Irmã Irene Guia partilha a sua experiência junto das populações atingidas pelo confronto entre as forças governamentais e o movimento 23 de março
Lisboa, 24 dez 2012 (Ecclesia) – Para os 140 mil refugiados do Kivu do Norte, província situada na região leste do Congo, onde Governo e rebeldes lutam pelo controlo do país, celebrar o Natal significa reacender a esperança de um regresso a casa.
Para quem não aspira a nada mais do que o regresso à normalidade, o nascimento de Jesus retira as pessoas do “vazio” e devolve a “alegria” a quem colocou em Deus “a sua confiança” e que, pela fé, sabe que não será “defraudado”, sublinha a irmã Irene Guia, em declarações ao Programa ECCLESIA.
Numa entrevista que poderá ser acompanhada no domingo, a partir das 06h00, na Antena 1, a religiosa ligada à congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus partilha a sua experiência de Natal junto das populações atingidas pelo confronto entre as forças do presidente congolês Joseph Kabila e o “movimento 23 de março”.
Um conflito que tem como base a procura do controlo económico e comercial na região, sobretudo no que diz respeito à exploração dos lucrativos recursos mineiros existentes naquele território africano.
Depois da ocupação rebelde da cidade de Goma (capital do Kivu do Norte) a 20 de novembro, grande parte da população envolvente preferiu acorrer aos campos de refugiados improvisados e controlados pelo M23, para não ser apanhada no meio dos combates.
É neste ambiente que os cristãos locais vão viver a chegada de Cristo, uma conjuntura que, segundo a irmã Irene Guia, leva as pessoas a virarem-se para o “essencial”, a partilha da sua fé, através de uma “presença vivíssima” nas celebrações.
“As celebrações são, de facto, um momento concreto comunitário de estar com o Senhor, enormemente festivas”, descreve a religiosa.
Durante a sua colaboração enquanto voluntária com o Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, que remonta a 2006, guarda particularmente na memória os gestos comunitários durante a missa de Natal e a festa que se gerava a seguir.
Durante a eucaristia, o padre desafia as pessoas a lembrarem-se “daqueles que queriam estar ali mas que já não conseguem estar” e, de uma ponta a outra da igreja improvisada, os nomes começam a surgir.
No fim da celebração, “como as pessoas voltam outra vez na escuridão para as suas tendas, fica sempre o gerador mais algum tempo com a luz, para que as pessoas possam ficar a dançar e a cantar cânticos de natal nas suas línguas”, destaca.
Neste cenário “frágil”, marcado pela “insegurança a todos os níveis, não só física mas de possibilidade de sobreviver”, aponta a irmã portuguesa, a quadra natalícia, o nascimento de Jesus e a presença de Deus no mundo são algo de “muito real” na vida das pessoas e levam-nas a colocar de lado as suas máscaras e barreiras.
Quando a irmã Irene Guia estava no Ruanda, a prestar serviço num campo de refugiados, “a maior parte” da comunidade “era adventista”, não tinha a celebração do Natal.
No entanto, eles pediram para rezar e celebrar com os católicos, que os acolheram. “Se isto não era o príncipe da paz, então era quem?”, salienta a serva do Sagrado Coração de Jesus.
A vivência do Natal na unidade de medicina e gastroenterologia do Hospital Pulido Valente, em Lisboa, junto das populações apoiadas pela Comunidade Vida e Paz e nos mosteiros das irmãs clarissas são outros testemunhos que poderão ser seguidos na emissão dominical do Programa ECCLESIA.
PRE/JCP