Consistório 2018: Papa liga autoridade ao serviço dos mais fracos e diz aos cardeais que ninguém se deve sentir «superior» (c/ video)

«A única autoridade credível é a que nasce de colocar-se aos pés dos outros», disse Francisco, na celebração em que cria um novo cardeal português

Cidade do Vaticano, 28 jun 2018 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje no Vaticano que a autoridade na Igreja Católica se exerce pelo serviço aos mais fracos, numa celebração para a criação de novos cardeais, incluindo D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima.

“Esta é a mais alta condecoração que podemos obter, a maior promoção que nos pode ser dada: servir Cristo no povo fiel de Deus, no faminto, no esquecido, no recluso, no doente, no toxicodependente, no abandonado, em pessoas concretas com as suas histórias e esperanças, com os seus anseios e deceções, com os seus sofrimentos e feridas”, defendeu, na homilia do consistório público a que presidiu na Basílica de São Pedro.

Numa intervenção com fortes interpelações aos que detêm cargos de responsabilidade na Igreja, Francisco sublinhou que a verdadeira autoridade significa “promover a dignidade do outro”.

“A única autoridade credível é a que nasce de colocar-se aos pés dos outros para servir Cristo. É a que deriva de não esquecer que Jesus, antes de inclinar a cabeça na cruz, não teve medo de se inclinar diante dos discípulos e lavar-lhes os pés”, precisou.

Falando perante 14 novos cardeais, de 11 países, o Papa quis realçar que ninguém dentro da Igreja se deve sentir “superior” aos outros.

“Nenhum de nós deve olhar os outros de cima para baixo; podemos, sim, podemos olhar assim para uma pessoa quando a ajudamos a levantar-se”, assinalou.

O Papa rejeitou “discussões estéreis e autorreferenciais” nas comunidades católicas, criticando o que denominou como “intrigas de palácio, mesmo nas cúrias eclesiásticas”.

“A conversão, a transformação do coração e a reforma da Igreja são feitas em chave missionária, pois pressupõem que se deixe de olhar e cuidar dos interesses próprios para olhar e cuidar dos interesses do Pai”, acrescentou.

Francisco falou da importância de manter a atenção centrada no “rosto concreto dos irmãos”, especialmente quando vivem momentos difíceis.

Os cardeais, observou, devem estar “dispostos e disponíveis para acompanhar e acolher todos e cada um”.

A intervenção concluiu-se com uma citação do testamento espiritual de São João XXIII, o Papa que convocou o Concílio Vaticano II (1962-1865), canonizado no atual pontificado.

“Agradeço a Deus por esta graça da pobreza, de que fiz voto na minha juventude, pobreza de espírito, como padre do Sagrado Coração, e pobreza real; e por me sustentar para nunca pedir nada, nem lugares, nem dinheiro, nem favores, nunca, nem para mim nem para os meus parentes ou amigos” (João XXIII, 29 de junho de 1954).

O consistório público inclui a imposição do barrete cardinalício, a entrega do anel e a atribuição de uma igreja de Roma, bem como a entrega da bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz.

A celebração começou com um momento de oração em silêncio, do Papa, diante do altar da Confissão, sobre o túmulo do apóstolo São Pedro, seguindo-se a saudação do primeiro dos novos cardeais, D. Louis Sako, patriarca do Iraque, em nome de todos os presentes.

O responsável iraquiano evocou as situações de sofrimento vividos pelos cristãos no seu país, bem como na Síria, Palestina e o Médio Oriente, sublinhando que esta criação de cardeais demonstra a “vitalidade” e a “abertura da Igreja” em todo o mundo.

“Esta nomeação de cardeais de países diversos exprime a vitalidade e a abertura da Igreja Católica e concretiza a sua catolicidade, universalidade, ao serviço de todos os homens. Alguns muçulmanos, que me vieram dar os parabéns, manifestaram a sua admiração pela abertura da Igreja e pela vossa constante proximidade às pessoas, às suas preocupações, medos, esperanças”, referiu o patriarca iraquiano.

OC

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Agência ECCLESIA

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