Consistório 2023: Papa desafia novos cardeais a ser «orquestra sinfónica», marcada pelo caráter sinodal da Igreja

«A diversidade é necessária, é indispensável. Mas cada som deve concorrer para o resultado comum» – Francisco

Foto: Ricardo Perna

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 30 set 2023 (Ecclesia) – O Papa disse hoje aos novos cardeais que o Colégio Cardinalício deve ser como uma “orquestra”, ao serviço de uma “Igreja sinfónica e sinodal”.

“O Colégio Cardinalício é chamado a assemelhar-se a uma orquestra sinfónica, que representa a dimensão sinfónica e a sinodalidade da Igreja. Digo também sinodalidade, não só por estarmos nas vésperas da primeira Assembleia do Sínodo que tem precisamente este tema, mas porque me parece que a metáfora da orquestra pode muito bem iluminar o caráter sinodal da Igreja”, referiu na homilia do consistório público em que criou 21 cardeais, incluindo D. Américo Aguiar, bispo eleito de Setúbal.

Francisco sublinhou que, neste conjunto, cada um “dá o seu contributo, ora sozinho, ora combinado com outro, ora com todo o conjunto”.

“A diversidade é necessária, é indispensável. Mas cada som deve concorrer para o resultado comum. E, para isso, é fundamental a escuta mútua: cada músico deve ouvir os outros”, sustentou.

A XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos vai ter a sua primeira sessão, entre 4 e 29 de outubro.

O Papa falou do papel do maestro, “o serviço desta espécie de milagre que é sempre a execução duma sinfonia”.

“Tem de ouvir mais do que todos os outros e, ao mesmo tempo, a sua tarefa é ajudar cada um e a orquestra inteira a desenvolver ao máximo a fidelidade criativa, a fidelidade à obra que se está a executar, mas criativa, capaz de dar uma alma àquela partitura, de fazê-la ressoar duma forma única aqui e agora”, ilustrou.

A celebração, presidida pelo pontífice, começou com uma saudação de D. Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, em nome dos novos cardeais, antes da oração proferida por Francisco, a leitura de uma passagem dos Atos dos Apóstolos e a homilia.

“Vós, novos cardeais, viestes de diversas partes do mundo, e o mesmo Espírito que fecundou a evangelização dos vossos povos, agora renova em vós a vossa vocação e missão na Igreja e para a Igreja”, apontou o pontífice.

O Papa justificou a escolha da passagem bíblica lida na celebração, que relata o dia de Pentecostes, o “batismo da Igreja”, destacando que os cardeais “são de todas as partes do mundo, das mais diversas nações”, como muitos dos povos que eram identificados nos Atos dos Apóstolos.

Foto: Ricardo Perna

“Os Apóstolos eram todos galileus, enquanto o povo que se reunira era proveniente de todas as nações que há debaixo do céu, precisamente como o são os bispos e os cardeais no nosso tempo”, precisou.

Francisco falou numa “espécie de inversão de papéis”, convidando a refletir neste “batismo do Espírito Santo, que fez nascer a Igreja una, santa, católica e apostólica”.

“Redescobrir, com espanto, o dom de ter recebido o Evangelho na nossa língua, como dizem aquelas pessoas”, observou, repetindo a convicção de que a fé se transmite em “dialeto”, com particular protagonismo de mães e avós.

O Papa convidou a sentir “gratidão” pelo anúncio do Evangelho nos países de origem de cada cardeal.

“Na história do nosso povo – diria na carne do nosso povo –, o Espírito Santo operou o prodígio da comunicação do mistério de Jesus Cristo morto e ressuscitado. E chegou até nós, na própria língua, nos lábios e nos gestos dos nossos avós e dos nossos pais, dos catequistas, dos sacerdotes, dos religiosos”, apontou.

Francisco evocou as “vozes e rostos concretos” que promoveram essa evangelização, “um dom sempre atual, que pede para ser continuamente renovado na memória e na fé”, como “evangelizadores e evangelizados, não como funcionários”.

“A Igreja – e cada um dos seus membros – vive deste mistério sempre atual. Não vive de rendimentos e muito menos dum património arqueológico, por mais precioso e nobre que pudesse ser. A Igreja, e cada batizado, vive do hoje de Deus, pela ação do Espírito Santo”, insistiu.

Após esta intervenção, o Papa leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; seguiu-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores.

Cada um dos novos cardeais ajoelhou-se para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação: D. Américo Aguiar foi o 17.º dos 20 prelados presentes.

Francisco entregou ainda um anel aos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma – que simboliza a “participação na solicitude pastoral do Papa” na cidade -, bem como a entrega da bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz.

O consistório para a criação de 21 cardeais, entre eles 18 futuros eleitores, decorreu na Praça de São Pedro, com a presença de 12 delegações oficiais, sendo Portugal representado por Ana Catarina Mendes, ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares.

Este é o nono consistório do atual pontificado, após os realizados a 22 de fevereiro de 2014, 14 de fevereiro de 2015, 19 de novembro de 2016, 28 de junho de 2017, 28 de junho de 2018, 5 de outubro de 2019, 28 de novembro de 2020 e 27 de agosto de 2022.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

 

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Agência ECCLESIA

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