Congo: Pessoas «estão dispostas a dar a vida porque é uma situação insuportável»

Missionária portuguesa no país africano relata consequências de crise política e humana

Porto, 23 fev 2018 (Ecclesia) – A irmã Maria Celeste Rodrigues, missionária na República Democrática do Congo há 37 anos, afirma que a Jornada de oração e jejum pela Paz convocada pelo Papa Francisco vai ajudar a “alertar” para a realidade no país africano.

“Este tempo de oração, de mentalização, de pôr ocorrente este lado da Europa do que se passa lá é muito, muito, muito importante. Quer dizer que nos preocupamos com o bem-estar daquele povo que está a sofrer”, disse a religiosa Comboniana à Agência ECCLESIA.

A missionária portuguesa, na República Democrática do Congo há 37 anos, onde vive a cerca de 18 quilómetros da capital, refere que as pessoas “querem eleições e estão dispostas até a arriscar a vida”.

“O povo não vê o dia em que haverá novas eleições. A população vive com muita, muita paciência”, observa.

Neste contexto, a religiosa manifesta “admiração” pelos congoleses e sublinha que as pessoas “estão dispostas a dar a vida porque é uma situação insuportável”.

O mandato do presidente Joseph Kabila deveria ter terminado a 20 de dezembro de 2016, mas ainda não foram convocadas novas eleições; a Constituição proíbe que concorra a uma terceira eleição.

No dia 4 de fevereiro, o Papa Francisco convocou para hoje uma jornada mundial de oração e jejum pela paz, evocando em particular as vítimas dos conflitos na R. D. Congo e Sudão do Sul.

A irmã Maria Celeste Rodrigues recorda que as pessoas ficaram “contentes” com esta decisão do Papa, sinal de que “se preocupa com o bem-estar dos povos”.

A República Democrática do Congo tem estado no centro de vários apelos do pontífice, nas últimas semanas, após a repressão violenta de manifestações contra o presidente, proibições que a religiosa também testemunhou.

“Que Deus possa converter os corações endurecidos no Congo”, deseja a missionária Comboniana, como fruto da “boa iniciativa” do Papa Francisco.

A Igreja Católica no Congo tem procurado mediar a crise política e a irmã Maria Celeste Rodrigues realça que é “importante” que outras Igrejas também se juntaram porque há “necessidade” de se fazerem “sentir”.

Francisco já presidiu a uma oração pela paz no Sudão do Sul e na República Democrática do Congo, em 2017, no dia 23 de novembro, no Vaticano.

A irmã Maria Celeste Rodrigues, que está neste momento na cidade do Porto, em recuperação, espera regressar este ano ao Congo, com vontade de “dar alguns anos a África”

A religiosa que vai celebrar 72 anos no próximo dia 13 de junho, foi para a República Democrática do Congo em 1971 para trabalhar numa missão com os pigmeus, “uma tribo minoritária, ainda muito descriminada”.

Depois de quatro anos neste serviço, dedicou-se ao ensino de Religião e Moral nas escolas secundárias; os últimos quatro anos foram vividos perto de Kinshasa, a capital, onde estava a ter uma “experiência positiva” na casa de formação das Postulantes.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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