Conselho Pastoral algarvio recomendou aprofundamento dos valores da família

Tentando fazer uma análise das repercussões dos actuais condicionamentos económicos, políticos, sociais, culturais e religiosos sobre a família, os membros do Conselho Pastoral da Diocese do Algarve (CPDA) que se reuniram no passado sábado na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Rosário, em São Lourenço do Palmeiral (Pêra), constataram que a realidade familiar não é, hoje em dia, muito animadora. Problemas como o endividamento, a falta de habitação, o desemprego ou a precariedade do trabalho, motivados pela “publicidade enganosa” da banca e aliados à “ausência de políticas e medidas governamentais que apoiem a estrutura familiar” são aqueles que presentemente, e na opinião dos conselheiros, mais contribuem para condicionar as famílias. Sob a presidência do Bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, os membros dos CPDA procuraram lançar uma observação atenta sobre a realidade da família, particularmente a do Algarve. O conceito do relativismo, para o qual tem, tantas vezes, alertado o actual Papa no seu discurso, foi apontado também pelos grupos de trabalho como um dos principais obstáculos para o compromisso familiar com os verdadeiros valores. Entre os problemas que afectam a realidade e estabilidade familiar os conselheiros destacaram “a legislação existente que, tal como o fisco, favorece a proliferação das uniões de facto e dos divórcios”, em detrimento das famílias legitimamente constituídas; a imposição à sociedade, por parte de responsáveis políticos, de “modelos de comportamento adoptados por outros países” no que se refere ao aborto, eutanásia ou casamentos de homossexuais; a “crise de afecto”; a “dificuldade das famílias cristãs na afirmação da sua fé diante de outras famílias e no meio em que se movem, com receio de serem hostilizadas e marcadas por preconceitos”; a “cultura de prolongamento do horário de trabalho” que retira tempo para a família; a “ausência de espaço para o diálogo e para o crescimento do amor familiar”; a existência de uma “organização social mais voltada para o indivíduo do que para a estrutura familiar”; a “ausência de transmissão dos valores cristãos no seio da família”, a “falta de cultura cívica”, o “sintetismo religioso” ou o relegar da fé para o domínio meramente privado, excluindo a participação na comunidade cristã”, entre outros. Conjuntamente a estes problemas, os conselheiros identificaram outros, quando analisada a mentalidade dominante relativamente a questões como a finalidade e função da família, o divórcio, o aborto, ou a infidelidade conjugal. Concluiu-se que em relação a estes aspectos existe igualmente associada a mentalidade do “facilitismo”, do “subjectivismo” e do “relativismo”. “Hoje, – pensa-se –, desde que a pessoa queira, tudo é possível”, lamentou-se, recordando-se a “dificuldade em interiorizar o estatuto, a finalidade, e a função da família”. Os conselheiros destacaram o “bom contributo” que a preparação para a celebração do Sacramento do Matrimónio tem oferecido, mas lamentou-se “a falta de uniformização de critérios relativamente à formação dos noivos”, dado que “uns párocos exigem-na e outros não”. Nestes aspectos como noutros, apurou-se que “os cristãos deixaram-se dominar pela mentalidade do mundo”, quase não se distinguindo dos não crentes. Tendo em conta as relações dos diferentes sujeitos familiares, os conselheiros sublinharam que existe hoje uma “maior proximidade entre pais e filhos”, mas também um “maior distanciamento dos familiares idosos com poucos recursos financeiros que muitas vezes são considerados um estorvo”. Ao “maior equilíbrio e partilha de serviços entre marido e mulher” contrapõe-se a “falta de um diálogo profundo e de humildade”, bem como um “maior individualismo” entre os membros do casal e uma “incapacidade de aceitar o sofrimento e o sacrifício”. “Por vezes, – disse-se –, há comunhão de habitação entre marido e mulher, mas não de rendimentos. Prevalecem ainda modelos de autonomia pessoal”. Foi ainda realçado o “abandono da responsabilidade de educar” por parte dos progenitores, procurando-se “transferir essa responsabilidade para o infantário e escola” ou, no caso da fé, para a catequese. Os avós foram considerados, de certa forma, como ainda o “garante da transmissão de valores”, particularmente do ponto de vista afectivo, realidade considerada “em risco com o aumento da idade da reforma”. Os conselheiros consideraram ainda que “deve haver papéis de género que decorrem da sensibilidade e que unem na complementaridade”, até porque a pretendida anulação dos géneros “não é ingénua”, dizem. “Vai partindo da divisão das tarefas para levar à justificação da formação de famílias homossexuais”, concretizam. Por fim, o CPDA constatou que embora exista “uma imensa multidão de baptizados afastados das práticas religiosas colectivas e individuais”, a fé e a prática religiosa ainda são, para muitas famílias, “mais conscientes que há alguns anos atrás”, o “sustentáculo da vida”. No entanto, segundo os membros daquele órgão consultivo, falta dos cristãos “o testemunho no mundo”. As propostas apresentadas No contexto das muitas propostas e sugestões apresentadas pelo CPDA, esteve sempre subjacente a ideia de que “o cristão deve assumir, sobretudo pelo testemunho, a coerência da fé que professa, procurando agir sobre a realidade à luz da Palavra de Deus”. A criação de “espaços para encontro, reflexão, partilha e oração” familiar foram dos aspectos mais sublinhados ao longo dos trabalhos, tendo como destinatários não só as famílias como também catequistas e outros agentes. Lugares que, sob a presidência do pároco, promovam o convívio entre os diversos membros da família e que aproximem gerações. Paralelamente a estes, também o “incentivo ao aprofundamento da Bíblia e da fé, à oração e partilha” particular de cada agregado familiar, através do “método da lectio divina” ou outro, ou pela “realização de Semanas Bíblicas”. “A criação e a inserção em associações ou delegações sócio-profissionais e obras nos diversos sectores da sociedade (saúde, política, advocacia, comunicação social)”, bem como o “aproveitamento das IPSS” da Igreja para a formação familiar, foram outras das sugestões deixadas, para além do “reforço particular da formação dos jovens”. Uma vez mais foi referida a importância da “valorização da pastoral sacramental e pós-sacramental” e da “maior uniformização dos critérios paroquiais em relação à formação dos noivos”, tornando “evidente a verdade do Sacramento do Matrimónio”, tendo sido vincadamente referenciada a importância do “acompanhamento dos casais jovens”. “Igreja deve dar a conhecer na formação de jovens e casais a pessoa de Jesus Cristo”, “promovendo a vida e a cultura do amor pelo testemunho”, “os valores e a afirmação clara do que é contra-valor, tornando o pecador como sujeito de caridade, salientado o valor curativo e reabilitador do amor de Deus”, foi dito. Os conselheiros sugeriram ainda a “criação de equipas de famílias cristãs, evangelizadoras e formadoras de outras famílias (escola de pais)” que ainda vêm ter com a Igreja a propósito da catequese ou de outros serviços e propuseram mesmo uma “clarificação da espiritualidade laical”. Foi igualmente muito salientado o “aproveitamento de oportunidades para evangelização” das famílias dentro da igreja, como os momentos festivos e celebrativos, mas também referida a importância do testemunho exterior para o mundo. Criação de um núcleo de famílias Também o padre Henrique Varela, assistente do Sector da Pastoral Familiar da diocese algarvia, – a quem coube a apresentação do tema da assembleia plenária do Conselho Pastoral da Diocese do Algarve “Família que temos hoje no Algarve e a sua vivência de fé” –, exortou à criação de um “núcleo de famílias”, na diocese e em cada paróquia, que seja testemunho de uma “novidade”: “o Evangelho da vida que se reflecte na vida familiar”, “um estilo novo de viver em família, na fidelidade, centrado no amor e no respeito entre marido, mulher, pais e filhos”. “Todo o nosso esforço deveria ir no sentido de sensibilizar as famílias que têm laços com a Igreja e que tiveram vontade de se constituir à sua volta, que sejam capazes de reconhecer o que é típico da família cristã e qual o testemunho que podem dar hoje na sociedade”, afirmou o sacerdote que de manhã apresentou procedimentos gerais sobre a pastoral da família, apoiados em alguns documentos do magistério da Igreja, desde o Papa João Paulo II.

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