Pároco e cantor destaca necessidade de descartar falta de autenticidade
Lisboa, 15 fev 2021 (Ecclesia) – O padre José Luís Borga, pároco na Diocese de Santarém e cantor, considera que o Carnaval deste ano, em plena pandemia, é um desafio à “verdade” de cada um, confrontando com a ausência de disfarces.
“Não é por acaso que isto acontece antes do início da Quaresma, que é também uma maneira de nos surpreendermos connosco mesmos. Há máscaras que temos, comportamentos que nem nós percebemos quanto não são autênticos, que não são o que gostaríamos de dizer de nós próprios”, refere o convidado de hoje das ‘Conversas na Ecclesia’.
O sacerdote fala de dias diferentes, marcados pela máscara, por causa da Covid-19, mas sem disfarces nem cortejos, nos quais se recordam as celebrações de outros anos.
“A máscara é uma forma de, por um lado, nos defendermos de quem não nos conhece ainda e, por outro lado, de mostrarmos alguma coisa pela qual gostaríamos de ser conhecidos”, observa o entrevistado, para quem “está sempre em jogo uma verdade” que cada pessoa quer mostrar.
“A personagem é aquilo que se manifesta e que nós queremos que a outra pessoa se aperceba”, acrescenta.
Para o padre Borga, como é conhecido, só num ambiente de confiança é possível mostrar o mais íntimo de si mesmo.
“O que está aqui em jogo é a verdade. A verdade que os outros, na relação que temos, já devem possuir”, aponta.
O sacerdote recorda a sua participação no programa televisivo ‘A Máscara’ para sublinhar, como disse então, que “há brincadeiras muito sérias”.
“Quando temos um clima de brincar, revelamos mais de nós do que parece à primeira vista, porque tiramos limites”, assume.
Desta experiência, o padre José Luís Borga destaca que há pessoas que se denunciam “facilmente” e refere que houve quem o reconhecesse assim que o viu na TV.
“Quando nós conhecemos as pessoas, nem disfarçadas elas conseguem esconder-se”, insiste.
O entrevistado assinala, por outro lado, que a experiência dos grupos, no Carnaval, cria um ambiente que deixa que muitas pessoas se revelem.
“Cada um está entre o esconder-se e o revelar-se, isso é muito espiritual”, precisa.
O dia de carnaval, que se assinala esta terça-feira, está ligado ao início do tempo da Quaresma, com a celebração de Cinzas, na quarta-feira seguinte, dando início à preparação para a Páscoa – a maior festa cristã, que evoca a Ressurreição de Jesus, é celebrada no domingo após a primeira lua cheia que se segue ao equinócio da primavera, no hemisfério norte.
O padre José Luís Borga destaca que a proposta litúrgica da Quaresma, com o despojamento e o sinal das Cinzas, que recordam a finitude, à imagem do que aconteceu na pandemia
“Quando pomos as cinzas, não estamos só a dizer que somos mortais, estamos a dizer que neste homem mortal há uma experiência eterna”, indica.
O sacerdote observa que a finitude também diz da finalidade: “As coisas valem em relação àquilo que a gente pretende alcançar com elas”.
“Nós não nascemos para morrer, nascemos para viver. Nem que para isso tenhamos de morrer”, conclui.
O padre José Luís Borga é também o convidado do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública (22h45), entre segunda e sexta-feira desta semana, que marca o início da Quaresma no calendário litúrgico da Igreja Católica.
OC