António Bagão Félix lembra que, em cada dia, há mais 30 pessoas sozinhas e Ana Catarina André recorda a história de uma padeira, em Coja, que é a companhia em muitas aldeias
Lisboa, 02 jun 2020 (Ecclesia) – A campanha da Comunidade de Santo Egídio “Sem idosos não há futuro” foi o tema de lançamento das Conversas na Ecclesia com António Bagão Félix e a jornalista Ana Catarina André.
O economista e professor universitário lembrou que no século XXI “por cada dia que passa há mais 30 pessoas com mais de 65 anos de idade que passam a viver sozinhas”, alertando que o afastamento dos mais velhos começa na casa de cada um.
“Essas pessoas todas precisariam de viver sozinhas? Não… Não foram acarinhadas, a família nuclearizou-se em excesso, os avós fizeram parte de um eclipse sociológico, as pessoas são um fardo, um aborrecimento”, afirmou.
António Bagão Félix disse que cada família tem de “preservar” as condições de habitalidade das pessoas que envelhecem.
Ana Catarina André lembrou que as sociedades não se preparam para envelhecer, a começar pela compra da casa, raramente considerada como um “espaço de envelhecimento”.
“Que sejamos todos capazes de nos educarmos para o humano, olhar para o outro, independentemente da sua idade, como uma pessoa com dignidade. Esta mudança fará muita diferença na forma como olhamos para os nossos idosos”, afirmou a jornalista.
Para a diretora de Comunicação da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, a relação entre os mais novos e os mais velhos tem muito “a aprender, a partilhar e a construir” entre si.
Neste mês de maio, a jornalista publicou o livro “Os Pombos da Senhora Alice”, onde conta histórias de idosos que vivem sozinhos, e a de uma senhora, que é padeira e visita aldeias no Concelho de Arganil.
Ana Catarina André recorda a proximidade que a padeira criou com muitas pessoas idosas, levando-lhes medicamentos, por exemplo, e combatendo o isolamento que se “agudizou” com esta pandemia.
Nas Conversas na Ecclesia, António Bagão Félix disse que considerar a velhice “um problema” é um “desajustamento e enviesamento não só injusto como geracionalmente nefasto”.
“A velhice é não só um modo de cimentar o futuro como de aportar a experiência vivencial. A vida não se aprende nos manuais, aprende-se vivendo, nos embates do mundo, nas dificuldades, não na permissividade, na capacidade de saber escolher renunciando, na constituição da família, na sabedoria que não é um mero conhecimento”, afirmou.
O antigo presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, afirma que é necessário considerar a “velhice não como um fardo, um peso, um sarilho, mas como uma dignidade inerente e inalienável de qualquer pessoa”.
Ana Catarina André sublinhou a necessidade de “ensinar as crianças a olhar para os idosos sem preconceito”, acrescentando que a “inversão na forma de olhar para os mais velhos tem de começar desde cedo”.
Nas Conversas na Ecclesia, António Bagão Félix refere-se ainda ao diário que foi escrevendo ao longo dos dias de isolamento social, para as gerações descendentes, e Ana Catarina André lembra a influência dos avós na sua vida, desde criança.
De segunda a sexta-feira, a Agência ECCLESIA publica conversas sobre cinco temas, em cada semana, começando pela juventude, depois temáticas sociais, à quarta abordando as ligações nos ambientes digitais, à quinta destacando os acontecimentos do Papa e à sexta-feira propostas culturais.
PR