«Conversas na Ecclesia»: Jovens enfrentam «muitos pontos de interrogação» no futuro (c/vídeo)

Estudantes de Gestão, Terapia Ocupacional e Teologia olham o pós-pandemia com muitos receios e inseguranças

Lisboa, 15 jun 2020 (Ecclesia) – Três jovens universitários disseram à Agência ECCLESIA que existem “muitos pontos de interrogação” no futuro, o tempo de pandemia trouxe vários desafios, aliados a “aprendizagem mas também a inseguranças”. 

“Não conseguimos programar nada, toda a agenda estava preenchida e neste momento são muitos pontos de interrogação no nosso futuro, não sabemos como vai ser a próxima semana, isto está sempre a mudar”, afirma Matilde Tavares. 

A jovem universitária da diocese de Santarém este ano foi coordenadora da “Missão País”, um alento no seu tempo de confinamento.

“No momento em que estamos com o fogo no coração fomos obrigados a estar em casa e encontrar-nos de forma diferente, muitos ficámos sozinhos e longe da família, fizemos oração diária e ainda dura até hoje, foi um grande alento estar com eles e rezar”, explica.

A estudante de Terapia Ocupacional, em Leiria, referiu que foi “um pós missão mais forte”, aproveitando as circunstâncias, criando “laços virtuais” que espera se tornarem mais pessoais. 

O desconfinamento trouxe as dificuldades próprias “da falta de tempo”, apurou a organização depois de “muitas aulas online” e a jovem considera que “é preciso aprender com tudo isto”.

“Eu rezava para que Deus me desse tempo para os projetos e para conseguir parar… foi este tempo que deu para valorizar tudo, amigos e projetos, e aprendemos a comunicar e a amar de outra forma, à distância, a reinventar as atividades e voltar a aprender as rotinas vai ser uma grande dificuldade”, assume. 

No segundo ano de Gestão está o jovem Pedro Borges, da diocese de Vila Real, que sentiu que a sua vida teve “uma quebra de rotinas” e “sem certezas de nada”, o que exigiu um trabalho de gestão diário em tempo de confinamento.

“Foi tudo complicado, fazer atualização nas diversas atividades, pensava que ao trabalhar em casa se trabalhava mais, mas depois percebi que não, ainda estou a adaptar-me, tinha de criar uma rotina em casa, seja para a universidade, que tem primazia, mas depois para o grupo de jovens e a pastoral juvenil”, conta.

“Calendarizar tudo muito bem” foi um truque que o jovem usou para se organizar o que fez com que se “conhecesse melhor”.

Pedro Borges é membro da equipa da pastoral juvenil diocesana e, também nesse âmbito, a adaptação teve de acontecer, uma nova realidade que “graças às novas tecnologias foi sendo eficaz” ao encurtar distâncias .

“Foi complicado, a pandemia começou num momento em que íamos ter uma atividade e foi cancelar tudo, repensar o que conseguíamos fazer num momento em que estava tudo em casa e como chegar às pessoas, um desafio para todos”, descreve.

As incertezas do futuro fazem com que Pedro Borges deseje a normalidade, depois da aprendizagem neste tempo de pandemia. 

“A cada semana há uma nova realidade e temos de adaptar e tenho a preocupação de como vai ser meu o último ano, a incerteza do mercado de trabalho, não se sabe o que vai ser daqui para a frente, sinto esse medo, a começar o último ano, antes era complicado agora  ainda vai ser mais”, aponta na rubrica Momentos F5.

Na diocese de Angra, nos Açores, o jovem diácono Pedro Carvalho passou este tempo de confinamento marcado pela “ansiedade da ordenação sacerdotal” e questiona: “surge um ponto de interrogação nisto tudo, se não formos ordenados em setembro, o que nos vai acontecer?”. 

“Ansiedade de todos é a incerteza quando acalmar, estabilizar e voltar à nossa rotina; esta realidade veio alterar todos os nossos planos, eu tinha ordenação marcada para 28 junho e foi adiada, nisto a Igreja tem sido um grande exemplo”, afirma o finalista de Teologia.

Natural da ilha de São Miguel, onde passou toda a fase de confinamento, para não “saltar de ilhas” uma vez que está no seminário de Angra, sente este momento como “o mais triste”.

“Foi o momento mais triste em sete anos de seminário, não sendo o final da caminhada mas marca o início de uma nova caminhada, só a oração ajuda a viver esta situação com a serenidade possível”, conta o jovem de 25 anos.

No seio familiar Pedro Carvalho “intensificou as relações familiares” e respondeu a muitas questões sobre o sacerdócio que inquietavam o seu irmão.

“Eu e meu irmão falamos de coisas do sacerdócio que ele nunca me tinha perguntado, por exemplo, e todas as pessoas me perguntam o que é que muda, não é um sacramento mágico, é necessário uma caminhada”, tenta explicar. 

O jovem teve ainda tempo para ajudar o seu pároco nos compromissos pastorais e olhar a forma como esta realidade da pandemia trouxe “fontes de esperança”.

“Na realidade dos Açores todos os padres usaram os meios digitais para transmitir a eucaristia para os lares familiares, acho que as comunicações sociais foram grande fonte de esperança neste tempo de pandemia”, aponta.

Pedro Carvalho aponta ainda o grande “grito de esperança dado pela comunicação social” ao conseguir ver o papa Francisco naquela praça de São Pedro, sozinho, em oração e silêncio,  que considerou ser “um grande momento F5”.

O projeto “Conversas na Ecclesia” tem o objetivo de partilhar, de segunda a sexta-feira, um tempo de diálogo sobre cinco temas, publicados nas redes sociais, a partir das 17h00.

A semana começa com temas direcionados para jovens, depois a solidariedade e o cuidado da casa comum, as novas formas de liturgia e de pertença, os acontecimentos vividos a partir do Vaticano e, a terminar a semana, uma conversa com propostas e perspetiva culturais.

SN

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