Francisco entregou barrete cardinalício ao seu representante diplomático em Damasco
Cidade do Vaticano, 19 nov 2016 (Ecclesia) – O Papa recordou hoje no Vaticano o drama dos refugiados em todo o mundo, num dia em que criou cardeal o seu representante diplomático (núncio apostólica) na Síria.
“A nossa época carateriza-se por problemáticas e fortes interrogações à escala mundial. Tocou-nos atravessar um tempo em que ressurgem, à maneira duma epidemia, nas nossas sociedades, a polarização e a exclusão como única forma possível de resolver os conflitos”, lamentou Francisco, na homilia do consistório público a que presidiu na Basílica de São Pedro, para a criação de 17 cardeais.
A intervenção deu como exemplo desta problemática a rejeição do “imigrante ou refugiado”, que é visto por muitos como “uma ameaça”, com a “condição de inimigo”.
“Inimigo porque vem duma terra distante, ou porque tem outros costumes. Inimigo pela cor da sua pele, pela sua língua ou a sua condição social; inimigo, porque pensa de maneira diferente e mesmo porque tem outra fé”, advertiu.
O Papa recordou que, na mensagem cristã, o inimigo também é alguém que é preciso “amar”, precisando que “no coração de Deus, não há inimigos; Deus tem apenas filhos”.
“Nós erguemos muros, construímos barreiras e classificamos as pessoas. Deus tem filhos, e não foi para se livrar deles que os quis. O amor de Deus tem o sabor da fidelidade às pessoas”, prosseguiu.
Este “amor incondicional” de Deus, realçou Francisco, representa uma “exigência de conversão” para o coração humano, que tende a “julgar, dividir, contrapor e condenar”.
“Nenhuma mão, por mais suja que esteja, pode impedir a Deus de colocar nela a Vida que nos deseja oferecer”, explicou.
O pontífice argentino desafiou os cardeais a uma vida feira de “doação diária e silenciosa”, indo ao encontro das pessoas “na planície da vida” em vez de ficar parados no “cimo da montanha”.
D. Mario Zenari, primeiro dos cardeais na ordem de nomeação, saudou o Papa, em nome de todos, e evocou os cristãos que morrem por causa da sua fé, bem como a humanidade “ferida no corpo e no espírito”.
O núncio apostólico em Damasco evocou “milhões” de pessoas deixadas “mortas ou meio-mortas” nas ruas ou sob os “escombros” de casas e escolas por causa de conflitos “sangrentos, desumanos e inexplicáveis” que provocam “catástrofes humanas de enormes proporções”.
Segundo o Vaticano, esta é a primeira vez que um representante diplomático do Papa é criado cardeal permanecendo na Nunciatura Apostólica em que se encontrava.
Além de D. Mario Zenari (Itália), foram criados 12 cardeais eleitores (com menos de 80 anos): D. Dieudonné Nzapalainga (República Centro-Africana), arcebispo de Bangui; D. Carlos Osoro Sierra (Espanha), arcebispo de Madrid; D. Sérgio da Rocha (Brasil), arcebispo de Brasília; D. Blase J. Cupich (EUA), arcebispo de Chicago; D. Patrick D’Rozario, arcebispo de Daca (Bangladesh); D. Baltazar Enrique Porras Cardozo (Venezuela), arcebispo de Mérida; D. Jozef De Kesel (Bélgica), arcebispo de Bruxelas; D. Maurice Piat (Maurícia), arcebispo de Port-Louis; D. Kevin Joseph Farrell (EUA), prefeito do Dicastério para os Leigos, Vida e Família (Santa Sé); D. Carlos Aguiar Retes (México), arcebispo de Tlalnepantla; D. John Ribat, arcebispo de Port Moresby (Papua Nova-Guiné); D. Joseph William Tobin (EUA), arcebispo nomeado de Newark, até agora arcebispo de Indianápolis.
Francisco criou cardeais com mais de 80 anos: D. Anthony Soter Fernandez (Malásia), arcebispo emérito de Kuala Lumpur; D. Renato Corti, arcebispo emérito de Novara (Itália); D. Sebastian Koto Khoarai, bispo emérito de Mohale’s Hoek (Lesotho) – este ausente do Vaticano por motivos de saúde.
O último cardeal a receber o barrete e o anel foi o padre Ernest Simoni, de 88 anos, vítima da perseguição do regime comunista na Albânia, a quem o Papa quis beijar a mão, em sinal de reconhecimento.
OC