A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), integrando-se nas celebrações do ano jubilar dos 50 anos da Conferência dos Religiosos (CNIR) e da Federação das Religiosas (FNIRF), publicou uma Nota Pastoral sobre as Ordens e as Congregações Religiosas em Portugal (NP). Os objectivos desta NP são enunciados claramente logo no início: dar a conhecer a Vida Religiosa (VR) às comunidades cristãs “para que tenham uma maior compreensão e apreço pela vida religiosa e se sintam estimuladas a colaborar na promoção das vocações de consagração” e ser “uma mensagem amiga, expressão de gratidão e de estima, dirigida a todos os religiosos e religiosas de Portugal, que queremos estimular sempre mais na sua fidelidade e na disponibilidade para com Deus e os irmãos” (nº 1). Estes dois objectivos inserem-se naquilo que a Vita Consacrata (VC) nº 48, apresenta como dever do Bispo em relação à Vida Consagrada: “acolham e estimem os carismas da vida consagrada, dando-lhes espaço nos planos da pastoral diocesana” e “acolhendo-a generosamente com acções de graças”. A NP refere-se nos nº 1 e 9 ao ano jubilar, congratulando-se com o passado e pedindo as bênçãos de Deus para o processo de criação de uma única Conferência de religiosos masculinos e femininos que permitirá uma “maior colaboração de ambos” (nº1) e a “mútua colaboração entre os religiosos e Bispos” (nº9). Os nº 2 e 7 apresentam a natureza teológica da VR: “homens e mulheres chamados por Deus e que respondem ao convite do seguimento radical de Jesus Cristo, os quais, professando publicamente os conselhos evangélicos, imitam a Sua vida, procuram viver em cada dia o espírito das bem-aventuranças, constituem comunidades fraternas, e testemunham, em ordem à construção plena do Reino, o absoluto de Deus e a transitoriedade das coisas criadas” (nº2). O seu “cariz evangelizador” não nasce tanto daquilo que fazem, mas do testemunho que dão como consagrados. Por isso, os religiosos, mais do que “substituir os leigos” devem “colaborar na sua formação e a estimulá-los, pelo testemunho da sua vida pessoal e comunitária, a prosseguirem nos caminhos da santidade, na disponibilidade para o serviço aos irmãos e na vivência comunitária” (nº 7). O nº 3 evoca o contributo histórico e o nº 4 o contributo actual da VR à Igreja Portuguesa. A lista é exaustiva e abrange os mais diversos campos de acção (cultura, arte, educação, saúde…) e de apos-tolado (missionário, paroquial, catequese, escolas, migrantes, mais pobres…). Há uma referência importante ao património cultural fruto desta acção e que nos Sec. XIX e XX foi espoliado, em grande parte, pelo Estado. O nº 5 é todo ele dedicado à vida contemplativa, “menos compreendida” e conhecida, mas que “constituem uma parte muito rica e enriquecedora da vida da Igreja em Portugal”, pelo seu testemunho “do absoluto de Deus”. O nº 6 é um importante número dedicado à pastoral vocacional. Reconhece-se que se “nota alguma crise em relação a novas vocações” e que, embora haja jovens generosos que se empenham no voluntariado solidário, “são ainda poucos os que abrem o coração aos apelos de Deus para irem mais além, quer na vida sacerdotal, quer na vida religiosa ou noutra forma de consagração”. Segundo a NP a pastoral vocacional deve partir duma pastoral juvenil evangelizadora que passe por “propostas directas de seguimento radical de Jesus Cristo aos que já as podem entender e convidá-los a responder com sinceridade e liberdade interior”. Uma verdadeira e eficaz pastoral vocacio-nal só acontecerá se toda a Igreja se empenhar na criação de uma cultura vocacional que nasça de “apreço pela vida sacerdotal e pela vida consagrada” e conduza à apresentação das diversas propostas vocacionais na Igreja. O nº 8, partindo de uma eclesiologia de comunhão, situa a VR na Igreja Diocesana. “A unidade efectiva e o mútuo afecto entre o Bispo e todos os consagrados da sua Diocese” deve tornar-se num “sinal visível” da comunhão eclesial e um forte apelo “à maior inserção de todos os religiosos e religiosas” na Igreja Diocesana. A VR acolheu com júbilo e gratidão esta NP dos nossos Bispos. Apesar da pouca divulgação que documentos desta natureza têm na Igreja e na sociedade portuguesa em geral, esta NP significou a expressão da solicitude pastoral dos Bispo de Portugal e um esforço meritório em dar a conhecer a VR e estimular a promoção das vocações de consagração junto das comunidades cristãs. No nº 7 da NP, os nossos Bispos manifestam-se “surpreendidos pela ignorância em relação à Vida Religiosa”. Esta surpresa tornou-se mais evidente após a conclusão do inquérito à população portuguesa pedido pela CNIR/FNIRF à Universidade Católica, em 2004. Dos inqueri-dos que responderam, 42% desconheciam a existência dos/as religiosos/as na Igreja! Perante este resultado, uns têm-se lamentado e culpabilizado por este facto, outros têm procurado “defender” a VR apresentando as muitas obras e serviços que os religiosos realizam. Pessoalmente, penso que as verdadeiras respostas a este inquérito passam por três vias: a informativa, a evangelizadora e a purificação libertadora. Ao primeiro grande desafio da informação sobre a VR, os nossos Bispos já tentaram responder e muito bem, por meio desta NP. O segundo grande desafio é o crescente deficit de evangelização do povo português. Embora 84% dos portugueses se digam católicos só cerca de metade destes são “católicos praticantes” o que me leva a concluir que estes 42% que disseram desconhecer os religiosos, desconheçam não só os religiosos mas também a fé em Jesus Cristo Vivo. E isso, deveria fazer surgir na VR e na Igreja em geral um verdadeiro movimento missionário preocupado com a sorte de um grande número de portugueses que desconhecem a riqueza libertadora de viver em Cristo. O terceiro desafio é-nos lançado pela Instrução “Partir de Cristo”. A VR deve aproveitar este momento para uma “purificação libertadora”: “Se, nalguns lugares, as pessoas consagradas se converteram num pequeno rebanho, devido à redução numérica, este facto pode ser lido como um sinal providencial que convida a recuperar a missão essencial de levedura, de fermento, de sinal e de profecia. Quanto maior se apresentar a massa a levedar, tanto mais rico em qualidade deverá ser o fermento evangélico, e tanto mais refinados o testemunho de vida e o serviço carismático das pessoas consagradas.” (Partir de Cristo 13). Pe. José Augusto Duarte Leitão, svd