Novo cardeal diz ser «apoiante do Papa», que «não exclui ninguém»
Reportagem de Tiago Azevedo Mendes, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 28 jun 2018 (Ecclesia) – O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, apresentou-se hoje na sala de imprensa da Santa Sé a jornalistas de vários países com a preocupação de “construir pontes” e atenção à “catástrofe humana” dos refugiados.
A poucas horas de ser criado cardeal pelo Papa Francisco, no Vaticano, o responsável português defendeu uma “Igreja empenhada na construção da paz, sobretudo agora com o problema dos refugiados e dos migrantes, que é uma catástrofe humana”.
D. António Marto recordou a “surpresa” com que recebeu a nomeação cardinalícia, a 20 de maio, e disse ver nesta decisão uma “aprovação” do trabalho que tem vindo a desenvolver em Fátima.
O novo cardeal disse ser um “apoiante do Papa, apoiante da reforma que o Papa quer levar para a frente, a reforma da Igreja”.
“Uma Igreja mais evangélica, menos burocrática, por exemplo, mais evangélica, mais próxima das pessoas, mais acolhedora, de não exclusão, mais misericordiosa para com as situações de fragilidade, vulnerabilidade, mais atenta aos desfavorecidos, aos pobres, mais construtora de pontes”, precisou.
O bispo da Diocese de Leiria-Fátima desvalorizou as “tensões” no atual pontificado, sublinhando que ao longo da história da Igreja Católica sempre existiu “resistência” em questões concretas.
“Esta novidade que o Papa Francisco traz também encontra resistências, a maioria do povo católico, pelo menos é a minha perceção, está com o Papa Francisco. Agora, há bolsas de resistência, temos de ser adultos e saber conviver com esta tensão, que às vezes até pode ser profícua”, observou.
Para o responsável, é preciso ter em atenção também, como o Papa Francisco, “aqueles que caminham mais lentamente, que até não são capazes de compreender a reforma que ele traz, mas ele não exclui ninguém”.
“Eu também faço isso”, prosseguiu.
O novo cardeal disse aos jornalistas portugueses presentes no Vaticano que é necessário estabelecer pontes com uma sociedade muito “fragmentada e polarizada” e procurar “consensos fundamentais para construir uma sociedade justa e fraterna”.
D. António Marto admitiu que considera “exageradas” algumas vestes cardinalícias, embora as considere “simbólicas”.
“Eu sou uma pessoa que gosto de sobriedade, da simplicidade na apresentação. O Papa apresenta-se de uma maneira muito simples, muito sóbria, eu gostava que também chegássemos todos um dia a apresentar-nos de uma maneira simples e sóbria, sem vestes que são de outro tempo”, assumiu.
Questionado sobre a Nota pastoral que escreveu relativamente à a situação dos católicos divorciados a viver em nova união, referiu ter tido em mente, apenas, aplicar as orientações do Papa Francisco neste campo e “abrir uma porta de misericórdia”.
“É uma porta aberta a uma maior integração, que passa por várias etapas e pode chegar a essa da Reconciliação e da Comunhão”, realçou.
No Vaticano, D. António Marto voltou a falar do cardinalato como um “dom a Fátima”, do Papa Francisco, admitindo a necessidade de renovação de estratégias pastorais, que começa por receber todos, promovendo uma “fé esclarecida”.
O Santuário, precisou, acolhe “todos os tipos de expressão do catolicismo”.
“Não podemos pensar que Fátima é uma varinha mágica”, declarou o novo cardeal, pedindo atenção ao caminho de fé e à história de “cada pessoa”.
Neste contexto, evocou o trabalho feito na preparação para o Centenário das Aparições, entre 2010 e 2017, para transmitir a Mensagem de Fátima em “linguagens novas” e para as “várias gerações”.
O bispo de Leiria-Fátima torna-se hoje no quinto cardeal português do século XXI e segundo a ser designado por Francisco.
O último consistório tinha sido celebrado há um ano, no dia 28 junho de 2017.
Os 11 novos cardeais eleitores (por ordem de anúncio pontifício) são o patriarca Louis Sako, do Iraque; D. Luis Ladaria, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (Santa Sé); D. Angelo De Donatis, vigário do Papa para a Diocese de Roma; D. Giovanni Angelo Becciu, substituto da Secretaria de Estado do Vaticano; D. Konrad Krajewski, esmoler pontifício; D. Joseph Coutts, arcebispo de Karachi (Paquistão); D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima; D. Pedro Barreto, arcebispo de Huancayo (Peru); D. Desiré Tsarahazana, arcebispo de Toamasina (Madagáscar); D. Giuseppe Petrocchi, arcebispo de L’Aquila (Itália); D. Thomas Aquinas Manyo, arcebispo de Osaka (Japão).
O Papa vai ainda criar três cardeais com mais de 80 anos: D. Sergio Obeso Rivera, arcebispo emérito de Xalapa (México); D. Toribio Ticona Porco, bispo emérito de Corocoro (Bolívia); padre Aquilino Bocos Merino, missionário Claretiano.
Portugal estava até agora representado por três cardeais: D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa; D. Manuel Monteiro de Castro, penitenciário-mor emérito, e D. José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos, ambos com mais de 80 anos.
TAM/OC