecados mortais devem ser confessados, ou seja aquelas faltas em que plenamente livres tomamos uma decisão grave contra Deus. Habitualmente os pecados são fruto da fragilidade humana, da violência das paixões e emoções, e podem não atingir a gravidade de uma decisão contra Deus. A confissão, nestes casos, ajuda a curar a raiz do mal. Quando a pessoa cometeu uma falta e sente-se excluída da comunidade, ela precisa de ouvir uma voz, em nome de Deus, que lhe diga que foi reconciliada consigo e com os irmãos. Os psiquiatras e psicólogos, por mais peritos que sejam, não têm um rito através do qual penetrem no mais profundo da alma humana e concedam o perdão das culpas do seu cliente. A confissão, com a declaração dos pecados, aparece em quase todas as religiões, porque se a relação com Deus foi interrompida, só através do reconhecimento das faltas se restabelece a paz com Deus. Contudo, só no cristianismo há um sacramento, instituído por Jesus Cristo, para o perdão dos pecados. É uma riqueza para os homens e mulheres de todos os tempos, contanto que a reconciliação seja apresentada e celebrada como acção libertadora e salvífica de Deus, que não deixa no cristão medo nem traumas. Diziam os Padres da Igreja: quem conhece os próprios pecados, é maior de quem faz milagres e ressuscita mortos. O dom da indulgência 3 – No Ano da Eucaristia, o Papa João Paulo II, a fim de promover o culto ao Santíssimo Sacramento, concede a Indulgência Plenária aos fiéis que confessados, tendo recebido a Eucaristia e orado segundo as intenções do Papa, sem apego a qualquer pecado, participem numa função sagrada ou num exercício piedoso em honra do Santíssimo Sacramento. Aos clérigos e leigos que recitarem o Ofício Divino, ou as Vésperas e Completas diante do tabernáculo, é concedida a mesma Indulgência Plenária e nas mesmas condições. Os que estão impedidos por doença ou velhice de visitar o Santíssimo Sacramento podem obter a Indulgência na própria casa, recitando o Pai Nosso e o Credo, acrescentando uma jaculatória a Jesus Sacramentado, com intenção de cumprir, logo que possível, as três condições enunciadas acima. Aqueles doentes que nem sequer isto puderem fazer, obterão a mesma Indulgência se se unirem interiormente a todos os que praticam as obras prescritas para a Indulgência e oferecerem a Deus as suas enfermidades e sofrimentos, com o propósito de cumprir, quando puderem as três condições – confissão, missa e oração pelo Santo Padre. Este dom da Indulgência estende-se a todo o Ano Eucarístico que termina no próximo mês de Outubro. A Igreja que canta o Magnificat é a mesma que reza o Miserere. Funchal, 27 de Fevereiro de 2005, † Teodoro de Faria, Bispo do Funchal