Francisco alerta para «comportamentos desleais» de homens de Igreja
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 05 out 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje no Vaticano que os novos cardeais, entre eles D. José Tolentino Mendonça, devem ser homens de “compaixão”, atentos a todos as pessoas, em particular os “descartados” da sociedade.
“A disponibilidade de um purpurado para dar o seu próprio sangue – significado na cor vermelha das suas vestes – é certa, quando está enraizada nesta consciência de ter recebido compaixão e na capacidade de ter compaixão. Caso contrário, não se pode ser leal”, referiu, na homilia do consistório público a que presidiu, na Basílica de São Pedro.
Perante 13 novos cardeais, Francisco declarou que “muitos comportamentos desleais de homens de Igreja” se ligam à “falta deste sentimento da compaixão recebida e do hábito de passar ao largo, do hábito da indiferença”.
“Jesus vai procurar as pessoas descartadas, aquelas que já estão sem esperança”, recordou.
O Papa lamentou que, muitas vezes, os discípulos de Jesus mostrem “não sentir compaixão”, uma atitude “comum” nos seres humanos, “mesmo em pessoas religiosas ou até ligadas ao culto”.
“A função que desempenhamos não basta para nos fazer compassivos”, advertiu.
Francisco observou que, muitas vezes, se encontram “justificações” para a falta de compaixão, dando “origem a «descartados institucionais»” e a “estruturas de não-compaixão”, que são a saída mais fácil, “quando um homem de Igreja se torna um funcionário”.
Compaixão, palavra-chave do Evangelho; está escrita no coração de Cristo, está sempre escrita no coração de Deus”.
O Papa questionou os presentes sobre a sua consciência de serem “objeto da compaixão de Deus?”, o tema que inspirou a carta que enviou, a 1 de setembro, após o anúncio do consistório, a cada um dos nomeados.
“Dirijo-me em particular a vós, irmãos já Cardeais ou próximo a sê-lo: está viva em vós esta consciência?”, prosseguiu.
Segundo Francisco, este é um “requisito essencial” para a vida cristã.
“Peçamos hoje, por intercessão do apóstolo Pedro, a graça dum coração compassivo, para ser testemunhas daquele que nos olhou com misericórdia, escolheu, consagrou e enviou para levar a todos o seu Evangelho de salvação”, concluiu.
Os 10 novos cardeais eleitores (por ordem de anúncio pontifício, a 1 de setembro) criados no sexto consistório do atual pontificado são Miguel Angel Ayuso Guixot, mccj – presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso (Santa Sé); José Tolentino Mendonça – arquivista e bibliotecário da Santa Sé; Ignatius Suharyo Hardjoatmodjo – arcebispo de Jacarta, Indonésia; Juan de la Caridad García Rodríguez – arcebispo de Havana, Cuba; Fridolin Ambongo Besungu, o.f.m. cap – arcebispo de Kinshasa, República Democrática do Congo; Jean-Claude Höllerich, sj – arcebispo do Luxemburgo; Alvaro L. Ramazzini Imeri – bispo de Huehuetenamgo, Guatemala; Matteo Zuppi – arcebispo de Bolonha, Itália; Cristóbal López Romero, sdb – arcebispo de Rabat, Marrocos; Michael Czerny, sj – subsecretário da secção ‘Migrantes’ do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé)
O Papa criou três cardeais com mais de 80 anos: Michael Louis Fitzgerald – presidente emérito do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso; Sigitas Tamkevicius, sj – arcebispo emérito de Kaunas, Lituânia; Eugenio Dal Corso, psdp – bispo emérito de Benguela, Angola.
Francisco emocionou-se depois da imposição do barrete cardinalício a D. Sigitas Tamkevicius, jesuíta, arcebispo emérito de Kaunas, na Lituânia, que foi condenado a trabalhos forçados e exilado na Sibéria pelo regime soviético.
Os dois tinham estado juntos em setembro de 2018, no Museu da Ocupação e Lutas pela Liberdade, a antiga sede do KGB em Vilnius, onde desceram às celas números 9 e 11, seguindo em silêncio para as salas de execuções.
OC