Relato do padre José Arieira horas antes de ataques a aldeias no Kivu Norte
Kinshasa, 03 Nov 2020 (ECCLESIA) – O padre Comboniano, José Arieira de Carvalho, a viver há mais de uma década na República Democrática do Congo, enviou uma mensagem para a Fundação AIS em Lisboa em que denuncia “a situação sociopolítica desastrosa” em que se encontra este país africano.
Na mensagem, o Padre Arieira descreve uma situação de crise, com “grupos rebeldes no nordeste do Congo e também noutros pontos do país, com pilhagens, mortes, pessoas que abandonam as suas aldeias e estradas principais que ligam províncias intransitáveis”, refere uma nota enviada à Agência ECCLESIA
Horas depois de ter enviado este alerta, a aldeia de Lisasa, na região de Beni, província do Kivu Norte, era palco de um ataque violento atribuído a grupos armados que atuam na região com relativa impunidade.
O ataque, na sexta-feira, 30 de outubro, causou pelo menos 21 mortos, entre os quais o catequista Richard Kisusi, além de que várias pessoas terão sido sequestradas.
Há relatos de que uma igreja católica foi também profanada, várias casas incendiadas e um posto de saúde saqueado.
O Bispo de Butembo-Beni, D. Sikuli Paluku exortou as forças das Nações Unidas presentes na região para “protegerem a população civil” dos ataques dos grupos armados
Para o padre Gaspare Di Vincenzo, da comunidade comboniana do Butembo, é “um absurdo que estes massacres continuem a ocorrer no Kivu Norte na mais completa indiferença da comunidade internacional”.
A extrema riqueza do subsolo da República Democrática do Congo fez com que certas regiões do país sejam palco de conflitos por parte de grupos armados que arrastam consigo ainda mais miséria e sofrimento para as populações.
Têm sido muitas as vozes da Igreja a falar no caos em que se encontra este país africano.
No ano passado, por altura da Quaresma, o Arcebispo de Kinshasa, D. Fridolin Ambongo, participou numa iniciativa da Fundação AIS de França denominada “Noite das Testemunhas”.
Nessa iniciativa da Fundação AIS, o Arcebispo de Kinshasa disse que “já correu muito sangue no Congo” e lembrou “histórias de jovens mortos diante das igrejas, única e simplesmente porque em nome da sua fé exigiam o direito de viver como seres humanos, de viver como Deus quer”, e pediu a solidariedade para com o seu povo.
LFS