Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação propôs, na conferência de encerramento, sociedades conjugadas no plural e mais fraternas
Lisboa, 15 out 2022 (Ecclesia) – O cardeal José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé), defendeu hoje a reconstrução do “pacto comunitário”, no pós-pandemia, propondo à sociedade o “horizonte da totalidade”.
“Precisamos de reabilitar o pacto comunitário, o pacto da fraternidade, e de estendê-lo universalmente”, disse o responsável português, na conferência conclusiva do Congresso Missionário 2022, que decorreu em Lisboa desde sexta-feira.
“As nossas sociedades precisam de aprender a conjugar-se mais no ‘nós’, na primeira pessoa do plural, envolvendo os cidadãos numa política da esperança de dimensões coletivas”, acrescentou, numa intervenção em vídeo, apresentada na Universidade Católica Portuguesa (UCP).
A conferência do cardeal madeirense teve como tema ‘A Fraternidade e a Reconstrução da Esperança’.
O colaborador do Papa começou por recordar que o termo pandemia, etimologicamente, remete para algo que diz respeito “a todo o povo”.
“O que está em causa não é apenas o destino individual, o naufrágio ou a salvaguarda de um país, de um continente, mas a globalidade do mundo e o destino da espécie humana”, precisou.
Falando de um mundo fragmentado em “lógicas de bloco”, D. José Tolentino Mendonça convidou a projetar uma ordem internacional “qualificada eticamente, como exercício de responsabilidade”, face à “normalização do egoísmo e da indiferença”.
A conferência aludiu à “grande batalha” entre exclusão e inclusão, convidando a “alargar” a ideia de “nós”, para construir “uma sociedade mais empática, mais humana”.
“Os recursos espirituais podem ajudar a viabilizar uma mudança de ótica”, sustentou o cardeal português.
O prefeito do Dicastério para a Cultura e Comunicação destacou a importância de aprender a viver com a vulnerabilidade e a fragilidade, que a Covid-19 expôs, a nível global.
“A vulnerabilidade é a nossa comum condição que, se escutarmos em profundidade, tem tanto a ensinar-nos”, declarou.
A intervenção abordou ainda a categoria de “amizade social” que o Papa colocou no centro da encíclica ‘Fratelli Tutti (2020), sublinhando que a globalização fez de todos “vizinhos”, embora “desagregados e vulneráveis”.
Para D. José Tolentino Mendonça, há falta de projetos que digam “respeito a todos”, pelo que é preciso procurar “novos paradigmas, novos modelos”.
“Esta hora precisa, com todas as suas dificuldades, os seus constrangimentos, é uma oportunidade para relançar a nossa aliança com a vida”, apontou.
As Congregações Missionárias, as Obras Missionárias Pontifícias – Portugal e a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) promoveram, desde sexta-feira, o congresso ‘Fraternidade sem fronteiras’, que decorreu no auditório Cardeal Medeiros, da UCP, em Lisboa.
Os trabalhos do Congresso Missionário 2022 partiram do documento de Abu Dhabi – a declaração centrada na fraternidade humana assinada pelo Papa Francisco e pelo grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, a 4 de fevereiro de 2019, nos Emirados Árabes Unidos.
Entre os oradores estiveram a reitora da UCP, Isabel Capeloa Gil, Guilherme de Oliveira Martins, D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e presidente da CEP, Diana de Vallescar Palanca, e o jesuíta Laurent Basanese.
O programa apresentou dois painéis, um dedicado às religiões monoteístas, com um representante do judaísmo, do islamismo e do cristianismo; e outro às “religiões místicas”, o hinduísmo, o budismo e o catolicismo.
OC