Reitor do Colégio Pontifício Português e vaticanista brasileira abordam desafios deixados por Francisco
Lisboa, 07 mai 2020 (Ecclesia) – O padre José Alfredo Patrício, reitor do Colégio Pontifício Português, em Roma, disse à Agência ECCLESIA que a cidade vive uma espécie de “libertação”, com as primeiras medidas de desconfinamento.
Num dos países europeus mais afetados pela pandemia de Covid-19, o sacerdote português destaca o facto de a instituição que dirige ter conseguido passar os últimos meses sem casos de contágio.
O Colégio Pontifício acolhe 35 sacerdotes de nove países e 25 dioceses diferentes, alguns dos quais regressaram aos seus locais de origem.
“Estes meses não foram meses solitários”, mas vividos em comunidade, assinala o padre José Alfredo Patrício, um dos convidados de hoje das ‘Conversas na ECCLESIA’.
Mirticeli Dias, vaticanista brasileira do portal ‘Dom Total’, assinala também que as primeiras medidas de desconfinamento, a partir de 4 de maio, trouxeram algum otimismo à vida dos italianos, esperando que em junho se comece a voltar “à vida normal”.
A conversa abordou os apelos do Papa em defesa da dignidade dos trabalhadores, tanto no 1.º de Maio como na audiência geral desta quarta-feira, uma questão com forte impacto no debate sobre os modelos de isolamento social.
“O Papa Francisco preocupa-se com o pós-pandemia, como todos sabemos”, assinala a jornalista, destacando a criação de um grupo de trabalho, com vários organismos da Santa Sé, para promover a ação das comunidades católicas junto das populações mais desfavorecidas.
A historiadora considera que esta linha de ação é “das mais importantes” da Igreja Católica, na era contemporânea, envolvendo “praticamente toda a Cúria Romana”.
“É um momento de arregaçar as mangas”, refere Mirticeli Dias, para quem “a Igreja está a ser, de certa forma, a porta-voz das pessoas que mais necessitam”.
O padre José Alfredo Patrício espera que, na busca de tratamentos e vacina, a solução “não seja reservada apenas aos mais ricos”, assumindo que é necessário, por outro lado, “adaptar a circunstâncias novas” os princípios da Doutrina Social da Igreja.
“O que o Papa tem acentuado é a dignidade da pessoa e a dignidade do trabalho”, envolvendo a “dimensão espiritual”, para que todos “tenham o tempo e os meios” para responder a “grandes questões” do coração humano face à “grande tragédia” que se enfrenta, diz ainda.
No domingo do Bom Pastor, Francisco evocou os sacerdotes e médicos que deram a sua vida pelos outros.
Para o reitor do Colégio Pontifício Português, este tem sido pontificado marcado pela “proximidade”, que se manifesta, neste momento, na atenção aos bispos e padres afetados, a todos os que já partiram, incluindo “tantas pessoas anónimas”.
Para rezar pelo fim da pandemia, a 14 de maio vai ser celebrado um dia inter-religioso de oração, jejum e obras de misericórdia, com o apoio de Francisco.
Mirticeli Dias fala de um Papa na linha da frente, que tem procurado conjugar esforços de várias comunidades cristãs e religiosas, para “elaborar um plano conjunto” de ação.
O padre José Alfredo Patrício espera que a data sirva para unir todos na oração pelos que faleceram e “cuidar da vida espiritual dos que ficaram vivos”.
O sacerdote recorda o modo como tantas pessoas morreram sozinhas, sem o acompanhamento dos seus familiares, e a forma “chocante” como decorreram alguns funerais.
“Esta pandemia poderá ter feito que muitas pessoas repensem a sua vida, as suas prioridades”, aponta.
“Conversas na Ecclesia” é um apontamento que, de segunda a sexta procura partilhar conteúdos relacionados com os jovens, atualidade sobre o que se passa no Vaticano, abordagens culturais, comunicar a fé no ambiente digital ou os principais temas sociais.
OC